A tensão de um bom filme de terror está relacionada com o quanto ele mostra, deixa subentendido ou esconde completamente. A música, claro, tem a importante função de criar expectativas e garantir alguns sustos a mais. Já a iluminação serve para acentuar o clima de mistério e ajudar nesse jogo de sombras e aparições.
Sinister, que tem um ótimo título para o gênero, conta a história de um escritor, Ellison Oswalt (Ethan Hawke). No início da carreira, ele teve bastante sucesso com uma obra sobre um crime real e, desde então, é um pouco obcecado em repetir o feito e descobrir mais do que a polícia – ainda que suas duas últimas obras tenham sido fracassos.
Assim, toda a família se muda para uma casa onde recentemente uma garotinha chamada Stephanie (Victoria Leigh) desapareceu e sua família foi encontrada enforcada. A mudança não agrada nem um pouco a sua mulher, Tracy (Juliet Rylance), nem a seus filhos, Trevor (Michael Hall D'Addario) e Ashley (Clare Foley), embora traga um pouco mais de emoção para um policial local que é seu fã (James Ransone).
Obviamente, as coisas não demoram a ficar estranhas e a mania do protagonista em trabalhar de noite e simplesmente não acender a luz do corredor ou instalar uma lâmpada no sótão cria um clima bem interessante. Como sempre, os personagens de filmes de terror não têm as reações das pessoas normais e partem sempre em uma linha reta para situações ainda mais tenebrosos.
Ethan Hawke faz um bom trabalho tendo uma câmera próxima a seu rosto durante boa parte do filme. Ele convence como profissional frustrado, como pai carinhoso e como um homem obcecado pelo trabalho. Depois de um tempo afastado das telas, esse retorno chama menos a atenção do que ele merecia, mas é digno. Ao mesmo tempo em que a trama se desenvolve ao redor de seu personagem, os coadjuvantes trabalham para mostrar o quanto as percepções dele podem não ser confiáveis.
Dessa forma, o mistério que envolve as mortes aos poucos vai crescendo e essa ascensão é muito bem construída pelo diretor e roteirista Scott Derrickson. Ele é bastante criativo em mostrar coisas horríveis sem ser explícito, evitando que pessoas passem mal enquanto assistem ao filme (mesmo assim, há cenas fortes o suficiente). Reflexos nos óculos do personagem, barulhos e uma trilha sonora relativamente ousada garantem que o filme tenha algum diferencial.
Como é comum no gênero, infelizmente a qualidade do suspense cai um pouco quando as coisas começam a se resolver. Sinister acaba apelando para sustos fáceis e crianças horripilantes, mas ainda mantém um pouco da linha e consegue se salvar de modo geral, ainda que a virada no roteiro seja um pouco óbvia e decepcionante.
Ou seja, embora não traga nada de novo, o filme segue as fórmulas certas e consegue um bom resultado. Para os grandes fãs do gênero, talvez Sinister seja apenas um bom passatempo. Já os que ainda são espectadores ocasionais podem levar mais sustos e devem aproveitar mais. Recomendo principalmente para os impressionáveis que desejam uma noite sem dormir ou repleta de pesadelos com criaturas sinistras.
Em tempo: vejam o filme e me contem se a risada de arrepiar que ouvi ao final veio da projeção ou se foi algum engraçadinho na sala de cinema. De qualquer modo, ela garantiu um toque especial.
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