Divagações: Suburbicon

George Clooney é um bom ator. Ele conquistou seu espaço trabalhando, mas também sendo bonito, charmoso, inteligente e fazendo muitas amiz...

George Clooney é um bom ator. Ele conquistou seu espaço trabalhando, mas também sendo bonito, charmoso, inteligente e fazendo muitas amizades. Como diretor, ele se dá ao luxo de contar a história que tem vontade, da forma como acha que é melhor. Para isso, ele conta com as amizades, o nome famoso, as estatuetas do Oscar na estante e um bom tino para fazer cinema. É o melhor diretor do mundo? Não. Acerta sempre? Também não. Mas ele consegue ser autoral e entregar produções com qualidade visual e bom conteúdo, daqueles que agradam ao cérebro de quem é gente grande.

Em Suburbicon, por exemplo, temos uma boa ideia sendo executada de um jeito cheio de estilo e que levanta inúmeras discussões paralelas, capazes de render horas de conversa com os seus amigos. Ao mesmo tempo, esse também não é o filme mais profundo do mundo e a trama principal acaba perdendo graça frente ao que está acontecendo na casa ao lado, ou vice-versa.

A história se passa nos anos 1950, em uma cidade nos Estados Unidos que traduz o ‘american dream’, com cerquinhas brancas, gramados verdes, famílias formadas por um casal heterossexual e seus filhos, e uma população totalmente branca. As coisas começam a complicar com a chegada da primeira família negra, que inadvertidamente ‘provoca’ um verdadeiro levante.

Mas não é exatamente para isso que estamos olhando. Suburbicon se concentra nos vizinhos dessa família, que, aliás, não parecem se importar muito que o menino da casa (Noah Jupe) brinque com um amiguinho ‘de cor’ (Tony Espinosa). Afinal, o pai do comercial de margarina, Gardner (Matt Damon), está envolvido com alguma coisa perigosa e a casa deles é invadida, resultando no assassinato de sua esposa (Julianne Moore).

O luto, contudo, não é tranquilo – mesmo com a insistente presença da cunhada (também interpretada por Moore). Há algo estranho no ar e o investigador da companhia de seguros, Bud Cooper (Oscar Isaac), consegue sentir o cheiro com facilidade. Isso, obviamente, apenas amplia a confusão.

O detalhe é que Suburbicon traz um contexto com ares realistas – as entrevistas dos moradores indignados são reais e toda a história ecoa ao que aconteceu em Levittown – misturado aos personagens absurdos e o humor atravessado escritos dos irmãos Joel e Ethan Coen (o roteiro final é baseado em um texto antigo deles). É uma produção que está com raiva do próprio mundo que a originou, mas que não sabe se desvencilhar dele direito e acaba tão atrapalhada quanto seu protagonista (e nós somos o menino perdido no meio da bagunça). Poderia dar certo e ser absolutamente brilhante, só que não foi dessa vez.

O resultado é, sem dúvida, irregular, mas há algo de certo nisso. Afinal, ao criar um paralelo forçado entre duas histórias que não estão seguindo o mesmo ritmo, o longa-metragem torna o descompasso óbvio e faz com que tudo o que há de errado pareça proposital. Se ficou bom ou não, suponho que isso varie de pessoa para pessoa, mas o efeito narrativo é interessante e gera um desconforto que combina bem com a mensagem que o filme quer passar.

Ou seja, Suburbicon é um filme que parece ser agradável visualmente, mas que se incomoda que você ache isso. Ele mistura coisas que não combinam e perde algumas boas ideias no processo, além de não conseguir fazer o público nem rir, nem chorar e nem se indignar (com a história, pois é bem possível com o filme em si).

Mas valeu a tentativa: a intenção está bem clara, é sempre bom ver Julianne Moore e Oscar Isaac – às vezes é bom ver Matt Damon também –, o design de produção de Jim Bissell é super caprichado e a trilha sonora de Alexandre Desplat é maravilhosa.

Outras divagações:
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