Divagações: High Noon
28.9.10Não faz nem uma semana que High Noon apareceu no Cinema de Novo pela primeira vez (na lista sobre como se tornar um especialista em western vendo apenas dez filmes básicos). Confesso que quando vi aquele nome encabeçando a relação – mesmo considerando a organização por ordem cronológica – não pude deixar de sentir uma simpatia bem forte, afinal, fazia pouco tempo que eu mesma havia finalmente visto essa obra lançada em 1952.
High Noon, como tantos outros filmes da época, conta uma história bastante simples, algo que não funcionaria em nosso cinema atual, cheio de correrias, reviravoltas, trapaças, mal entendidos, efeitos especiais etc.. Mesmo assim – e, talvez, por causa disso – o filme possui um charme próprio, retratando um tipo de homem que deveria ser mais comum do que efetivamente é, valorizando a coragem e a lealdade acima de todas as coisas. Ou seja, trata-se de um filme com o mocinho perfeito, mas que atira. Afinal, no velho oeste, o politicamente correto ainda não estava na moda.
Gary Cooper (um charme) interpreta o xerife Will Kane, protagonista da história. Quando o filme começa, o vemos casando com uma bela mulher, que se torna a senhora Amy Fowler Kane (Grace Kelly, linda e competente). A cerimônia é bastante simples e acontece dentro de casa, pois a noiva não é católica. Kane, no entanto, não se importa em casar apenas no civil e ter que abandonar sua cidade e seu emprego de xerife por causa dela.
Essa determinação é testada logo em seguida, quando três conhecidos bandidos da região entram na cidade e se dirigem à estação ferroviária, perguntando pelo trem do meio-dia. Fica imediatamente claro para todos os habitantes do vilarejo o que eles pretendem: esperar por Frank Miller (Ian MacDonald), um condenado que acabou de ser liberto e que prometeu vingança contra o xerife que o capturou. Assim, Kane precisa fugir da cidade, como sugerem seus amigos. Ele, no entanto, prefere ficar e proteger o lugar até a chegada do novo xerife, prevista para o dia seguinte. O problema é como os cidadãos (e sua esposa) reagem a essa decisão. Junte a isso, uma mulher misteriosa chamada Helen Ramírez (Katy Jurado) e um assistente rebelde (Lloyd Bridges).
Mesmo com um certo número de personagens, High Noon é um filme de um homem só. Will Kane é quem decide enfrentar o destino, tomando suas próprias decisões e contrariando amigos, colegas e a mulher que ama. É ele quem faz essa história merecer ser contada, com toda a sua coragem, todo o seu medo, todo o seu senso de dever e – porque não dizer – com toda a sua ternura. É um homem durão, mas capaz de amar e é por amor à sua profissão que ele enfrenta não apenas os bandidos, mas a todos, rumo a um destino incerto que implica em matar ou morrer.
É também por causa dele que o filme merece estar naquela lista da Empire que foi divulgada aqui no blog. Esse é o comportado esperado de um digno homem da lei do oeste americano. Em uma terra onde até as mulheres precisam ser duronas para sobreviver e o apoio da religião pode falhar, é preciso ter por perto gente como Will Kane. Na verdade, até por aqui está em falta...
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