Divagações: Maestro
3.1.24
Pelo jeito, Bradley Cooper gostou da “brincadeira” de produzir, dirigir, roteirizar e estrelar – tudo ao mesmo tempo. Maestro é a segunda investida dele nesse sentido e é, claramente, um projeto pelo qual ele estava apaixonado. Além disso, duvido que ele pare por aqui.
Apesar do título, o filme não é exatamente um resumo da vida e das conquistas de Leonard Bernstein (Cooper), embora muitas delas estejam presentes e recebam bastante atenção. Na teoria, a obra busca retratar seu relacionamento com a esposa, Felicia Montealegre (Carey Mulligan), incluindo muitos altos e baixos devidamente enfatizados pela filmagem em preto e branco com alto contraste.
Na prática, o relacionamento funciona como um mero (e amplo) recorte e Maestro acaba sendo uma declaração de amor ao personagem título. Isso inclui sequências relativamente longas de suas performances, além de uma variedade de músicas compostas por Bernstein na trilha sonora. Para completar, grande parte das cenas mais elaboradas em termos de iluminação, ângulos e movimentação de câmera também são destinadas a mostrar a personalidade e as vitórias do protagonista.
Um exemplo disso é que, por mais que os defeitos e as infidelidades estejam presentes e afetem as pessoas ao seu redor – especialmente Felicia e a filha mais velha do casal, Jamie (Maya Hawke) –, essas questões não são exatamente aprofundadas ou devidamente discutidas. Os problemas surgem e todos seguem em frente, com o eventual apoio da irmã do protagonista, Shirley (Sarah Silverman).
Dito isso, não há como negar que Maestro é um filme muito bonito e visualmente impressionante, mas sem alma. Ao não se comprometer em cutucar as feridas e desagradar os retratados (ainda que já falecidos), ele também não tem um apelo emocional bem definido e se torna incapaz de prender a atenção.
Mas não é como se Carey Mulligan não tentasse. Como único contraponto à figura do músico talentoso, sua personagem surge com leveza, humildade e encanto, sendo posteriormente endurecida pela vida. Assim, enquanto o Leonard Bernstein de Cooper permanece quase constante ao longo dos anos – com o passar do tempo evidente pela maquiagem –, é Felicia quem muda e se adapta às mudanças do mundo, deixando claro que está perfeitamente ciente de quem seu marido realmente é.
Já que mencionei a maquiagem, Maestro tem chamado atenção pelo nariz de seu protagonista, que realmente torna Cooper quase irreconhecível. Sabendo disso, confesso que me incomodei com o fato de que a prótese é um pouco óbvia (ao menos para quem está olhando constantemente para ela). De maneira geral, a movimentação do rosto não parece afetar o nariz, com os limites das rugas ficando claros em cenas de perfil. Ao mesmo tempo, também não diria que a prótese é ruim; ela só não é excelente.
Aliás, essa frase pode se estender para toda a produção. Maestro tem muitas qualidades e muitos defeitos, mas ele carece de um algo a mais – algo que é frequente em filmes que parecem terem sido feitos para a temporada de premiações. Inclusive, eu não me surpreenderia se a produção conquistar algumas indicações na próxima edição do Oscar, mas acredito a única expectativa real de uma estatueta é para a maquiagem.
Ou seja, Maestro até tenta, mas não consegue realizar algo digno da frase que abre o filme, dita pelo próprio Leonard Bernstein: “A work of art does not answer questions, it provokes them; and its essential meaning is in the tension within the contradictory answers”. Em tradução livre: “Uma obra de arte não responde perguntas, mas as provoca; e seu significado essencial está na tensão entre as respostas contraditórias”.
Apesar do título, o filme não é exatamente um resumo da vida e das conquistas de Leonard Bernstein (Cooper), embora muitas delas estejam presentes e recebam bastante atenção. Na teoria, a obra busca retratar seu relacionamento com a esposa, Felicia Montealegre (Carey Mulligan), incluindo muitos altos e baixos devidamente enfatizados pela filmagem em preto e branco com alto contraste.
Na prática, o relacionamento funciona como um mero (e amplo) recorte e Maestro acaba sendo uma declaração de amor ao personagem título. Isso inclui sequências relativamente longas de suas performances, além de uma variedade de músicas compostas por Bernstein na trilha sonora. Para completar, grande parte das cenas mais elaboradas em termos de iluminação, ângulos e movimentação de câmera também são destinadas a mostrar a personalidade e as vitórias do protagonista.
Um exemplo disso é que, por mais que os defeitos e as infidelidades estejam presentes e afetem as pessoas ao seu redor – especialmente Felicia e a filha mais velha do casal, Jamie (Maya Hawke) –, essas questões não são exatamente aprofundadas ou devidamente discutidas. Os problemas surgem e todos seguem em frente, com o eventual apoio da irmã do protagonista, Shirley (Sarah Silverman).
Dito isso, não há como negar que Maestro é um filme muito bonito e visualmente impressionante, mas sem alma. Ao não se comprometer em cutucar as feridas e desagradar os retratados (ainda que já falecidos), ele também não tem um apelo emocional bem definido e se torna incapaz de prender a atenção.
Mas não é como se Carey Mulligan não tentasse. Como único contraponto à figura do músico talentoso, sua personagem surge com leveza, humildade e encanto, sendo posteriormente endurecida pela vida. Assim, enquanto o Leonard Bernstein de Cooper permanece quase constante ao longo dos anos – com o passar do tempo evidente pela maquiagem –, é Felicia quem muda e se adapta às mudanças do mundo, deixando claro que está perfeitamente ciente de quem seu marido realmente é.
Já que mencionei a maquiagem, Maestro tem chamado atenção pelo nariz de seu protagonista, que realmente torna Cooper quase irreconhecível. Sabendo disso, confesso que me incomodei com o fato de que a prótese é um pouco óbvia (ao menos para quem está olhando constantemente para ela). De maneira geral, a movimentação do rosto não parece afetar o nariz, com os limites das rugas ficando claros em cenas de perfil. Ao mesmo tempo, também não diria que a prótese é ruim; ela só não é excelente.
Aliás, essa frase pode se estender para toda a produção. Maestro tem muitas qualidades e muitos defeitos, mas ele carece de um algo a mais – algo que é frequente em filmes que parecem terem sido feitos para a temporada de premiações. Inclusive, eu não me surpreenderia se a produção conquistar algumas indicações na próxima edição do Oscar, mas acredito a única expectativa real de uma estatueta é para a maquiagem.
Ou seja, Maestro até tenta, mas não consegue realizar algo digno da frase que abre o filme, dita pelo próprio Leonard Bernstein: “A work of art does not answer questions, it provokes them; and its essential meaning is in the tension within the contradictory answers”. Em tradução livre: “Uma obra de arte não responde perguntas, mas as provoca; e seu significado essencial está na tensão entre as respostas contraditórias”.
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