Divagações: Os Farofeiros

Fazer cinema no Brasil é um desafio. Sem apoio, os cineastas e artistas não conseguem criar um público cativo e nem uma estrutura financei...

Fazer cinema no Brasil é um desafio. Sem apoio, os cineastas e artistas não conseguem criar um público cativo e nem uma estrutura financeiramente saudável. Para completar, a história do país tem mais de um momento em que a incerteza pôs todos os esforços anteriores em risco. Nesse contexto, um gênero que ainda atrai público e consegue segurar é a comédia – frequentemente exagerada e caricata.

Os Farofeiros, dirigido por Roberto Santucci, é um exemplo disso. O filme não tem muita história para contar, mas leva a extremos uma história que todo mundo já deve ter vivido pelo menos uma vez na vida: férias em uma casa de praia caindo aos pedaços e lotada de gente, incluindo pessoas que você nem conhece muito bem. Mas, como são férias, todo mundo respira fundo e tenta transformar o limão em uma limonada (ou uma caipirinha).

Na trama, Alexandre (Antônio Fragoso) vê seus planos para o Ano Novo serem destruídos em cima da hora. Pressionado pela esposa – Renata (Danielle Winits) – a encontrar algo que substitua, ele aceita o convite de um colega de trabalho, Lima (Maurício Manfrini) para uma casa de praia bem boa, mas rústica. Além deles, também vão para a casa de praia a esposa de Lima, Jussara (Cacau Protásio), e mais dois casais vindos diretamente do escritório: Rocha (Charles Paraventi) e Vanete (Elisa Pinheiro); e Diguinho (Nilton Bicudo) e Ellen (Aline Riscado). E as crianças, é claro.

O que se segue é uma série de confusões que são elevadas pelo estado calamitoso da casa – há desde uma invasão de mosquitos até uma piscina com um líquido verde pegajoso e borbulhante – e pelo fato de que Alexandre tem um segredo. Ele deve ser promovido em breve e uma de suas primeiras decisões envolve justamente a demissão de um de seus três colegas da casa de praia.

Seguindo a tradição dos filmes em que tudo o que pode dar errado vai dar errado, Os Farofeiros é contado por uma série de momentos bizarros relacionados à casa e às pessoas que formam o grupo. Porém, por algum motivo, a equipe da produção achou que seria uma boa ideia concentrar a maior parte da atenção na dondoca interpretada por Danielle Winits. Ela passa a maior parte do filme gritando e esperneando, algo que, convenhamos, não tem lá muita graça.

A narração, aliás, é feita por um dos filhos de Alexandre e Renata, Fabinho (Théo Medon), por meio de uma redação sobre suas férias – ou seja, a imagem que ele tem da mãe não é nada positiva. Curiosamente, ao longo do filme, ele parece ter muito pouco envolvimento no que acontece no mundo dos adultos, aparecendo sempre brincando com as outras crianças.

Além disso, há o tradicional apelo da objetificação de corpos na praia. Entre as mulheres, esse papel é cumprido por Ellen, que é a “novata” no grupo; a namorada entre as esposas; a motivação de todas as ceninhas de ciúmes vistas ao longo do filme. Já entre os homens há a figura de Adonis (Felipe Roque), um faz tudo que surge para tentar resolver alguns dos problemas da casa.

De forma geral, eu tenho pouca paciência para um filme tão estereotipado quanto esse Os Farofeiros. Porém, preciso admitir que eu já vivi algumas das situações retratadas e não pude deixar de me divertir com as referências cinematográficas espalhadas pela produção.

Para completar, acho importante que filmes como esse continuem a ser feitos. É levando o cinema nacional para um público amplo que podemos começar a apostar em uma diversidade de filmes e artistas, capazes de experimentar e ousar com diferentes gêneros e estilos narrativos.

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