Divagações: Riding in Cars with Boys

Riding in Cars with Boys é um daqueles filmes que eu deveria ter visto na minha adolescência, mas que, por algum motivo, deixei passar. A...

Riding in Cars with Boys é um daqueles filmes que eu deveria ter visto na minha adolescência, mas que, por algum motivo, deixei passar. Agora, eu me questiono como a pessoa que eu era aos 15 anos – a mesma idade da protagonista no começo da história – teria reagido ao filme. Será que ela se identificaria de alguma forma com a personagem principal? Ou consideraria que o enredo é uma lição de moral chata e batida? Fica difícil dizer. Mas a pessoa que eu sou aos 30 e poucos se assustou um pouco com a visão (um tanto quanto cruel) sobre maternidade e amadurecimento.

Na trama, que se inicia em 1965, Beverly D'Onofrio (Drew Barrymore) é uma adolescente que sonha em ir para uma faculdade prestigiada e em se tornar uma escritora. Ela acredita (até demais) em seu talento e está se esforçando para realizar seus sonhos. Ao mesmo tempo, ela também está descobrindo as festinhas e os meninos – tudo, é claro, na companhia de sua melhor amiga, Fay Forrester (Brittany Murphy).

As ambições da moça, no entanto, são esmagadas quando ela descobre estar grávida de Ray Hasek (Steve Zahn), um rapaz desmiolado que, a princípio, ela encarava apenas como um relacionamento passageiro, um romance de verão. Pressionada pela família, Beverly abandona os estudos e se casa, passando a “se dedicar” ao marido e ao filho. Ela, porém, segue acreditando em seus sonhos e luta para terminar os estudos e fazer uma faculdade, ao mesmo tempo em que precisa lidar com um marido problemático e um filho (Cody Arens/Logan Lerman/Adam Garcia) que, constantemente, é uma responsabilidade maior do que ela pode aguentar.

A questão que Riding in Cars with Boys enfatiza é a absoluta falta de maturidade da protagonista. Quando a história começa, ela ainda é uma menina descobrindo o mundo e, de repente, espera-se que ela se comporte como uma adulta. Ela não tem nenhum preparo para cuidar de seu filho, não tem uma relação de cumplicidade com o marido e guarda um profundo ressentimento em relação a seus pais. Mesmo com as situações que a vida coloca em seu caminho, a protagonista chega aos 30 e tantos anos sendo a mesma pessoa inconveniente e estupidamente sonhadora que era quando tinha 15 anos.

Claro que, se pararmos para pensar, ninguém deixa de ser quem era na adolescência. As pessoas mudam e suas trajetórias a levam para lugares diferentes, mas a personalidade e os valores já estão bem estabelecidos nesse ponto da vida. Beverly, entretanto, parece se recusar a crescer. Ela olha apenas para o próprio umbigo e culpa a todos quando as coisas dão errado (menos a si mesma, logicamente), algo que dói principalmente para seu filho.

As coisas ficam ainda mais marcantes quando se percebe que Riding in Cars with Boys é baseado em um livro de memórias da própria Beverly D'Onofrio – reza a lenda que os roteiristas tiveram que revisar diversos pontos. Afinal, convenhamos que ela não é mais simpática das protagonistas. Drew Barrymore consegue segurar o filme muito bem e dar credibilidade às chatices da personagem, ainda que a atriz não convença muito bem na fase mais velha (ela, inclusive, era mais nova que o ator interpretando seu filho).

Obviamente, há uma boa dose de exagero na forma como a história é contada. O longa-metragem parece estranhamente próximo a uma comédia em muitos momentos, mesmo que seja um drama em essência. A recusa em se afundar rumo a um melodrama, porém, deixa o filme em um ponto confuso, quase como se ele pudesse virar um romance ou uma história mais leve a qualquer instante. Ainda assim, o tom é adequado para não afastar um público mais jovem, que talvez se identifique mais com a protagonista (infelizmente, eu me vi concordando com o pai dela em mais de uma cena!).

Carregando toda essa bagagem, Riding in Cars with Boys segue sendo uma experiência interessante e diferente. Ainda que esteja prestes a completar 20 anos (a produção foi lançada em 2001), o filme é único, pois não se rende às fórmulas habituais das tramas para adolescentes e conta uma história sobre crescer baseada muito mais teimosia do que em amadurecimento – o que, convenhamos, acontece bastante.

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