Divagações: Patti Cake$

Um dos queridinhos da temporada de festivais que abriu 2017, Patti Cake$ caiu rapidamente nas graças dos críticos, que insistiam que a at...

Um dos queridinhos da temporada de festivais que abriu 2017, Patti Cake$ caiu rapidamente nas graças dos críticos, que insistiam que a atriz principal – a desconhecida australiana Danielle Macdonald – deveria ser indicada ao Oscar. Isso dificilmente aconteceria, mas não dá para negar que a moça fez um bom trabalho e conseguiu chamar atenção suficiente para engatar outros trabalhos. Agora, ela só precisa saber como rimar sucessos sem se repetir.

Passado em New Jersey, o longa-metragem é focado em uma garota chamada Patricia Dombrowski (Macdonald), que sonha em apresentar seu rap para multidões com o nome artístico Killa P. Mas, na realidade, ela está absolutamente endividada, passa os dias cuidando de sua avó (Cathy Moriarty) e, à noite, trabalha em um bar, onde eventualmente tem que servir bebida para a própria mãe (Bridget Everett) até ela cair.

Só que esse cronograma não é tão cheio assim. Ela sempre arranja espaço para sair com seu melhor amigo, Jheri (Siddharth Dhananjay), ouvir rap e, claro, escrever suas próprias rimas. Seu maior ídolo é O-Z (Sahr Ngaujah), um cara que adora ostentar todo o dinheiro que tem e que efetivamente criou uma espécie de culto ao redor de sua imagem. Então, para mudar de vida e sair de seu marasmo, ela decide produzir um CD demo com Jheri, sua própria avó e um “mendigo” talentoso que descobriu em um festival, Basterd (Mamoudou Athie).

O que mais encanta em Patti Cake$ é justamente a protagonista. Ela é uma menina verdadeiramente inteligente e talentosa, mas ingênua. Ela tem a postura marrenta ‘correta’ na frente de seus amigos, sabe ser ousada e colocar a cara a bater, mas precisa de apoio para seguir adiante e não abaixar a cabeça frente às adversidades. Ela tem a capacidade de se destacar em batalhas de rap, mas quase chora no processo e tem medo de ofender um cara de quem gosta. Ela quer ser discípula de O-Z e literalmente sonha todos as noites com isso, mas, no fundo, não se considera à altura. Ela quer ser uma rapper e vive o dia a dia das canções, mas é uma moça comportada, educada e trabalhadora que não usa drogas. Embora ela sinta que tem a capacidade de realizar seu sonho, essa não é a voz geral e a falta de perspectivas de sua vida faz com que ela esteja sempre prestes a desistir e perder as esperanças de que pode existir algo melhor em seu futuro.

Com roteiro e direção do estreante Geremy Jasper – também responsável pelas rimas –, o filme é praticamente uma versão mais leve e sonhadora de 8 Mile. O detalhe é que, embora você saiba como as coisas vão caminhar, continua sendo interessante acompanhar essa jornada. Há uma série de coincidências e momentos forçados, mas as coisas se encaixam bem no contexto e divertem o público. Afinal, o objetivo aqui não é contar um dramalhão e também não há qualquer amarra a ‘fatos reais’. É apenas mais uma história sobre crescer, amadurecer, sonhar, se esforçar e chegar em algum lugar, ainda que ele não seja necessariamente o que foi previsto inicialmente. Ou seja, trata-se de um material digno (dos bons tempos) da Sessão da Tarde, protagonizado por uma menina branca e gordinha que quer ser uma rapper de sucesso.

Patti Cake$ também ganha pontos por seu elenco. Além de Danielle Macdonald, o filme ainda conta com um trabalho maravilhoso de Bridget Everett, que dá nuances inesperadas à relação entre mãe e filha (e avó). E não se engane: embora o filme seja muito mais leve do que outras obras do gênero, as vidas que ele retrata não são fáceis e há certo compromisso em trazer realismo a tudo o que não envolve os sonhos de sucesso e fama da protagonista.

E, obviamente, não posso deixar de falar das músicas, que realmente empolgam e dão credibilidade à produção. Por mais que a protagonista seja uma menina simples e que passa muito tempo sonhando acordada, ela também é uma pessoa estudiosa e dedicada. As letras da personagem principal fazem menções diretas a seu dia a dia, mas também são diferentes disso, trazendo um humor apurado e referências externas que implicam em uma variedade de conhecimentos de História, música e outras áreas. Talvez soe um pouco ‘bom demais’ para ela, mas é o que faz o público acreditar no potencial da garota.

Embora realmente não seja o tipo de filme que você espera encontrar nas grandes premiações, Patti Cake$ é um longa-metragem que traz alegria para o espírito e um pouco de fé na humanidade. É maravilhoso que ainda existam filmes assim.

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