Divagações: Harry Potter and the Goblet of Fire
12.11.10A melhor parte de escrever resenhas de filmes que você já viu é redescobrir certas cenas e perceber como as suas lembranças distorcem um pouco as coisas. Harry Potter and the Goblet of Fire nunca foi exatamente o meu favorito da série e, provavelmente, é o que eu menos revi. Acho que agora consigo ver melhor seus defeitos, mas também suas qualidades.
Nesse filme há uma nova mudança de direção. Depois de Alfonso Cuarón, Mike Newell. Mais conhecido pela comédia Four Weddings and a Funeral, o diretor andava meio sumido e trabalhando pouco – não que a situação tenha mudado muito. Como o primeiro inglês a comandar na série, havia uma certa espectativa sobre o que ele traria de novo, afinal, um diretor mexicano fez bastante diferença quando comparado a um americano. No entanto, o produto final é uma “mistura saudável” entre a ousadia de Cuarón e a fórmula pronta de Chris Columbus, o diretor dos dois primeiros filmes.
Explicando “mistura saudável”. Como disse na última divagação (para ler, clique aqui), Harry Potter and the Prisoner of Azkaban trouxe uma nova visão para a série. Que tal se, ao invés de adaptar o livro para as telas da maneira mais fiel possível, fizéssemos um filme interessante por si só? O problema é que a palavra “interessante” pode ser meio arriscada, dividir opiniões etc.. Ao mesmo tempo, é praticamente impossível adaptar um livro do tamanho de Harry Potter and the Goblet of Fire sem fazer alterações razoáveis. Assim, ao mesmo tempo em que tentou adaptar fielmente o máximo possível, o filme trouxe mudanças consideráveis que até incomodaram alguns fãs mais radicais, como o corte do personagem Ludo Bagman, por exemplo. Aqueles que não leram o livro ou não se importam tanto assim com a fidedignidade, no entanto, são perfeitamente capazes de se divertir.
Diversão, aliás, é a palavra-chave, afinal, está acontecendo um torneio tribruxo em Hogwarts! Na história, duas outras escolas de magia da Europa trazem seus alunos para que seja escolhido um representante de cada uma. Os três competem em três provas realizadas durante o ano onde terão suas habilidades mágicas e sua coragem testadas. A única pessoa que não entra muito na empolgação é Harry Potter (Daniel Radcliffe). Embora ele não possa se inscrever devido a limitações etárias, seu nome aparece como um quarto campeão. Além de ter de participar das provas e ganhar muita publicidade indesejada, Potter ainda tem que aguentar o desprezo dos colegas que apoiam o outro competidor de Hogwarts, Cedric Diggory (Robert Pattinson). Como se isso não fosse um problema grande o suficiente, é provável que tudo não passe de um grande plano envolvendo o terrível Lord Voldemort (Ralph Fiennes).
Convenhamos, é complicado introduzir essa trama e mostrar três provas que devem, a princípio, ter bastante ação/tensão. Isso sem contar mostrar uma gama de personagens novos, pois além de Diggory são apresentados: Barty Crouch (Roger Lloyd-Pack), Rita Skeeter (Miranda Richardson), Cho Chang (Katie Leung), Viktor Krum (Stanislav Ianevski), Fleur Delacour (Clémence Poésy), Igor Karkaroff (Predrag Bjelac), Madame Maxime (Frances de la Tour) e o novo professor MadEye Moody (Brendan Gleeson).
Para fazer isso, é tomada uma decisão que passa a influenciar diretamente os filmes seguintes. As tramas paralelas são reduzidas ou cortadas de modo que o foco cai exclusivamente sobre Potter. Dessa forma, o protagonista ganha em personalidade e personagens como Severus Snape (Alan Rickman) perdem importância. Ron Weasley (Rupert Grint) e Hermione Granger (Emma Watson) são um pouco afetados, mas permanecem em seu lugar fiel ao lado de Potter. O único personagem que efetivamente cresce nesse filme é Albus Dumbledore (Michael Gambon, em uma interpretação coerente com o filme, mas destoante em relação ao personagem dos livros e apresentado anteriormente por Richard Harris).
Harry Potter and the Goblet of Fire acaba se tornando um rumo a ser seguido. Estando no meio da série, ele conta a sua história valorizando a ação e o humor em cenas específicas para isso e evitando se distanciar da história principal. Isso por vezes empobrece a série em conteúdo, mas garante agilidade ao filme. Além disso, a partir de agora o público-alvo cresce definitivamente e Harry Potter deixa de ser um menino curioso para ser um adolescente atormentado rumo a uma vida adulta que pode simplesmente não acontecer.
Outras divagações:
Harry Potter and the Philosopher's Stone
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