Divagações: Are You There God? It's Me, Margaret
17.1.24
Todos os anos, um filme fofo encontra seu espaço na temporada de premiações. Desta vez, a “cota” está sendo preenchida por Are You There God? It's Me, Margaret, baseado no livro de Judy Blume e com direção e roteiro de Kelly Fremon Craig. No momento em que escrevo, a produção se aproxima das 60 indicações, com 12 delas já tendo se transformado em prêmios.
Em resumo, trata-se de uma história de puberdade passada nos anos 1970. Margaret Simon (Abby Ryder Fortson) tem 12 anos e acabou de se mudar com os pais (Rachel McAdams e Benny Safdie), saindo da movimentada Nova York para os subúrbios de Nova Jersey. Com isso, além das saudades da avó (Kathy Bates), surge a necessidade de fazer novas amizades. Eis que surge a autoritária e sabichona Nancy Wheeler (Elle Graham), devidamente acompanhada por suas companheiras leais Gretchen (Katherine Mallen Kupferer) e Janie (Amari Alexis Price).
A dinâmica entre as meninas é particularmente divertida e se desenvolve naturalmente, o que também envolve momentos de uma crueldade inocente (que também machuca). Assim, ainda que Margaret não esteja totalmente confortável em seu novo círculo, ela se deixa levar pelas demais, que estão muito ansiosas para terem seios, menstruações e namorados.
Mas, de tempos em tempos, a atenção da menina, que deveria ir para o “bonitão” Philip Leroy (Zack Brooks), acaba desviada para outro menino, Moose Freed (Aidan Wojtak-Hissong). Para completar, ela tem uma crescente curiosidade em relação a Laura Danker (Isol Young), uma garota da sua idade que já tem um corpo de mulher.
Apenas com estes elementos, Are You There God? It's Me, Margaret já poderia ser encantador. Mas há toda uma camada extra, com a protagonista precisando explorar suas relações familiares e religiosas: os avós maternos são católicos, a avó paterna é judia e os pais jogaram para a garota a responsabilidade de escolher o que ela mesma é. A compreensão destes dilemas permite à produção mostrar que a entrada na adolescência também vem acompanhada de uma série de perguntas difíceis e da capacidade de enxergar o mundo de uma forma mais ampla.
Várias destas questões são encaradas por meio da relação entre mãe e filha. O filme acompanha de perto a jornada da mãe da menina, que também está vivendo um momento de transformação, com a mudança de cidade, as novas amizades, a execução de diferentes papeis, a reaproximação da família e o amadurecimento da filha. Ainda que esta pareça ser uma personagem “menor”, a atuação de Rachel McAdams acaba sendo o coração do filme, conseguindo exprimir inseguranças por meio de sorrisos e, muitas vezes, roubando a cena.
Outro aspecto que garante o ar adorável de Are You There God? It's Me, Margaret é a ambientação nos anos 1970. O filme traz muito pouco contexto histórico, existindo dentro de sua própria bolha, mas usa a época em seus figurinos, cabelos e, principalmente, cenários. Sem celulares, as amigas precisam se encontrar presencialmente e, com menos acesso à informação para saciarem suas curiosidades, recorrem a livros de ciências, revistas masculinas e até superstições.
Em meio a produções com temáticas pesadas, Are You There God? It's Me, Margaret não passa vergonha, pois seus dilemas são válidos, sendo explorados com profundidade e delicadeza. É verdade que o longa-metragem não tem grandes ambições visuais ou narrativas, mas sua simplicidade surge como um sopro de frescor.
Outras divagações:
The Edge of Seventeen
Em resumo, trata-se de uma história de puberdade passada nos anos 1970. Margaret Simon (Abby Ryder Fortson) tem 12 anos e acabou de se mudar com os pais (Rachel McAdams e Benny Safdie), saindo da movimentada Nova York para os subúrbios de Nova Jersey. Com isso, além das saudades da avó (Kathy Bates), surge a necessidade de fazer novas amizades. Eis que surge a autoritária e sabichona Nancy Wheeler (Elle Graham), devidamente acompanhada por suas companheiras leais Gretchen (Katherine Mallen Kupferer) e Janie (Amari Alexis Price).
A dinâmica entre as meninas é particularmente divertida e se desenvolve naturalmente, o que também envolve momentos de uma crueldade inocente (que também machuca). Assim, ainda que Margaret não esteja totalmente confortável em seu novo círculo, ela se deixa levar pelas demais, que estão muito ansiosas para terem seios, menstruações e namorados.
Mas, de tempos em tempos, a atenção da menina, que deveria ir para o “bonitão” Philip Leroy (Zack Brooks), acaba desviada para outro menino, Moose Freed (Aidan Wojtak-Hissong). Para completar, ela tem uma crescente curiosidade em relação a Laura Danker (Isol Young), uma garota da sua idade que já tem um corpo de mulher.
Apenas com estes elementos, Are You There God? It's Me, Margaret já poderia ser encantador. Mas há toda uma camada extra, com a protagonista precisando explorar suas relações familiares e religiosas: os avós maternos são católicos, a avó paterna é judia e os pais jogaram para a garota a responsabilidade de escolher o que ela mesma é. A compreensão destes dilemas permite à produção mostrar que a entrada na adolescência também vem acompanhada de uma série de perguntas difíceis e da capacidade de enxergar o mundo de uma forma mais ampla.
Várias destas questões são encaradas por meio da relação entre mãe e filha. O filme acompanha de perto a jornada da mãe da menina, que também está vivendo um momento de transformação, com a mudança de cidade, as novas amizades, a execução de diferentes papeis, a reaproximação da família e o amadurecimento da filha. Ainda que esta pareça ser uma personagem “menor”, a atuação de Rachel McAdams acaba sendo o coração do filme, conseguindo exprimir inseguranças por meio de sorrisos e, muitas vezes, roubando a cena.
Outro aspecto que garante o ar adorável de Are You There God? It's Me, Margaret é a ambientação nos anos 1970. O filme traz muito pouco contexto histórico, existindo dentro de sua própria bolha, mas usa a época em seus figurinos, cabelos e, principalmente, cenários. Sem celulares, as amigas precisam se encontrar presencialmente e, com menos acesso à informação para saciarem suas curiosidades, recorrem a livros de ciências, revistas masculinas e até superstições.
Em meio a produções com temáticas pesadas, Are You There God? It's Me, Margaret não passa vergonha, pois seus dilemas são válidos, sendo explorados com profundidade e delicadeza. É verdade que o longa-metragem não tem grandes ambições visuais ou narrativas, mas sua simplicidade surge como um sopro de frescor.
Outras divagações:
The Edge of Seventeen
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