Acho bastante interessante quando alguém recomenda um filme para mim com base em “assisti e achei a sua cara”. Normalmente, eu não entendendo muito bem como a pessoa em questão percebe “a minha cara”, mas com The Guernsey Literary and Potato Peel Pie Society a relação era bem óbvia. Um filme passado na Inglaterra – ou quase isso, já que se trata de um território entre a Inglaterra e a França – e que envolve uma aspirante a escritora e um clube do livro. Em resumo, acho que eu poderia ser a protagonista (não exatamente, mas tudo bem).

A história acontece poucos anos após a 2ª Guerra Mundial. Juliet Ashton (Lily James) é uma autora com dois livros publicados. Um, em seu próprio nome, é um projeto pessoal que vendeu pouquíssimas cópias. Outro, com um pseudônimo e recheado de histórias cômicas curiosas, é um sucesso estrondoso. Com a repercussão, ela poderia viver uma vida confortável em Londres, algo que seu melhor amigo e editor (Matthew Goode) faz questão de enfatizar. Mas também não é como se ela não estivesse aproveitando, já que vai a diversas festas com seu noivo (Glen Powell), um oficial norte-americano.

A vida da jovem escritora, entretanto, sofre uma reviravolta quando ela recebe uma carta de Dawsey Adams (Michiel Huisman), um morador de Guernsey – uma ilha no Canal da Mancha, que foi ocupada por alemães durante a guerra – que participa de um clube do livro. Ele conseguiu seu endereço por meio de uma obra usada e manda uma carta solicitando por endereços de livrarias em Londres. Os dois começam a trocar correspondências e não demora para que Juliet queira conhecer pessoalmente os membros do clube. Porém, ela é recebida com alguma resistência e logo descobre que há algo de misterioso em relação ao desaparecimento da fundadora do grupo, Elizabeth McKenna (Jessica Brown Findlay).

Um longa-metragem sobre descobrimento pessoal com uma pitada de romance, The Guernsey Literary and Potato Peel Pie Society tem um desenrolar bastante óbvio. Assim, a questão não é exatamente o que vai acontecer em seguida, mas como. Para isso, o filme se aproveita de um belo conjunto de coadjuvantes, formado pelas personalidades diversas dos membros do clube. Há um simpático senhor de idade, que também é o inventor da tal torta de casca de batata (Tom Courtenay); um menino que é o ajudante desse senhor (Kit Connor); uma senhora cheia de ressentimentos em relação a escolhas passadas (Penelope Wilton); e uma mulher que vive sozinha, tirando seu sustento de bebidas alcoólicas artesanais (Katherine Parkinson).

São as histórias dessas pessoas que fascinam Juliet e que fazem com que ela tenha vontade de escrever novamente. Ainda que ela também venha com sua própria bagagem emocional, é a trajetória alheia o que realmente interessa dessa vez. Mas isso também é uma pena, pois o filme se dedica bastante a acompanhar as investigações da protagonista e sua busca por respostas – tanto em relação a Elizabeth quanto a si mesma. O resultado, dessa forma, acaba sendo uma produção mais água com açúcar, sem grandes tensões reais. Tem seus méritos e consegue entreter, mas não é verdadeiramente interessante.

Ao mesmo tempo, The Guernsey Literary and Potato Peel Pie Society é exatamente o que eu poderia esperar de um filme de Mike Newell com essa sinopse. O diretor, que nunca nega suas origens britânicas e sabe as explorar muito bem, gosta de contar uma história nos detalhes, trabalhando dentro de um gênero e com subversões muito sutis – suficientes apenas para dar um gostinho diverso. Ele também tem uma habilidade especial para trazer para a tela personalidades excêntricas, mostrando que elas também têm um coração.

Dessa forma, o que temos é um filme confortável. Ele é capaz de aquecer corações que o assistem do sofá de casa, mas não foi exatamente feito para inspirar mentes ou levantar ânimos.

Outras divagações:
Harry Potter and the Goblet of Fire