Você sabe que a temporada de premiações está chegando quando produções como The Smashing Machine chegam aos cinemas. Um filme muito bem produzido, baseado em uma história real, com performances muito elogiadas e com um detalhe que o separa dos demais – e que, se funcionar bem, pode levar toda a equipe para o tapete vermelho do Oscar.
Neste caso, o tempero é a inesperada presença de Dwayne “The Rock” Johnson em um filme “sério”, com direito a muitas próteses e um trabalho caprichado de maquiagem, além de um trabalho de voz caprichado – tudo para deixar o ator tão parecido com o retratado a ponto de emocionar seus familiares. Para completar, trata-se da primeira aposta da A24 com filmagem para IMAX; e com um orçamento que acompanha a jogada.
Passado majoritariamente no final dos anos 1990, The Smashing Machine acompanha os momentos iniciais do que hoje conhecemos como MMA (sigla em inglês para artes marciais mistas), com direito a campeonatos de Vale Tudo e vislumbres de jiu-jítsu brasileiro. Neste contexto, Mark Kerr (Dwayne Johnson) surge como uma grande promessa, vencendo uma série de lutas e, ao mesmo tempo, apresentando ao mundo uma personalidade equilibrada e calma fora dos ringues.
Mas nem tudo é o que parece. Em casa, Kerr vive um relacionamento passivo-agressivo com sua esposa Dawn Staples (Emily Blunt) e a única pessoa que parece ver seu lado real é seu melhor amigo, o também lutador Mark Coleman (Ryan Bader). Para completar, quando a pressão das lutas quebra sua fachada bem construída, começa a ficar evidente que ele tem um problema crescente com remédios para dor.
Com esta estrutura e premissa, você sente que sabe exatamente para onde The Smashing Machine está te levando. Contudo, por se basear em coisas que realmente aconteceram, o filme consegue dar umas voltas que só a vida real é capaz de inventar. Claro que, se você é um fã do esporte – o que não é o meu caso –, suponho que dá para saber o que vai transcorrer, mas quero acreditar que a expectativa faz o caminho valer a pena.
Dito isso, The Smashing Machine é um daqueles filmes que faz o básico muito bem. Não há grandes estripulias narrativas ou tentativas de reinventar a roda, mas há um foco real em permitir que os atores brilhem e entreguem o seu melhor. Isso vale especialmente para Johnson, mas também é verdade para o estreante Ryan Bader, que é mais conhecido por suas conquistas nos ringues.
Há quem diga que, neste processo, o filme se distancia da estrutura esperada das produções sobre esportes (ou, mais especificamente, lutas). A verdade é que realmente não somos levados para dentro das cordas e nem acompanhamos o impacto de cada soco, mas seguimos o protagonista de perto quando ele decide sair dos bastidores para ir reclamar com um executivo específico sobre a arbitragem. Ou seja, é outro tipo de filme (mas não se preocupe: tem montagem de treinamento).
Particularmente, um aspecto que chama atenção é a preocupação em fazer com que os atores soem como seus retratados. No caso de Blunt, seu sotaque britânico desapareceu por completo, enquanto Johnson precisou também emular uma pessoa bastante conhecida pelo contraste entre a suavidade de seus modos e a agressividade nas lutas. Para ambos, o resultado demonstra que houve uma dedicação real.
Inclusive, a dinâmica entre estes dois atores também se destaca e é um dos principais aspectos que fazem The Smashing Machine funcionar tão bem. Quando o filme começa, o público já encontra um relacionamento estabelecido, então, não há olhares apaixonados e a construção de um romance, mas o retrato de uma convivência que dá sinais de desgaste e que demonstra a necessidade de esforço mútuo para seguir em frente, o que nem sempre acontece.
O detalhe é que escrevo isso mesmo sabendo que, provavelmente, The Smashing Machine não está mais em cartaz na sua cidade. Em Curitiba, a produção ficou pouco tempo nos cinemas e, depois da estreia, as salas e os horários já ficaram bem restritos. De qualquer modo, se surgir a oportunidade, dê uma chance.

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