Divagações: Chama a Bebel

Quando eu estava na escola, uma das coisas mais chatas era assistir vídeos didáticos que tentavam ser engraçados ou trazer algum tipo de ent...

Chama a Bebel
Quando eu estava na escola, uma das coisas mais chatas era assistir vídeos didáticos que tentavam ser engraçados ou trazer algum tipo de entretenimento. Além do resultado ser forçado, eles apenas enrolavam para passar uma mensagem que poderia ser transmitida na metade do tempo (antes que alguém pergunte: sim, eu detesto tutoriais no YouTube).

Obviamente, Chama a Bebel não é um filme didático – mas ele frequentemente corre o risco de se tornar um. O detalhe é que ter um discurso chato é justamente um dos argumentos da vilã contra a mocinha, de modo que se torna ainda mais importante ter uma protagonista crível (em vez de alguém que está vomitando lições de sabedoria). O sucesso nesse ponto é bem questionável, mas eu preciso admitir que foi feito um esforço válido.

Bebel (Giulia Benite, que também acumula um cargo de executiva associada) é uma menina do interior que precisa se mudar para a casa de uma tia (Flávia Garrafa) para poder continuar a frequentar a escola. Na “cidade grande”, ela encontra o incentivo de um professor (Rafa Muller) para exercer seu potencial de ativista por um mundo mais sustentável, conquistando a amizade de seu primo esquisito (Antônio Zeni) e de um garoto solitário (Gustavo Coelho), mas também irritando a “abelha rainha” local (Sofia Cordeiro).

Com vários elementos puxados de histórias reais (conforme os créditos!), Chama a Bebel é repleto de boas ideias. Entretanto, como tudo parte da protagonista e os demais personagens seguem a lógica de “evite se meter em problemas” ou “isso é muito difícil”, a coisa acaba ficando meio repetitiva. Para completar, o ar de “dona da verdade” de Bebel faz com que eu me lembre o tempo todo de que Giulia Benite já interpretou a Mônica em dois filmes e uma série de televisão.

Como se não bastasse, a antagonista não é uma personagem bem desenvolvida, parecendo mais uma caricatura ruim de patricinha do que qualquer outra coisa. Se ela tivesse seus próprios dramas e dilemas (há uma tentativa, com uma clara carência afetiva em relação ao pai capitalista), não duvido que algumas pessoas acabariam torcendo por ela.

Inclusive, é quando Chama a Bebel entra em “zonas cinzentas” que a coisa se torna um pouco mais interessante. Em uma de suas iniciativas, a protagonista e seus amigos tentam encontrar uma série de cachorros que foram sequestrados por um laboratório e, para isso, utilizam métodos bastante questionáveis. Pessoalmente, eu gostaria que houvesse uma consequência para esse momento em que “os fins justificam os meios”, mas também não vou reclamar (há algum remorso, afinal de contas).

Considerando que eu não sou exatamente o público-alvo da produção, espero que Chama a Bebel consiga alcançar com mais sucesso os corações dos jovens. Afinal, há muitos pontos interessantes sendo levantados e, bom, precisamos celebrar as meninas chatas e reclamonas deste mundo.

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