Divagações: Old Boys

Confesso que tenho certo carinho pela peça Cyrano de Bergerac, escrita em 1897 pelo dramaturgo francês Edmond Rostand – e que, reza a len...

Confesso que tenho certo carinho pela peça Cyrano de Bergerac, escrita em 1897 pelo dramaturgo francês Edmond Rostand – e que, reza a lenda, é levemente baseada na vida de um escritor de mesmo nome. A perspectiva de uma “adaptação modernizada” da história, que sairia da alta sociedade parisiense para um colégio interno inglês, foi o que chamou a minha atenção para Old Boys, ainda que eu já soubesse que estava caindo em uma furada.

A questão é que Cyrano de Bergerac criou muitos dos clichês das histórias de triângulo amoroso que vemos até hoje. Com isso, não faltam adaptações totais ou parciais da obra por aí, com ou sem crédito, e muitas delas miram exatamente o público jovem. Quando eu era adolescente, por exemplo, não deixei de me divertir (secretamente, claro) com Whatever It Takes. Mais recentemente, o Disney Chanel fez sua própria versão (com rappers!), chamada Let It Shine. E isso só para citar dois exemplos bem descompromissados!

Em Old Boys, o protagonista atende pelo nome de Amberson (Alex Lawther). Ele é bolsista em um colégio interno de meninos ricos, sendo frequentemente humilhado por sua absoluta falta de habilidade esportiva – e o pior é que ele segue tentando fazer parte do time do ridículo esporte típico da instituição, uma espécie de rúgbi jogado em um rio. Eventualmente, ele acaba se apaixonando por Agnes (Pauline Etienne), a filha de seu professor de francês, que mexe com o coração de todos os rapazes do colégio (que estão em regime de internato, veja bem).

Agnes, por sua vez, até cria uma amizade com Amberson, mas seu interesse amoroso é direcionado para o cara bonitão da escola, Winchester (Jonah Hauer-King), pois ela acredita que ele pode ter um cérebro igualmente impressionante. Como os meninos vivem isolados, ela inicia o contato por meio de um vídeo em que coloca um desafio. Sem saber o que fazer, Winchester aceita a ajuda de Amberson, que usa de toda a sua criatividade para fazer vídeos e escrever cartas para a garota. Ela se apaixona cada vez mais pelo autor das cartas, mas seu carinho é, infelizmente, direcionado à pessoa errada.

Todo o andamento da trama é bastante óbvio (afinal, já vimos esse filme antes), ainda mais com as concessões feitas pelos roteiristas em relação ao material original. Enquanto o protagonista da peça francesa é um intelectual firme em suas posições – até demais – e com certa relevância na sociedade, Amberson é frágil e vive uma situação delicada como bolsista do colégio. Por mais que a sensação de que ele “não pertence a esse mundo” ajude na caracterização do personagem, ela tira uma importante camada de complexidade da peça, que a deixa mais profunda e interessante. Para completar, a falta de um interesse amoroso real de Winchester por Agnes também não ajuda na dramaticidade da história.

Obviamente, eu já sabia que não poderia exigir nada demais de Old Boys. O longa-metragem marca a estreia do diretor Toby MacDonald e é tecnicamente bem realizado, com um resultado competente, ainda que sem nenhuma grande marca autoral. Como entretenimento adolescente, inclusive, acredito que deve funcionar bem. Mesmo assim, falta um brilho no olhar e uma paixão verdadeira, elementos que são essenciais para fazer essa história seguir conquistando corações há mais de um século – e, acredite, isso é perfeitamente possível.

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