Divagações: The Runaways

Eis que é divulgado um filme sobre um grupo de rock feminino criado em 1975. Tratando abertamente sobre drogas, lesbianismo, mudanças de ...

Eis que é divulgado um filme sobre um grupo de rock feminino criado em 1975. Tratando abertamente sobre drogas, lesbianismo, mudanças de costumes e outros assuntos polêmicos, essa normalmente seria uma produção menor, voltada para um público mais seleto e de cabeça aberta, não às grandes massas. Ainda mais considerando que o longa-metragem teve a direção e o roteiro da artista Floria Sigismondi.

No entanto, The Runaways escalou Dakota Fanning e Kristen Stewart para os papéis principais, causando certa estranheza. Afinal, a primeira é uma menina delicada que atua desde pequena em filmes de grandes diretores, enquanto a segunda é a estrela de uma franquia de sucesso. Além disso, duas das integrantes da banda (Lita Ford e Jackie Fox) não ‘venderam’ a história de suas vidas para o filme, de modo que se transformaram em personagens bem secundárias.

The Runaways conta a história da banda de mesmo nome, criada pela guitarrista Joan Jett (Kristen Stewart) e pelo produtor musical Kim Fowley (Michael Shannon). Formado apenas por mulheres, algo inovador na época (e que ainda não se vê todo dia), o grupo precisava não apenas tocar bem, mas ter um visual arrojado. Assim, chamaram a vocalista Cherie Currie (Dakota Fanning) para integrar a equipe que também contava com Sandy West (Stella Maeve), Lita Ford (Scout Taylor-Compton) e Robin (Alia Shawkat).

No decorrer de The Runaways vemos as relações de amizade se formando, as dificuldades do início de carreira e os primeiros contatos com as drogas. A diversão, o aspecto inovador da banda e o produtor disposto a trabalhar a imagem pública das meninas faz com que o estouro seja rápido – e fatal. Os egos começam a se confrontar e a falta de preparo emocional de Cherie, aliada ao vício de drogas, faz com que a harmonia – que nunca foi exatamente um forte da banda – sofresse ainda mais.

Baseado no livro autobiográfico da própria Cherie Currie, o filme se concentra mais nela e em suas relações familiares: o pai alcoólatra (Brett Cullen), a mãe que se mudou para a Indonésia (Tatum O’Neal) e a irmã um pouco mais equilibrada, Marie (Riley Keough). Assim, não é à toa que o filme diminua um pouco o impacto das ações da moça, que, no período em que a história se passa, tem entre 15 e 16 anos. Por mais que às vezes Dakota Fanning pareça sem jeito em suas cenas sensuais, a idade e a inexperiência são boas justificativas.

Mesmo assim, The Runaways não deixa de trazer as loucuras do período. As drogas são liberadas, não há ninguém controlando o comportamento das garotas e acontece de tudo. Visualmente, o filme assume a câmera na mão e a estética de documentário, carregando nas cores e perdendo o controle ao mesmo tempo em que a história também começa a sair do rumo. Embora tenha seus bons momentos, o filme se perde em meio às boas intenções e acaba mais suave do que deveria.

De qualquer modo, ao mesmo tempo em que adora o rock, o filme mostra um período de decadência. Os Beatles já haviam acabado e Elvis Presley estava divorciado de Priscilla. Por mais diferente que a banda pudesse ser, o mercado estava saturado e era preciso muito mais que loucuras e um visual atraente para conseguir público. Provavelmente, a única pessoa da banda que percebeu a necessidade de boa música foi Joan Jett, que também foi quem teve a carreira mais longa e lembrada. Seguindo a mesma linha de raciocínio, é necessário mais que estrelas, publicidade e algumas polêmicas para fazer um bom filme. The Runaways tenta e quase consegue, assim como a banda.

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1 recados

  1. Tem aquela sensação de que "falta algo", mas é um bom filme. Tem uma direção bacana e boas atuações.

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