Divagações: Up in the Air
25.1.10Não sei bem onde ou quando eu li ou ouvi que, em Up in the Air, George Clooney está tentando provar que é um bom ator. Sinceramente, não acho que ele tenha dado grandes demonstrações disso. Mas por opção própria. Embora ele carregue o filme, o importante em Up in the Air é o roteiro muito bem escrito. Essa é a principal atração.
Com isso, não quero dizer que o trabalho de Clooney decepcione. Ele o fez muito bem e merece as indicações que tem recebido, não que vá ganhar algo com grandes proporções. Up in the Air não é um típico filme premiado, mas é um filme memorável. É gostoso de ver e tem uma mensagem bonita sem ser piegas.
A trilha, que já mencionei anteriormente, dá uma boa idéia de como é o estilo do filme. Basicamente, é a história de Ryan Bingham (Clooney), um cara que ganha a vida demitindo pessoas e viajando muito para isso, quando ele cruza com duas mulheres: Alex (Vera Farmiga, ótima) e Natalie (Anna Kendrick). A primeira é uma mulher madura que leva um estilo de vida similar ao de Ryan e que o encanta com sua “flexibilidade”. Já Natalie é uma jovem cheia de ideias que pode acabar com o emprego perfeito de Ryan ao propor demissões por videoconferência.
Essas duas mulheres viram a vida de Ryan de ponta cabeça, colocando novas ideias e possibilidades em sua mente destinada tão somente em atingir 10 milhões de milhas aéreas.
Assista Up in the Air. Mas não faça isso esperando ver uma grande produção. Deixe sua mente vagar pelas belas paisagens vistas da janelinha do avião. Assista um filme legal, legal no sentido George Clooney: cool.
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Reitman já nos deu os ótimos “Obrigado Por Fumar” e “Juno” e acerta mais uma vez. Parece escalar seu lugar entre os poucos diretores americanos que vão virar cult para quem aprecia a arte do cinema. Clooney está excelente como o executivo que se hipermaterializa e desmaterializa todo o resto. Não quer amarras, não acumula bens nem relações pessoais. Curte adoidado sua vida em classes executivas de aviões e hotéis, racionaliza ao máximo o que leva consigo e não quer mais, raramente volta para um kitinete vazio que lhe serve de “lar” e não lhe faz falta. Para acentuar esta figura egocêntrica, sua função é uma das mais “sujas” do mundo corporativo: despedir pessoas em nome dos chefes que não têm coragem para isto. Mais: faz proselitismo deste desprendimento dando palestras onde recomenda que se deixe tudo para trás. Seu erro é defender o desapego não só de coisas, o que faz muito bem e sem remorsos, mas também de pessoas e relações afetivas. A entrada em cena de uma executiva viajante independente e bem sucedida, seu equivalente feminino, faz prever que virão mudanças. O acréscimo de uma colega geração Y, jovem e com visão virtual de mundo, desconectada das pessoas reais, que quer substituir seu trabalho por uma conexão de internet faz com que ambos tenham de explorar o lado humano de seu ofício desumano. Uma incursão à cidade natal e à família que resta cria certa carência de afeto, mas ao mesmo tempo ele não gosta do pacote que vem junto. Tenta negociar com a vida e achar uma solução ideal: manter seu estilo de vida e construir uma relação afetiva. Quando tudo prenuncia um meloso e óbvio final romântico, Reitman puxa o tapete. O manipulador acaba se vendo manipulado por alguém com estilo de vida muito mais convencional do que ele imaginava. O roteiro é brilhante e cruel, lida com um embate entre materialismo e afeto e não toma partido, estraçalha tudo. Clooney pode ser uma solução mais humana do que uma vídeochamada pela internet, mas ainda é um manipulador cínico e destruidor de sonhos. A vida familiar na pequena cidade natal pode dar certo conforto afetivo, mas ainda é medíocre. Seu romance com a executiva pode dar ar humano a sua vida, mas tem sérios limites. E não há resposta final para ninguém sobre desprender-se ou apegar-se.
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