Divagações: Avatar: The Way of Water

Por muito tempo, achei que Avatar: The Way of Water não se tornaria realidade. É notório que James Cameron não costuma ser muito ágil e a ...

Avatar: The Way of Water
Por muito tempo, achei que Avatar: The Way of Water não se tornaria realidade. É notório que James Cameron não costuma ser muito ágil e a promessa de lançar vários grandes filmes em sequência não parecia combinar com seu estilo. No final das contas, 13 anos se passaram entre a produção original e esta sequência imediata, o que é uma eternidade para os padrões hollywoodianos e, obviamente, gerou muitas suspeitas sobre a capacidade de atrair público.

Mas a mágica funcionou, de alguma maneira. Os números de bilheteria vieram e até mesmo quatro indicações ao Oscar (Melhor Filme, Melhor Som, Melhor Design de Produção e, claro, Melhores Efeitos Visuais). A recepção da crítica, de maneira geral, foi negativa, mas não é como se alguém estivesse se importando muito com a história sendo contada ou mesmo com a estrutura narrativa. Este é um longa-metragem para ser meramente admirado – e por mais de três longas horas.

Avatar: The Way of Water começa alguns anos após os acontecimentos da produção anterior. Jake Sully (Sam Worthington) e Neytiri (Zoe Saldana) estabeleceram família em Pandora e vivem felizes com seus quatro filhos: o responsável irmão mais velho Neteyam (Jamie Flatters), a deslocada filha adotiva Kiri (Sigourney Weaver), o impulsivo Lo'ak (Britain Dalton) e a caçula fofinha Tuk (Trinity Jo-Li Bliss). Para completar, há também um menino humano sempre por perto, Spider (Jack Champion).

Contudo, os habitantes da Terra voltam a invadir o planeta atrás de riquezas, desencadeando uma longa guerra. Um batalhão em especial se destaca: a partir das memórias de soldados falecidos na guerra anterior, um time de avatares é construído. Sob a liderança de Quaritch (Stephen Lang), em vez de lutar para garantir a posição humana e os atuais objetivos da invasão, esse grupo busca por vingança, o que leva a família Sully a sair da floresta e buscar refúgio em uma tribo que vive de recursos do mar, comandada por Tonowari (Cliff Curtis) e Ronal (Kate Winslet).

O que se segue, convenhamos, é bem previsível – mas não é como se eu esperasse que Avatar: The Way of Water surpreendesse dramaticamente. O filme aproveita a mudança de cenário para mostrar como pode ser bonito, trazendo algo que já costuma revelar belas imagens (o fundo do mar) para dentro de seu universo. Inclusive, parece que a produção esquece que deveria estar contando uma história, prolongando-se na adaptação de cada um de seus personagens principais ao novo ambiente.

Aliás, de maneira geral, a produção se afasta dos dramas de Jake Sully e passa a se concentrar na nova geração, que está marcada pelo simples fato de todos terem cinco dedos em cada mão, uma característica humana. Em um novo ambiente, a sensação de que eles são diferentes dos demais apenas se amplia. Ao mesmo tempo, fica a sensação de que o filme não deu qualquer tipo de aprofundamento ou conclusão ao tema, deixando muita coisa no ar (as continuações estão previstas para 2024, 2026 e 2028).

O detalhe é que estes personagens não têm força para segurar a trama sozinhos e Avatar: The Way of Water apela frequentemente para seu antigo protagonista. Suponho que Jake Sully deveria representar o “paizão”, mas ele segue soando como o “salvador branco”, especialmente por conta do apagamento de Neytiri e da maneira como os na'vi são representados. Ao utilizar vários elementos de culturas terráqueas para criar uma identificação nos povos nativos de Pandora, a produção força paralelos e cai em erros simples de representação de outros povos, como a ideia do “bom selvagem”.

Outro ponto é que muitas das cenas (que deveriam ser) catárticas têm pouca força. Além de falhas estranhas de roteiro – o que inclui um exército que simplesmente desaparece –, a construção das sequências gera pouca tensão e empolgação. Muitos momentos, aliás, são salvos porque a trilha sonora dá o tom certo à ação, reforçando os sentimentos que deveriam estar sendo expressos visualmente ou, ao menos, pelos atores.

Dito isso, Avatar: The Way of Water segue sendo uma “experiência”, para usar o termo mais marqueteiro possível. Eu gostaria que tanta tecnologia tivesse sido aplicada em um filme melhor, mas suponho que “não arriscar na história” seja o preço a se pagar para tornar um produto como esse em realidade. Para quem está curioso, a recomendação é ver em um cinema com uma excelente imagem e um excelente som; caso contrário, muito do apelo simplesmente se perde.

Outras divagações:

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