Divagações: Trixie Mattel: Moving Parts

Já faz alguns anos que eu acompanho o reality show RuPaul's Drag Race . O formato não traz nada de particularmente inovador e a edição...

Já faz alguns anos que eu acompanho o reality show RuPaul's Drag Race. O formato não traz nada de particularmente inovador e a edição é até mesmo questionável – mas, convenhamos, o programa é muito divertido.

Em edições mais recentes, um dos destaques foi a drag queen Trixie Mattel, criada por Brian Firkus. Visualmente, ela é uma praticamente uma versão um pouco barata e muito exagerada da boneca Barbie – um conceito que funciona bem para uma drag queen. Em um primeiro momento, ela apresentada como uma humorista, mas acabou não conseguindo muito destaque em um programa onde há uma competição acirrada neste quesito. Posteriormente, ela se reinventou como apresentadora e música, apostando no country folk, mas sempre mantendo toques de seu humor.

Em Trixie Mattel: Moving Parts, encontramos Brian e Trixie em um momento complicado. Seu programa, feito em parceria com a drag queen Katya Zamolodchikova, está em risco – assim como a amizade entre as duas. Os preparativos para uma nova turnê estão em andamento. E é chegado o momento de ir ao ar uma nova temporada de RuPaul's Drag Race: All Stars. Com a participação nesta nova temporada, Trixie enfrenta a dicotomia de ganhar visibilidade ao mesmo tempo em que o excesso de olhares e a possível crueldade de algumas pessoas a deixam sensibilizada.

Para quem não conhece Trixie Mattel e seu criador, estas características de sua personalidade podem parecer contraditórias e estranhas. O documentário, porém, não faz muito esforço para tentar explicar por que uma pessoa aparentemente tão retraída resolveu ganhar a vida se vestindo de uma maneira absolutamente chamativa e se exibindo na frente de uma plateia. Embora um pouco de aprofundamento a respeito de quem é o retratado não fosse uma má ideia, esta é uma escolha interessante. Você não sabe os motivos daquela pessoa, mas é apresentado a ela mesmo assim.

Ainda assim, é óbvio que Trixie Mattel: Moving Parts foi feito para quem já tem algum conhecimento sobre aquela pessoa, sua carreira, seus trejeitos e suas inseguranças. Sob certos aspectos, o filme é um mergulho tímido nos pensamentos de uma pessoa confusa, que quer mostrar como sua cabeça funciona, mas não quer lidar com as consequências disso. Para os fãs de Trixie, isso pode já ser bastante interessante por si só.

No final das contas, o que aparece na tela é uma montanha russa de emoções e você se questiona se o cinto se segurança está realmente firme – não pelo seu próprio bem, mas por Brian. O filme acaba sendo difícil de assistir porque estamos acompanhando uma pessoa que parece estar sem rumo. Ao mesmo tempo, é estranho acreditar nisso. Com uma turnê em andamento e outra à vista, além da certeza de sucesso em uma competição vista em diversos países do mundo, Trixie tem um futuro muito interessante à frente. E o filme não deixa claro o que exatamente a impede de acreditar nisso.

Para os fãs, Trixie Mattel: Moving Parts é uma oportunidade de ter um acesso maior a uma personalidade que eles já aprenderam a gostar e a amar. Para quem chegou agora, no entanto, esta definitivamente não é a melhor forma de entrar nesse mundo.

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