Divagações: Uncle Frank
3.2.21Paul Bettany está em alta no momento por conta da série WandaVision, mas foi praticamente sem querer que acabei cruzando com Uncle Frank. Eu já conhecia a premissa básica do filme e ela havia me chamado a atenção, mas talvez não o suficiente até então. Em um início de noite chuvoso, no entanto, este longa-metragem me pareceu uma boa ideia.
Ambientado na Carolina do Sul, no começo dos anos 1970, Uncle Frank explora o olhar de uma jovem que se sente deslocada do restante da família, Beth (Sophia Lillis). Aparentemente, ninguém naquele lugar a entende, com a possível exceção de um tio que mora em Nova York e faz raras visitas, o professor universitário Frank (Bettany). Quieto e sempre sozinho, ele enfrenta uma estranha hostilidade vinda do próprio pai, Daddy Mac (Stephen Root).
Quando Beth ingressa na faculdade e também vai morar em Nova York, não demora muito para que ela descubra o segredo de seu tio: ele é gay e vive há 10 anos com outro homem, o bem-humorado Wally (Peter Macdissi). Antes que ela tenha tempo para digerir essa informação, porém, eles são informados da morte de Daddy Mac e precisam voltar para a Carolina do Sul.
Embora pareça que eu tenha contado uma boa parte da história, isso não é exatamente verdade. Uncle Frank é muito mais uma obra sobre os demônios internos do protagonista que exatamente sobre este enredo. Aos poucos, o roteiro e a direção de Alan Ball exploram a complicada relação entre pai e filho e as próprias dificuldades de aceitação de Frank, que teve uma criação religiosa e guarda um grande arrependimento em seu passado.
Embora isso pareça algo pesado, o filme consegue desviar do dramalhão e se transforma em uma espécie de road movie relutante. Para completar, a produção até mesmo se arrisca a acrescentar elementos mais leves e humorísticos. Isso acontece tanto por meio de Wally quanto pela percepção de diversos personagens a respeito de o que significa uma pessoa ser gay. Ao menos comigo, isso não funcionou muito bem. Mas ajudou a dar um sentimento geral mais acolhedor.
Com cores suaves, personagens ingênuos e uma trama óbvia, Uncle Frank realmente se esforça para não escorregar em um drama mais pesado, ainda que todo o desenvolvimento da história pareça caminhar nessa direção. Se o movimento fosse assumido, talvez ele desse um pouco mais de profundidade ao filme, mas o longa-metragem não precisa necessariamente disso para funcionar.
Um detalhe é que, com tudo isso acontecendo, o crescimento de Beth acaba sendo drasticamente ofuscado. A personagem tem seus bons momentos, mas o filme acaba mudando seu foco e deixa de ser sobre ela, como parecia indicar nas sequências iniciais. Isso não quer dizer que ela não seja interessante e não tenha uma evolução ao longo da trama, mas não é nada de muito destaque. Além disso, algumas de suas “ideias empoderadas” não funcionam muito bem no contexto, especialmente considerando que ela é uma caipira que, em plenos anos 1970, acabou de chegar na cidade grande.
Uncle Frank, definitivamente, não é um dos grandes filmes do ano ou algo que você absolutamente precise ver. Mesmo assim, suponho que é um bom filme para ser casualmente descoberto enquanto você “navega” pelo aplicativo da Prime Video. Para completar, ele tem um elenco interessante, que inclui Steve Zahn, Judy Greer e Margo Martindale. É uma boa opção para um dia preguiçoso e chuvoso, oferecendo a possibilidade de um horizonte um pouco mais iluminado.
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