Divagações: Rebecca (1940)

Desde que eu me conheço por gente, minha vó conta a história de como leu certo livro e depois foi ver o filme no cinema. E como o filme era ...

Desde que eu me conheço por gente, minha vó conta a história de como leu certo livro e depois foi ver o filme no cinema. E como o filme era igualzinho ao livro. Ela é uma grande apaixonada pela história contada em Rebecca e já havia me contado alguns detalhes. Assim, resolvi ver esse filme na companhia de uma de suas maiores fãs. Fiz uma surpresa para ela, o que foi uma escolha bem acertada. Acho que nunca tinha visto minha vó demonstrar uma alegria típica de criança que acabou de receber o presente que tanto queria das mãos do Papai Noel. Se algum de vocês tiver a oportunidade de fazer algo assim por seus avós ou por seus pais, eu recomendo.

Mas não foi só ela quem se surpreendeu. Eu adorei ver Rebecca. Não é todo dia que você assiste a um filme com um personagem tão presente, mas que nem ao menos aparece. Nem em fotos, nem em flashbacks. Rebecca é apenas suas iniciais gravadas em um guardanapo ou em uma agenda. Sua presença é sentida no vento que mexe a cortina de seu antigo quarto, desocupado há tanto tempo... É uma lembrança que resiste em deixar aqueles que a conheceram.

A protagonista do filme, na verdade, se chama... Bem, ela não tem um nome. Joan Fontaine interpreta a segunda mulher de Maxim de Winter (Laurence Olivier), viúvo de Rebecca. Ela é uma jovem alegre e de origem humilde que adora o homem com quem se casou. Além de ter o imenso desafio de ter que se acostumar com um estilo de vida mais aristocrático, ela ainda tem que enfrentar a presença da falecida – no que é sempre relembrada pela governanta Mrs. Danvers (Judith Anderson). O senhor De Winter, por sua vez, parece estranhamente perturbado e alheio ao que acontece com sua nova mulher.

O filme começa como um suspense e aos poucos vai se tornando um suspense cheio de tensão vinda de lugares inesperados. Um aspecto interessante do filme é justamente o fato de que ninguém realmente sabe o que vai acontecer, já que a grande musa inspiradora de todos os conflitos já morreu.

Não vou contar muito mais da história para não estragar. A verdade é que, mesmo tendo ouvido tantas menções ao filme durante tantos anos, eu assisti a algo diferente do que poderia imaginar e com um bom final – algo que sempre é difícil de encontrar.

Além disso, o filme é um primor (vocabulário de vó) tanto quando se trata do elenco quanto tecnicamente. Alfred Hitchcock (sim, ele ataca novamente) é um diretor cuidadoso que sabe explorar muito bem os espaços. A mansão onde a história se passa (e o antigo quarto de Rebecca) fazem Joan Fontaine parecer ainda menor, mais oprimida e terrivelmente insignificante. Não é a toa que os personagens precisam sair daquele ambiente – dominado pela presença de Rebecca – para que aconteça a verdadeira reviravolta da história.

Ao final, o pensamento que me vem à mente é que Rebecca deveria realmente ser uma mulher fascinante. Quem mais é capaz de causar tamanha atração sem nem ao menos aparecer no filme? Duvido que qualquer diretor moderno possa contar essa história com a mesma destreza de Hitchcock (se bem que ele apareceu um pouquinho).

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2 recados

  1. Seu blog é, além de inteligente e seletivo, um espaço interessante para nós, cinéfilos! parabéns pelo blog, pela escrita também, sou novo seguidor e linkei ao meu espaço.

    Voltarei! abraço

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  2. Agradeço muito o carinho, Cristiano!

    O seu blog também é muito interessante, parabéns!

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