Divagações: Raul: O Início, o Fim e o Meio

Já faz algum tempo que uma amiga me indicou o documentário Raul: O Início, o Fim e o Meio . Sinceramente, fico chateada comigo mesma por d...

Já faz algum tempo que uma amiga me indicou o documentário Raul: O Início, o Fim e o Meio. Sinceramente, fico chateada comigo mesma por demorar tanto para finalmente dar uma chance a esta produção, que está disponível na Netflix e tem direção de Walter Carvalho e de Leonardo Gudel, também responsável pelo roteiro.

De maneira geral, o objetivo do filme é simultaneamente simples e complexo: contar a história de vida de um dos maiores nomes do rock nacional. É simples porque se trata de um objetivo lógico e fácil de ser traçado por meio da carreira, dos amigos, da família e, especialmente, das namoradas. Mas também é complexo, pois é bastante difícil chegar a realmente entender uma pessoa como Raul Seixas, com seu gênio artístico aflorado, suas referências diversas e as relações complexas com seus parceiros de composição.

E, caso você esteja se questionando: sim, Paulo Coelho está no filme. Ele tem algumas das frases mais marcantes do documentário, admitindo ter introduzido Raul no mundo das drogas e do misticismo – sem arrependimentos. Felizmente, esses depoimentos não exatamente conduzem a narrativa, que se concentra muito mais em conectar os pontos entre as obras de Raul e suas principais influência que em devanear sobre as experiências do cantor com substâncias ilícitas.

Aliás, há uma linha bastante delicada aí. Raul: O Início, o Fim e o Meio dá ao espectador diversos indícios sobre a personalidade de seu retratado, mas nunca se aprofunda muito em quem realmente foi Raul Seixas. Ao final, talvez ele se torne ainda mais misterioso do que era antes do início do filme.

Um dos principais motivos para isso é justamente o escopo. O filme explora desde a infância em Salvador (BA) – com as primeiras transgressões e a grande admiração por Elvis Presley –, até a morte do artista, com o adoecimento, o ostracismo entre as gravadoras, novos relacionamentos e a última turnê, na companhia de Marcelo Nova. Ao longo desse caminho, todos os principais pontos são abordados (o que inclui até mesmo a participação em uma seita demoníaca), mas nenhum recebe uma parcela realmente significativa do documentário.

Uma das vantagens dessa escolha é que Raul: O Início, o Fim e o Meio pode se dedicar a todas as principais canções. Ao navegar pela carreira do músico, seus principais sucessos vão surgindo aqui e ali, ditando o futuro de muitos de seus relacionamentos e a forma como ele era percebido pelo público. Ainda que o próprio Raul não se defina como um artista político, suas letras são colocadas em um contexto histórico ao longo da produção – e, aqui, estamos falando dos anos 1970 e 1980.

Preciso dizer que, ao mesmo tempo em que é a carreira de Raul Seixas que dita o ritmo do filme (em mais de um sentido), são seus relacionamentos amorosos que garantem um vislumbre mais humano. Ao menos sob o meu olhar, o músico sempre foi uma figura mística, maluca e tão louca quanto brilhante. Mas suas namoradas e esposas – assim como a bem demarcada exceção da primeira esposa – colocam os pés no chão, falam sobre o dia a dia, as inseguranças, as alegrias, as desilusões e as amizades (tanto as reais quanto as que existem apenas no palco).

Por mais que não seja um mergulho profundo, Raul: O Início, o Fim e o Meio é uma deliciosa imersão em um universo que tem muito a ser explorado. Para quem conhece pouco sobre o artista, esta é uma boa forma de colocar sua obra dentro de um contexto mais amplo e entender suas principais influências e referências. E, mesmo para quem conhece um pouco mais, acredito que ainda há informações novas a serem absorvidas.

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