Divagações: Paraíso Perdido

Preciso admitir que eu vejo bem menos filmes nacionais do que eu gostaria. É uma coisa muito estúpida, pois eu gostaria de assistir mais, ...

Preciso admitir que eu vejo bem menos filmes nacionais do que eu gostaria. É uma coisa muito estúpida, pois eu gostaria de assistir mais, mas também não consigo me animar a ver aqueles que estão mais acessíveis – e que, em muitos casos, são comédias derivadas de algum produto televisivo que eu também não assisti.

Eis que eu cruzo, quase sem querer, com Paraíso Perdido. Além de ser um filme nacional, ele é dirigido por uma mulher com um currículo interessante, Monique Gardenberg, e tem um elenco bastante curioso. Sinceramente, fico triste comigo mesma por estar tão perdida em meio a outros assuntos que quase deixar esse filme passar. Ele merece ser visto!

A trama gira em torno da chegada do policial Odair (Lee Taylor) na vida de uma família de cantores que também administra um bar com apresentações ao vivo. José (Erasmo Carlos) é o chefe do clã, mas ele parece estar perdendo um pouco as rédeas das coisas e resolve contratar Odair para ser segurança de seu neto, Imã (Jaloo), que recentemente apanhou na rua.

Imã, que tem interesse amoroso por um dos agressores, Pedro (Humberto Carrão), é filho de Eva (Hermila Guedes), que está prestes a sair da cadeia, onde iniciou um relacionamento com Milene (Marjorie Estiano). Na casa-bar, também vive seu tio, Angelo (Júlio Andrade), e sua prima, Celeste (Julia Konrad). O primeiro, vive com remorsos por seu amor perdido. Já a segunda está grávida de Joca (Felipe Abib), mas teve uma grande decepção com ele. Ao mesmo tempo, Teylor (Seu Jorge) parece interessado em entrar para a família.

Odair, então, passa a acompanhar o dia a dia dessa família e, ao seu lado, o público vai desvendando aos poucos os pequenos e grandes mistérios existentes nas vidas daquelas pessoas. Todas as noites, ele volta para casa e conta sobre o grupo para sua mãe, Nádia (Malu Galli), que é surda, mas teve um passado como cantora.

Tudo isso é regado a muita música brega e diversas apresentações com figurinos questionáveis sobre um palco dramaticamente iluminado. Ao longo do filme, o elenco solta o gogó por diversas vezes e manda ver com um repertório fantástico, que vai de Raul Seixas a Reginaldo Rossi, passando por Odair José, Roberto Carlos, Belchior e até Zé Ramalho – vale acrescentar: a trilha é assinada por Zeca Baleiro. É uma verdadeira ode a uma escola (?) da música brasileira que raramente recebe tanta atenção.

Com isso, todo o drama familiar de Paraíso Perdido acaba recebendo uma inesperada camada de leveza. Os personagens estão sempre expressando seus sentimentos no palco e se fazendo ouvir. Embora haja muitos segredos, há muito amor e respeito na família retratada – assim como uma enorme capacidade para atrair perrengues –, de modo que se trata mais de uma questão de desembaraçar o novelo do que de apontar vilões ou grandes erros do passado.

Para completar, tudo é muito bem amarrado. Quando Odair começa a verdadeiramente entender o drama da família e perceber que ele também se encaixa naquela história, fica impossível sequer piscar. Claro que se trata de uma conjunção absurda de fatores e tudo está um passo além do crível, mas isso combina muito bem com as músicas que eles cantam, com o ambiente do bar e com a vida que aquelas pessoas levam.

Paraíso Perdido, em resumo, é um exemplar do cinema nacional que não deve ser esquecido. É um daqueles filmes que é uma delícia descobrir e que vale a pena recomendar para os amigos.

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