Divagações: Soul

Já faz algum tempo que ninguém parece se importar muito com os lançamentos. Os filmes que “saíram” nos últimos meses foram poucos e, em gran...

Soul
Já faz algum tempo que ninguém parece se importar muito com os lançamentos. Os filmes que “saíram” nos últimos meses foram poucos e, em grande parte, não eram exatamente as melhores coisas que os estúdios tinham a oferecer. Além disso, o lançamento em um serviço de streaming não parecia ser capaz de criar o mesmo sentimento que uma grande estreia no cinema...

Entretanto, nos últimos dias, Soul e Wonder Woman 1984 mudaram um pouco essa história. As duas produções ficaram um tempo na gaveta, esperando as coisas se acalmarem, mas acabaram ganhando o público de casa mesmo (ao menos por aqui, onde as medidas de isolamento social continuam em vigor). Soul, em particular, mexeu com as pessoas, com uma temática bastante sensível e direcionada para fazer adultos chorarem (o fato de as pessoas estarem vivendo em meio a uma pandemia desde março “ajuda” neste ponto).

Joe (Jamie Foxx) é um cara simples, que está tentando a vida como músico de jazz em Nova York. Enquanto não consegue seu grande momento, ele dá aulas em uma escola pública e segue sonhando, o que também envolve uma dose de atritos com sua mãe (Phylicia Rashad), que deseja um pouco mais de estabilidade para o filho. Quando consegue uma oportunidade única – a chance de tocar com Dorothea Williams (Angela Bassett) – bom... Joe simplesmente cai em um bueiro (veja bem, esse ainda é um desenho animado).

A partir daí, passamos a acompanhar Joe em suas tentativas de sair do além e retornar para seu corpo, para poder viver “seu grande momento”, alcançar “seu objetivo” e realizar “seu propósito”. E, como você deve ter adivinhado, tudo isso está entre aspas por algum motivo.

No processo, ele precisa lidar com a ressentida alma 22 (Tina Fey), que está no além há muito tempo, mas não pode viver porque é incapaz de encontrar algo que a inspire. Para completar, ele precisa contornar toda uma parte burocrático-administrativa, que envolve o contador de almas Terry (Rachel House) e os conselheiros Jerry (Alice Braga e Richard Ayoade). Ainda bem que surge a ajuda do “doidão” Moonwind (Graham Norton) – ou não.

Apesar da aventura em si ser simples e da trama, no fundo, não ser exatamente inovadora, Soul se aproveita do melhor que a Pixar e o diretor Pete Docter têm a oferecer: uma boa premissa e uma sensibilidade no ponto certo. O filme é engraçado, divertido e, principalmente, reconfortante. Em algum momento durante a exibição, você percebe que realmente não se trata mais de um filme para crianças com uma mensagem que os adultos podem aproveitar. Esta é uma produção para adultos, com alguns elementos visuais que podem distrair as crianças.

Sem a necessidade de um grande vilão ou de uma reviravolta clara, Soul também evita dar respostas fáceis. Por exemplo, fica bem claro ao longo do filme que Joe é um bom professor. Ele consegue sua grande oportunidade por indicação de um aluno que o tem em alta estima. Ele inspira as crianças. É a ele que uma menina recorre quando está repleta de inseguranças. Mas o filme não troca o “propósito de sua alma” porque está muito difícil para ele se realizar enquanto músico de jazz em Nova York (o que, convenhamos, realmente é algo para poucos).

A verdade é que o protagonista muda ao longo de sua jornada – exatamente como deve ser em uma boa história –, mas as respostas são mais complexas do que se poderia imaginar em um primeiro momento, algo que não vemos todos os dias em um filme (ainda mais em uma animação para o grande público). E isso só faz com que Soul seja ainda mais tocante e tenha um alcance mais amplo.

Para completar, depois de fazer uma pausa para enxugar as lágrimas, você também vai perceber o quanto este filme é bonito. Além de um trabalho de iluminação primoroso e cenários que beiram o realismo, a Pixar também misturou referências visuais e conseguiu criar um contraste muito interessante entre a vida na Terra e o além. Inclusive, em um primeiro momento, o “lado de lá” parece fantástico e muito interessante, mas, ao mesmo tempo, ele simplesmente não consegue competir com “o lado de cá”. E quando esses dois mundos se encontram, as soluções encontradas são criativas e deliciosas de assistir.

Outras divagações:
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