Divagações: Ma Rainey's Black Bottom

Denzel Washington , um dos produtores de Ma Rainey's Black Bottom , tem um plano: ele quer levar adaptações de todas as peças de August ...

Ma Raine's Black Bottom
Denzel Washington, um dos produtores de Ma Rainey's Black Bottom, tem um plano: ele quer levar adaptações de todas as peças de August Wilson – o “poeta do teatro da América Negra” – para o cinema ou para a televisão. Esta é a segunda destas adaptações, dando sequência a Fences, lançado três anos antes. E que venham as próximas oito!

Ma Rainey's Black Bottom conta a história de uma sessão de gravação. Ma Rainey (Viola Davis), uma das primeiras cantoras profissionais de blues, está em Chicago para produzir um disco. Suando aos borbotões, ela se comporta como uma diva, é cheia de exigências e demanda que tudo seja feito conforme a sua vontade, o que inclui muitas garrafas de Coca-Cola e a participação de seu sobrinho (Dusan Brown) no álbum, mesmo ele sendo gago.

Ao mesmo tempo, a banda de acompanhamento está em crise. Levee (Chadwick Boseman) é um trompetista habilidoso, que está escrevendo músicas a pedido do dono da gravadora e até fez um arranjo próprio da principal canção de Ma, Black Bottom. Sua ambição e seu jeito intrometido levam a atritos com o líder da banda, Cutler (Colman Domingo), que está mais ciente sobre como as coisas funcionam. E o pianista do grupo, Toledo (Glynn Turman), fica frequentemente no meio do caminho entre os dois.

Ao longo de um dia muito quente, tanto Ma Rainey quanto Levee vivenciam diversas explosões de temperamento. Embora frequentemente discordem um do outro e usem estratégias diferentes para encarar as coisas, ambos estão lidando com problemas bastante similares: estão tentando vencer e se fazer respeitar em um mundo dominado por pessoas brancas.

Para contar essa história, o diretor George C. Wolfe não se esforçou muito para disfarçar que se trata da adaptação de um texto teatral. Os cenários são bastante limitados e o foco está totalmente centrado nos personagens. Durante boa parte do tempo, a câmera está próxima de quem fala – não incomodamente perto, mas o suficiente para que não haja mais nada capaz de desviar a atenção do espectador.

Dito isso, é até um alívio que o filme seja curto. Com 1h34 de duração, Ma Rainey's Black Bottom tem uma temática pesada e coloca você frente a frente com pessoas que estão frequentemente gritando e exacerbando seus sofrimentos. O personagem de Chadwick Boseman, em particular, é bastante volátil e suas reações são sempre imprevisíveis ou exageradas.

Mas não me entendam mal. O filme faz um uso brilhante destes dois personagens extremamente emotivos para passar sua mensagem. Não há respostas fáceis, não há caminhos sem dor, não há escolhas erradas quando o caminho certo não está claro. Tanto Ma Rainey quanto Levee podem parecer pessoas horríveis sob certos ângulos. Por outros, eles são sobreviventes.

Mesmo que esteja cotado para o Oscar, é provável que Ma Rainey's Black Bottom acabe não levando nenhuma estatueta para casa. Enquanto filme, ele pode ser chato, monotônico, exagerado. Ainda assim, ele é o veículo ideal para excelentes atuações, trazendo personagens complexos e diversificados, que acrescentam muito quando comparados às tipificações habituais que Hollywood costuma entregar.

E a música? Ela é maravilhosa, especialmente quando contrastada na cena final.

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