Divagações: Elvis

Para começar, tenho que dizer que não sou o maior fã de Elvis Presley que já andou sobre a Terra. Não me levem a mal: não tenho nada contra...

Elvis
Para começar, tenho que dizer que não sou o maior fã de Elvis Presley que já andou sobre a Terra. Não me levem a mal: não tenho nada contra o sujeito ou a sua música. Mais do que uma questão puramente geracional (ele morreu mais de uma década antes do meu nascimento), sinto que Presley sempre foi muito ligado à cultura norte-americana, o que o afasta de grandes ícones musicais do mesmo período, que pareciam conversar com questões mais universais. 

Assim, por mais que soubesse vagamente algo sobre a vida do cantor, eu não estava particularmente empolgado para mergulhar a fundo nessa história, ainda mais porque Baz Luhrmann parece sempre dirigir filmes que ficam aquém do seu potencial, com muito estilo que substância.

E Elvis não é diferente. Narrado pelo agente e descobridor do artista, o Coronel Tom Parker (Tom Hanks), o longa-metragem acompanha toda a carreira de Elvis Presley (Austin Butler), da sua infância pobre ao estrelato e à decadência em seus anos finais de vida, incluindo a conturbada relação com Priscilla (Olivia DeJonge). Como esperado, Luhrmann dá especial ênfase para a estética dos anos 1950, o que envolve combinar a musicalidade do astro com outros ritmos e canções que o inspiraram (especialmente o R&B e o gospel negro), além de trazer os que foram inspirados por ele.

O resultado é uma salada estética bem exagerada, com toda a perfumaria que você poderia esperar do diretor. Mas não é possível dizer que, ainda que muitas vezes excessiva, essas escolhas tornem o filme mais “único” do que uma cinebiografia que siga estritamente a fórmula abusada por Hollywood nos últimos anos. Aliás, há uma estranha e gradual diminuição destes exageros visuais durante o filme, com o ato final sendo significativamente mais contido que os demais. Mas já aviso que para os que não toleram toda a maluquice e os exageros incontidos de Luhrmann: a primeira hora de filme será difícil de engolir.

Sob certos aspectos, é possível dizer que Elvis funciona como três filmes diferentes. Há a excessiva e explosiva parte inicial, que frequentemente cai na breguice e no exagero (mas que, certamente, chama atenção). Depois, no meio, os atores brilham um pouco mais e comandam a narrativa. Já a parte final se arrasta e chega a ser morosa em alguns momentos, ainda mais considerando a fadiga de uma projeção com quase três horas.

Falando nos atores, Austin Butler está absurdamente convincente no papel. Ele entrega uma performance com toda a energia demandada pelo músico e que parece captar bem as nuances da vida de Elvis Presley sem ser excessivamente apologista de seus erros (mas há, claramente, uma passada de pano aqui ou ali). Butler também tem uma ótima voz, conseguindo dar conta da tarefa hercúlea de se passar por um dos cantores mais famosos da história – mas, conforme a carreira do retratado avança e sua voz se torna mais rouca, a produção optou por “misturar” a voz do ator com gravações originais do cantor.

Infelizmente, a performance de Tom Hanks não merece os mesmos elogios. Ainda que não incomode, a maquiagem estranha e o sotaque demasiadamente carregado dão uma aura caricatural a Tom Parker, o que não funciona com os momentos de drama. Mas suspeito que o próprio Parker não colaborava, o que talvez seja a grande problemática em transformar certas figuras reais em personagens dentro de uma história que tem sua parcela de romantização. Ou seja, por mais que eu entenda que Tom Parker tenha sido fundamental para a história do cantor, ele não é uma figura tão interessante quanto o próprio rei do rock, de modo que tê-lo como narrador pode não ter sido a escolha mais sábia.

Outro ponto é que Elvis até pincela a relação do cantor com a música negra e a questão racial nos Estados Unidos, mas parece ser evasivo demais e evita fazer julgamentos. Eu gostaria de uma visão mais crítica sobre o tema, mas este é um filme de Baz Luhrmann, que prefere entregar algo superficialmente bombástico.

De qualquer modo, eu me diverti com Elvis e sei que ele é um filme competente em seu cerne. Talvez a produção se beneficiasse de uns vinte minutos a menos na sala de edição? Talvez, mas suspeito que aqueles fãs para os quais o filme apela sairão satisfeitos, e dificilmente alguém sairá ofendido disso tudo.

Outras divagações:
The Great Gatsby

Texto: Vinicius Ricardo Tomal
Edição: Renata Bossle

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