Divagações: Suspiria (2018)

Antes de ver Suspiria , eu resolvi assistir à versão original do filme, lançada em 1977 . Entretanto, por um motivo ou outro, eu acabava adi...

Suspiria
Antes de ver Suspiria, eu resolvi assistir à versão original do filme, lançada em 1977. Entretanto, por um motivo ou outro, eu acabava adiando o momento de finalmente encarar este terror de 2h30 de duração e com direção de Luca Guadagnino. Pois bem, a hora chegou!

A história, em essência, é a mesma. Alguns personagens foram cortados e, outros, ampliados. Mas uma das principais mudanças foi a troca do balé clássico por um estilo mais moderno, permitindo coreografias e figurinos que se encaixavam tanto na proposta de algo mais macabro quanto no discurso pretensamente feminista das personagens – aliás, a participação masculina, já restrita no original, foi ainda mais reduzida (inclusive com recursos não perceptíveis à primeira vista). Além disso, os horrores se tornaram mais viscerais, retirando o (desagradável) humor involuntário de algumas sequências da produção anterior.

Em Suspiria, Susie (Dakota Johnson) é uma jovem e talentosa bailarina, recém-admitida no estúdio comandado por Madame Blanc (Tilda Swinton) apesar de sua inexperiência e de sua origem humilde e conservadora. Sua chegada praticamente coincide com a saída de uma outra aluna, Patricia (Chloë Grace Moretz), que estava bem perturbada na ocasião e busca ajuda junto ao Dr. Klemperer (Lutz Ebersdorf). Enquanto o médico inicia suas investigações, Susie se torna amiga de Sara (Mia Goth), que também era próxima de Patricia e que suspeita de que há algo estranho acontecendo no local.

Sob certos aspectos, o ambiente recluso do estúdio de dança funciona como uma espécie de refúgio, uma vez que o mundo do lado de fora vive os conflitos de uma Berlim do final dos anos 1970, com os acontecimentos do Outono Alemão servindo de pano de fundo (foi nesta mesma época que seu antecessor foi lançado). Neste contexto, a ambiciosa Susie passa a se envolver cada vez mais com Blanc, enquanto Sara se torna ainda mais desconfiada do comportamento das professoras, comparando os relatos da nova amiga com o que ouvia de sua colega desaparecida.

Consideravelmente menos colorido e experimental que o longa-metragem que lhe deu origem, Suspiria opta por um uso mais convencional de seus recursos, mantendo sua paleta relativamente sem graça até que chega o momento de o vermelho dominar a cena (o contraste com o azul, presente no filme anterior, é deixado de lado). Os usos criativos e inesperados da iluminação e dos cenários também são atenuados. E a trilha sonora incomoda dá lugar a uma (boa) música que funciona em consonância com a narrativa, de modo que o desconforto é substituído pela ansiedade da descoberta.

Como resultado, este talvez seja um filme talvez mais assustador (confesso que não sou a melhor pessoa para julgar), mas menos interessante. Talvez seja por conta disso que a produção foi detonada pelos críticos, que a acharam pretensiosa e vazia. Faz sentido: ao alongar a trama, muitas histórias adicionais foram criadas, embora elas não necessariamente acrescentem algo ao filme em si. Para completar, a ideia de refazer um filme com uma estética tão própria e tentar criar algo comparável àquilo é realmente um desafio que tende ao fracasso (ao menos no curto e médio prazo, já que não sabemos o que o tempo dirá).

Infelizmente, não tenho como olhar para Suspiria com os olhos de quem não viu a produção de 1977, mas ouso dizer que este novo longa-metragem consegue se sustentar sozinho, trazendo algo de diferente em comparação com seus contemporâneos do gênero de terror.

Outras divagações:
Suspiria (1977)
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