Divagações: The Matrix Resurrections

Eu não gosto muito de escrever resenhas “na empolgação”. Não sei se você também se sente assim, mas, logo que saio da sala de cinema, um fil...

The Matrix Resurrections
Eu não gosto muito de escrever resenhas “na empolgação”. Não sei se você também se sente assim, mas, logo que saio da sala de cinema, um filme cheio de ação e/ou que mexe comigo de alguma maneira tende a parecer ótimo. Um tempo depois (o que pode demorar alguns dias), no entanto, eu começo a repensar o que vi na tela e chego a ficar em dúvida. Demora um pouco para as coisas se assentarem dentro de mim e a opinião estar consolidada.

Entretanto, vi The Matrix Resurrections hoje de manhã e, em breve, o filme já estará disponível em todo o mundo: não há tempo para entender o que se passou. Inclusive, assim que saí da exibição, meu irmão e companheiro de “Matrixes” anteriores – quase como que um adivinho – ligou e perguntou como foi. Minha resposta, ainda que talvez um pouco hesitante, foi algo na linha de “gostei, muito bom, vale a pena”.

De qualquer modo, considerando que já se passaram 22 anos da estreia de The Matrix e que a trilogia havia se encerrado em 2003, a diretora e roteirista Lana Wachowski teve bastante tempo para pensar em sua obra e seu legado. Enquanto o primeiro filme trazia uma enorme quantidade de boas ideias e criava algo fantástico, suas sequências desapontaram ao não conseguirem manter o ritmo. The Matrix Resurrections, por sua vez, volta àquele universo e àqueles personagens (alguns deles, pelo menos) sem medo de ser diferente e de mudar um pouco o andamento das coisas.

Agora, Thomas Anderson (Keanu Reeves) é um designer de jogos bem-sucedido, mas assombrado pela própria criação. Sua mente insiste em misturar os acontecimentos de sua trilogia de games Matrix com a sua própria vida, o que o mantém obcecado com sua criação mais brilhante. Entre reuniões com seu sócio (Jonathan Groff), idas ao analista (Neil Patrick Harris) e cafés com um colega (Andrew Caldwell), ele observa de longe a vida de Tiffany (Carrie-Anne Moss), mas não faz nada para se aproximar.

Tudo muda, no entanto, quando Bugs (Jessica Henwick) e sua tripulação encontram uma estranha versão de um agente (Yahya Abdul-Mateen II) que está preso em um “modal” (o que quer que isso seja) e tem consciência da Matrix. A descoberta, de alguma maneira, implica que Neo está vivo e eles decidem o libertar mais uma vez – obviamente, haverá resistência.

Como esta minha tentativa de sinopse tenta não entregar algo que seja particularmente surpreendente ou algum “segredo” da produção, ela também deixa muitos buracos e não oferece muitas explicações. O filme faz um esforço considerável para responder às principais questões que tenham ficado no ar e para resolver tanto seus conflitos quanto sua principal razão de ser. Tudo isso enquanto faz piada sobre si mesmo e entrega um novo comentário social.

A verdade é que The Matrix Resurrections não precisava existir e o próprio longa-metragem parece saber disso, sendo consequentemente mais leve, mais divertido, mais relaxado. Além disso, ele funciona como uma história independente e tenta não interferir com a “mitologia” já estabelecida. Para quem espera por uma revolução, ele talvez seja decepcionante. Para quem quer apenas mergulhar na nostalgia, ele funciona bem, mas não tanto quanto poderia. Em resumo, ele é algo diferente – talvez não tão empolgante quanto seus antecessores, talvez mais, a depender de como você vai lidar com o que é mostrado.

Sob certos aspectos, este é um filme sobre o amor, mas não se trata de um romance. Também não estamos falando de um amor comum, mas de algo que transcende as barreiras da existência e é capaz de mover montanhas (nesse caso, até literalmente). Ao mesmo tempo, The Matrix Resurrections é um filme de ação que tem algo político-filosófico a dizer (como sempre) e que aposta em um visual muito legal para embalar tudo isso. Ou seja, é diferente, mas ainda é Matrix.

P.S.: Caso queiram conversar comigo sobre o filme e obter algo menos vago, podem me chamar depois do Natal.

P.P.S.: Simulatte é um nome nada discreto (porém brilhante) para a cafeteria do filme.

Outras divagações:
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