Divagações: Colette
17.2.21
Se você for parar para pensar, a história retratada em Colette encontra muitos paralelos por aí. Mas talvez seja justamente por isso que ela precisa ser contada e recontada – para os interessados em outras versões, há um filme de 1991 chamado Becoming Colette. Embora seja um drama de época, o que este filme traz ainda está presente na vida de muita gente. E, sim, precisamos sempre que possível trazer para a discussão episódios de opressão matrimonial, além de falar abertamente sobre a luta das mulheres LGBT+.
Para completar, o diretor Wash Westmoreland (pela primeira vez no comando de um filme sem a presença de seu marido Richard Glatzer, falecido em 2015) fez com que a produção se tornasse uma plataforma para algo maior do que uma cinebiografia. No elenco, há dois atores transgênero interpretando personagens cisgênero (Jake Graf e Rebecca Root). Mas, sinceramente, eu só sei disso porque fui pesquisar mais informações sobre o longa-metragem. Afinal, a “mudança” não fez diferença alguma na prática.
Colette conta a história da escritora e atriz Sidonie-Gabrielle Colette (Keira Knightley). Embora fosse uma garota simples, vinda de uma pequena vila da França, ela se casou com o famoso escritor e editor Henry “Willy” Gauthier-Villars (Dominic West) e foi morar com ele em Paris, passando a conviver com a elite e a classe artística local. Porém, sua vida em casa tinha suas dificuldades, especialmente devido às infidelidades do marido e às dificuldades financeiras dele.
Com a adaptação ao novo estilo de vida, ela passa a se apresentar somente como Colette e começa a escrever. Seus romances, assinados por seu marido, são um grande sucesso, atingindo um público que até então vinha sendo negligenciado pelo mercado editorial: as mulheres jovens. Juntamente com a chegada do sucesso, ela descobre que também pode desfrutar de certas liberdades – desde que elas não envolvam homens. Entre suas amantes estão a riquíssima Georgie Raoul-Duval (Eleanor Tomlinson) e a progressista Mathilde “Missy” de Morny (Denise Gough), com quem ela passa a se envolver romanticamente.
Uma das grandes questões de Colette é que não se trata apenas de um romance. A protagonista, ao ganhar relevância por meio de seus livros, promove uma revolução cultural. Seu modo de pensar, de escrever e suas histórias fazem parte de um universo muito próprio e pessoal, que ela compartilha com as pessoas e percebe ressoar. Ainda que seja possível questionar se ela poderia ter feito isso sem o apoio do nome do marido, a questão é que havia uma demanda e um interesse real por aquele tipo de obra.
Outro ponto interessante é que, não importa onde a protagonista esteja, ela se destaca. No meio rural, ela parece muito agitada e pronta para descumprir todas as regras. Na cidade grande, ela segue inquieta, mas predomina seu lado observador e crítico. Sob os holofotes da fama, ela brilha e se adapta com facilidade, mas sua vontade de fazer algo inteiramente seu apenas cresce.
Além disso, o casamento retratado não é intrinsecamente infeliz. Ainda que não seja o relacionamento idealizado, o casal assume uma postura de amizade e cumplicidade que funciona por muitos anos – até que a autoria “compartilhada” deixa de ser suficiente para Colette, expondo rachaduras há muito tempo existentes. A princípio, Willy é um homem de seu tempo, que se aproveita constantemente de seus privilégios e que, ao menos da forma como é retratado aqui, tem certo carinho e respeito por Colette. Mas isso não é o suficiente, obviamente.
Indo além da trama, Colette é um longa-metragem muito bonito visualmente, sabendo se aproveitar de belos figurinos e do contraste entre a bucólica zona rural francesa e a apaixonante cena parisiense do começo do século 20. Desta forma, além de se deleitar com uma história bem contada, também é possível apreciar um tempo que (ainda bem) não voltará.
Para completar, o longa-metragem ainda aproveita para reforçar a mensagem de que a luta da protagonista segue viva e não deve ser esquecida. Viva Colette!
Outras divagações:
Still Alice
Para completar, o diretor Wash Westmoreland (pela primeira vez no comando de um filme sem a presença de seu marido Richard Glatzer, falecido em 2015) fez com que a produção se tornasse uma plataforma para algo maior do que uma cinebiografia. No elenco, há dois atores transgênero interpretando personagens cisgênero (Jake Graf e Rebecca Root). Mas, sinceramente, eu só sei disso porque fui pesquisar mais informações sobre o longa-metragem. Afinal, a “mudança” não fez diferença alguma na prática.
Colette conta a história da escritora e atriz Sidonie-Gabrielle Colette (Keira Knightley). Embora fosse uma garota simples, vinda de uma pequena vila da França, ela se casou com o famoso escritor e editor Henry “Willy” Gauthier-Villars (Dominic West) e foi morar com ele em Paris, passando a conviver com a elite e a classe artística local. Porém, sua vida em casa tinha suas dificuldades, especialmente devido às infidelidades do marido e às dificuldades financeiras dele.
Com a adaptação ao novo estilo de vida, ela passa a se apresentar somente como Colette e começa a escrever. Seus romances, assinados por seu marido, são um grande sucesso, atingindo um público que até então vinha sendo negligenciado pelo mercado editorial: as mulheres jovens. Juntamente com a chegada do sucesso, ela descobre que também pode desfrutar de certas liberdades – desde que elas não envolvam homens. Entre suas amantes estão a riquíssima Georgie Raoul-Duval (Eleanor Tomlinson) e a progressista Mathilde “Missy” de Morny (Denise Gough), com quem ela passa a se envolver romanticamente.
Uma das grandes questões de Colette é que não se trata apenas de um romance. A protagonista, ao ganhar relevância por meio de seus livros, promove uma revolução cultural. Seu modo de pensar, de escrever e suas histórias fazem parte de um universo muito próprio e pessoal, que ela compartilha com as pessoas e percebe ressoar. Ainda que seja possível questionar se ela poderia ter feito isso sem o apoio do nome do marido, a questão é que havia uma demanda e um interesse real por aquele tipo de obra.
Outro ponto interessante é que, não importa onde a protagonista esteja, ela se destaca. No meio rural, ela parece muito agitada e pronta para descumprir todas as regras. Na cidade grande, ela segue inquieta, mas predomina seu lado observador e crítico. Sob os holofotes da fama, ela brilha e se adapta com facilidade, mas sua vontade de fazer algo inteiramente seu apenas cresce.
Além disso, o casamento retratado não é intrinsecamente infeliz. Ainda que não seja o relacionamento idealizado, o casal assume uma postura de amizade e cumplicidade que funciona por muitos anos – até que a autoria “compartilhada” deixa de ser suficiente para Colette, expondo rachaduras há muito tempo existentes. A princípio, Willy é um homem de seu tempo, que se aproveita constantemente de seus privilégios e que, ao menos da forma como é retratado aqui, tem certo carinho e respeito por Colette. Mas isso não é o suficiente, obviamente.
Indo além da trama, Colette é um longa-metragem muito bonito visualmente, sabendo se aproveitar de belos figurinos e do contraste entre a bucólica zona rural francesa e a apaixonante cena parisiense do começo do século 20. Desta forma, além de se deleitar com uma história bem contada, também é possível apreciar um tempo que (ainda bem) não voltará.
Para completar, o longa-metragem ainda aproveita para reforçar a mensagem de que a luta da protagonista segue viva e não deve ser esquecida. Viva Colette!
Outras divagações:
Still Alice
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