Divagações: Challengers

Depois de uma série de projetos que falharam em criar burburinho, Luca Guadagnino parece ter encontrado em Challengers uma obra mais bem p...

Challengers
Depois de uma série de projetos que falharam em criar burburinho, Luca Guadagnino parece ter encontrado em Challengers uma obra mais bem posicionada. Feito em parceria com o roteirista Justin Kuritzkes (que, apesar de ser basicamente um desconhecido em Hollywood, foi responsável pelo meme “potion seller”), Challengers é carregado da energia e da tensão sexual que tornaram o diretor conhecido em Call Me by Your Name, com uma roupagem de drama esportivo e um elenco que aproveita Zendaya no auge de sua popularidade.

A produção é centrada inteiramente na dinâmica entre três personagens: Tashi (Zendaya), Patrick (Josh O'Connor) e Art (Mike Faist). Eles são três tenistas que se conheceram na juventude e se meteram em um complicado triangulo amoroso que definiu suas vidas.

Tashi, a mais ambiciosa e talentosa do grupo, teve de se aposentar prematuramente devido a uma lesão, vivendo seus sonhos vicariamente como treinadora e esposa de Art. Ele, por sua vez, mesmo tendo se tornado um dos mais famosos tenistas do mundo, agora sofre com uma série de derrotas e problemas de confiança, especialmente quando precisa enfrentar seu antigo parceiro de duplas e ex-namorado de Tashi. Patrick, aliás, mesmo em um estágio decadente de sua carreira, jamais perdeu uma partida contra Art.

Indo e vindo através do tempo, Challengers é extremamente competente em situar as dinâmicas emocionais de seus personagens, com cada flashback adicionando uma nova peça do quebra-cabeças que redefine os relacionamentos no presente. Embora não exista nenhuma reviravolta radical, a maneira que todas essas informações são distribuídas e o que elas representam no plano geral são mais do que o bastante para envolver. Para completar, o filme transborda energia com um trabalho de câmera bastante ousado e uma boa trilha sonora que casa bem com esse clima.

A química entre os atores está no ponto, de modo que a produção vende a tensão sexual crescente entre eles. Mike Faist parece um pouco apagado lá pela metade do filme, quando seu personagem se torna mais uma peça no jogo do que alguém realizando as jogadas, mas sinto que ele recupera um pouco da presença e do protagonismo. Josh O'Connor certamente tem um papel um pouco mais interessante, embora seja Zendaya quem carregue a trama nas costas; o filme dificilmente funcionaria do mesmo modo sem ela.

O jogo de tênis em si nada mais é do que uma extensão dessa dinâmica romântica e sexual. Apesar de espelhar bem o relacionamento dos personagens, ele acaba tendo pouca centralidade; ainda assim, as partidas são suficientemente empolgantes para não passarem em branco. Inclusive, a principal disputa é responsável por um retorno emocional que, mesmo sendo meio previsível, funciona como a grande catarse da trama.

No entanto, acredito que essas sequências de jogo por vezes tiveram um excesso nos efeitos cinéticos de câmera e slow-motion. O resultado me pareceu um pouco exagerado e desnecessário, especialmente nas cenas que usam mais fortemente de efeitos visuais.

Challengers pode ser um filme complicado para quem não se sentem confortável com a constante sexualidade da história e/ou com o clima meio novelão (às vezes, no melhor dos sentidos), mas a energia constante e a execução competente fazem com que esse seja um filme sólido; um sopro de ar fresco em meio a uma série de produções bem mais estruturalmente convencionais. Challengers pode não ser o longa-metragem mais revolucionário do mundo, mas é o tipo de filme em que é difícil achar grandes defeitos e, certamente, faz valer o preço do ingresso.

Outras divagações:
Call Me by Your Name
Suspiria

Texto: Vinicius Ricardo Tomal
Edição: Renata Bossle

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