Divagações: Dune: Part One

Ao longo desses vários anos de Cinema de Novo, eu aprendi que a minha empolgação (ou a falta dela) é facilmente passada para as resenhas – e...

Ao longo desses vários anos de Cinema de Novo, eu aprendi que a minha empolgação (ou a falta dela) é facilmente passada para as resenhas – e as mais afetadas por isso são justamente as que acabam me trazendo os maiores “arrependimentos”. Enquanto escrevo isso, minhas lembranças de Dune já não são mais tão detalhadas quanto poderiam (eu tenho uma péssima memória) e várias coisas já aconteceram, incluindo a inclusão de “Part One” ao nome do filme no Internet Movie DataBase (IMDb) e a confirmação da continuação, que deve chegar aos cinemas em 2023.

Ainda assim, tenho certos receios de escrever sobre esse filme. Como alguém que leu o livro há alguns anos e se divertiu com o longa-metragem de David Lynch lançado em 1984, eu acredito que esta adaptação de Denis Villeneuve segue não sendo perfeita, mas é uma obra adequada para o público atual e muito bem feita, que teve diversas escolhas bastante acertadas e traz um visual deslumbrante. Ao mesmo tempo, também sinto que o protagonista e seus dilemas ainda não foram apresentados em sua devida profundidade e que alguns momentos continuam funcionando melhor na versão escrita (com destaque para a cena da caixa, por mais eficiente que ela seja).

De qualquer forma, não quero estragar detalhes do enredo para quem ainda não viu o filme; vou me limitar a uma breve sinopse. Em um futuro muito distante, Paul Atreides (Timothée Chalamet) é o jovem herdeiro de uma família nobre, que comanda um mesmo planeta a gerações e é bastante respeitada. Seu pai (Oscar Isaac), entretanto, é transferido para um outro planeta, de características geográficas, históricas e culturais opostas e desafiadoras. Com a mudança de todo o clã, o garoto se vê envolvido em uma complexa trama política, que rodeia também o líder dos antigos exploradores do planeta, Vladimir Harkonnen (Stellan Skarsgård), e o povo nativo, o que inclui uma moça que Paul vê em sonhos (Zendaya).

Para completar, sua mãe (Rebecca Ferguson) faz parte de uma poderosa ordem que atua politicamente pelas sombras, e, de alguma forma, ele descobre que também está envolvido nestes planos. Assim, a sobrevivência de Paul depende de uma ampla compreensão do mundo ao seu redor, o que implica em não apenas entender o contexto de seus pais, mas também o novo planeta e sua maior riqueza: a areia, necessária para as viagens espaciais.

Assim, em Dune: Part One somos apresentados a estes e vários outros personagens. Todos têm seus próprios planos, suas próprias lealdades e estão mais preocupados com si mesmos do que com Paul e seu destino – o que, convenhamos, é um diferencial. Ainda assim, é inegável que as engrenagens se movem de um jeito muito específico e calculado, tornando a trama mais interessante e as decisões do protagonista mais importantes.

Como o filme não se importa em contar toda a história (eu sei que são mais de 2h30, mas considere que o livro é enorme), o cenário é construído com cuidado. Aos poucos, vamos compreendendo as motivações e os estratagemas, descobrindo quem joga limpo, quem parece destinado a se dar mal e quem ainda pode ter cartas na manga. Ao mesmo tempo, isso não significa que o ritmo seja lento – pelo contrário. Ainda que não se trate de uma correria frenética, há muita coisa acontecendo e tanta gente tentando se dar bem que os acontecimentos se sucedem e se sobrepõem de uma maneira envolvente.

A verdade é que Dune: Part One foi desenvolvido com cuidado e com respeito à obra original. Por mais que adaptações tenham sido feitas, o longa-metragem se preocupa em explorar a dimensão que o universo criado por Frank Herbert possui, em uma tentativa de ser a adaptação definitiva desta obra (se será, só o futuro poderá dizer). Mas, por ora, o filme é uma das coisas mais interessantes que o cinema blockbuster produziu nos últimos tempo.

Inclusive, por mais que ele tenha ambições artísticas, não acho justo ninguém se enganar: isso é um produto, feito para ganhar dinheiro. E os investimentos podem ser vistos facilmente. O elenco é repleto de grandes nomes (eu nem mencionei na sinopse, mas também há Jason Momoa, Josh Brolin, Javier Bardem, Dave Bautista e Charlotte Rampling, entre outros), os efeitos especiais são grandiosos, os cenários são caprichados, os planetas retratados são críveis e a trilha sonora é digna de um grande épico.

Então... Que venha Dune: Part Two! Eu espero que a pandemia de covid-19 seja apenas uma lembrança quando chegarmos lá.

Outras divagações:

Arrival
Blade Runner 2049

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