Divagações: Ballet Shoes
22.12.11
Embora
isso não seja comum no Brasil, nos Estados Unidos e no Reino Unido se produzem
muitos filmes diretamente para a televisão. Eles dificilmente saem do país,
exceto quando há alguma boa razão para explorá-los comercialmente. No caso de Ballet Shoes, realizado pela British Broadcasting Corporation (BBC), o motivo é a
presença da atriz Emma Watson, mais conhecida por interpretar Hermione Granger
nos filmes da série Harry Potter.
O
filme começa com a chegada da jovem órfã Sylvia Brown (Skye Bennett e Emilia Fox)
à casa de seu tio avô (Richard Griffiths). Embora o velho aventureiro e
colecionador de artefatos arqueológicos inicialmente não queira abrigar a
menina, ele é convencido pela babá Nana (Victoria Wood). À medida que o tempo
passa, parece que ele começa a gostar de ter crianças em casa, de modo que começa
a trazer bebês para casa. A primeira menina, Pauline (Emma Watson), é resgatada de um
afundamento. A segunda, Petrova (Yasmin Paige), foi adotada na Rússia após a morte
de seus pais. Já a terceira, Posy (Lucy Boynton), foi abandonada pela mãe, uma
bailarina que deixou de herança um par de sapatilhas, responsáveis pelo título do filme. Sem sobrenome próprio, as
três se tornaram as irmãs Fossil.
No entanto, algum tempo
depois, o mantenedor da família desapareceu e Sylvia começou a ter dificuldade
para cuidar das meninas e da casa. A solução foi alugar os quartos e, por
vontade própria, cada hóspede começou a tomar para si um aspecto da educação
das irmãs. Extremamente unidas, as três elaboraram um pacto – renovado anualmente
– de colocar o sobrenome Fossil nos livros de história. Afinal, essa seria uma
conquista exclusiva delas, já que o nome é único.
Assim, além de ser uma
história sobre as dificuldades de ser pobre e a importância de sonhar, Ballet Shoes acaba se tornando um filme sobre a ambição, no que ela tem de bom e de
ruim. No final das contas, as três irmãs têm seus defeitos, mas é o ideal em
comum que as mantêm com algum pé no chão (e algum valor moral na cabeça).
Ballet Shoes, entretanto, não esconde suas origens. São perceptíveis certas
características de produção mais barata, como o ritmo mais rápido e a economia
em mostrar certos detalhes. Os cenários não são bem explorados e vários
aspectos técnicos deixam a desejar. O roteiro, por exemplo, peca na forma como
trata o amadurecimento das meninas, transformando a transição entre crianças e
mulheres em uma adolescência chata, principalmente no caso de Pauline. Esse
aspecto é importante especialmente por ser o grande tema da obra original, o
livro escrito por Noel Streatfeild em 1936.
Ainda
assim, é bom perceber que existe um espaço para que uma história como essa seja
contada com bons atores, mesmo que os grandes estúdios cinematográficos não tenham
interesse. Filmes como esse também abrigam diversos futuros talentos, como Yasmin Paige,
que já partiu para a telona com o filme independente Submarine.
Seria ótimo se a televisão brasileira servisse como base para o cinema, com produções
de narrativa similar e apreço.
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