Divagações: Now You See Me: Now You Don't

Now You See Me: Now You Don't

Sou forçado a admitir que tenho certo carinho pela série Now You See Me, ainda que ela seja meio apalermada e frequentemente não faça nenhum sentido. Para mim, ela toca em um nicho específico de “filmes de matinê” que me divertem e que não vejo muito por aí. 

Como já se passaram quase dez anos desde a estreia de Now You See Me 2, que teve uma recepção meio xoxa, eu até acreditei que a série tinha desaparecido.  Mas, na mágica, tudo que desaparece vai reaparecer em algum ponto. Now You See Me: Now You Don't faz jus a essa afirmação e é quase que uma “legacy sequel” do filme de 2013 – bizarro, mas não exatamente inesperado.

Dentro do universo, também já faz dez anos desde a última aparição pública dos Cavaleiros, o grupo de ilusionistas justiceiros que abalaram o mundo com seus truques. Ainda assim, alguns jovens talentosos – Charlie (Justice Smith), Bosco (Dominic Sessa) e June (Ariana Greenblatt) – espelham-se neles e mantêm a reputação do grupo viva ao usar do nome de seus antecessores para praticar golpes contra ricaços corruptos e coisas do tipo. 

Obviamente, estas ações acabam chamando a atenção de J. Daniel Atlas (Jesse Eisenberg), que diz que eles foram recrutados pelo Olho, a organização secreta de mágicos (e que aparentemente usa magia de verdade), para realizar um golpe contra Veronika Vanderberg (Rosamund Pike), a herdeira de uma companhia de mineração que financia o crime organizado mundial por baixo dos panos. Para isso, o grupo terá de recrutar antigos colegas e viajar pelo mundo, tentando roubar um diamante inestimável que foi a base da fortuna dos Vanderberg.

Como eu mencionei, Now You See Me: Now You Don't mantém uma estranha similaridade com as legacy sequels – ou seja, sequências para séries que, depois de um bocado de tempo inativas, voltam com atores antigos e novos tentando capitalizar na nostalgia alheia (pense em coisas como Creed ou Top Gun: Maverick). Mas isso está acontecendo muitos anos antes de alguém realmente sentir falta dessas produções.

Assim, o filme é bizarramente inchado, trazendo não só um trio de personagens novos e com suas próprias histórias, como todos os protagonistas dos dois filmes anteriores, incluindo até mesmo aparições de Morgan Freeman e Mark Ruffalo. Com essa gente toda e enxutas uma hora e cinquenta de filme, sobra pouco tempo para se respirar, de maneira que todos os personagens acabam reduzidos a meros arquétipos e/ou ornamentos de cena.

Ao mesmo tempo, não acho que essa fosse uma prioridade para a produção. Como sempre, a graça está em ver as maneiras mais estapafúrdias com que os personagens usam de trucagens de ilusionistas de palco para realizar assaltos por aí. E, isso, o filme continua fazendo bem, mesmo que os golpes em si tenham perdido um pouco de complexidade porque há uma infinidade de outras coisas e personagens.

De qualquer modo, a esta altura, o público-alvo de Now You See Me: Now You Don't já está bem estabelecido. Se você gosta dos demais, esse aqui vale a pena. Mesmo não sendo o melhor da trilogia, ele é comparável ao segundo e parece bastante disposto a retomar a série em um futuro próximo. Inclusive, ele já estabelece textualmente que o quarto filme vem aí (com a confirmação de que ele está sendo desenvolvido). 

Ainda que o novo elenco não tenha me convencido completamente e as “habilidades” de cada um deles não me pareçam tão interessantes, uma história com um pouco mais de foco e que não precise fazer malabarismos com nove personagens diferentes pode trabalhar melhor com os elementos na mesa. Mas garanto que, por aqui, há pelo menos uma sequência bem interessante, mesmo faltando ao diretor Ruben Fleischer o “flair” visual para ação que Louis Leterrier teve no primeiro filme.

Mas é isso aí. Now You See Me: Now You Don't continua bobo, continua divertido e continua absurdo. Não tão bobo, divertido e absurdo quanto poderia ser, mas em um nível totalmente aceitável. Assim, ainda tenho um quinhão de boa vontade para ver um quarto filme e espero que eles aprendam com os erros deste daqui.

Outras divagações:
Now You See Me
Now You See Me 2

Texto: Vinicius Ricardo Tomal
Edição: Renata Bossle

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