Divagações: Carnage
6.12.12
Um filme passado na sala de um apartamento parece coisa dos primórdios do cinema ou de obras experimentais. No entanto, Roman Polanski sabia muito bem o que estava fazendo quando escolheu Carnage. Tanto é que ele se cercou de bons atores, capazes de dar conta do recado: Jodie Foster, Kate Winslet, Christoph Waltz e John C. Reilly. Já o roteiro foi escrito pelo próprio diretor em parceria com a autora da peça, Yasmina Reza.
A história é muito simples. Dois meninos tiveram uma discussão e um acabou batendo no outro com um pedaço de pau, quebrando dentes e danificando um nervo. Para esclarecer a situação e deixar tudo em panos limpos, os pais resolveram se encontrar civilizadamente. O problema é que gente grande gosta de dificultar as coisas e o que era para ser um encontro rápido acaba se tornando o pior dia na vida de cada um deles.
Jodie Foster é a dona da casa, inicialmente querendo causar uma boa impressão; John C. Reilly é o marido simpático e acolhedor; Kate Winslet é a senhora elegante e compreensiva; e Christoph Waltz é um pai muito ocupado. Com o tempo, cada um deles vai mostrando seu lado sombrio. Aparecem sentimentos egoístas e todas as primeiras impressões vão sendo destruídas – a aparente desconstrução é, na verdade, uma constante construção dos personagens.
Para quem tem medo de sentir claustrofobia já aviso que acontecem pequenas coisas fora da sala de estar. Os créditos iniciais e finais mostram uma praça com meninos brincando e em alguns breves momentos vemos o corredor do prédio, a porta do elevador, relances do quarto do casal e de um banheiro. Mesmo assim, não se trata de um cenário de teatro com apenas três paredes. É uma sala completa, cheia de elementos decorativos e muito bem explorada no decorrer do filme. Ela tem personalidade e diz muito sobre as pessoas que moram naquele ambiente.
Outro aspecto interessante em Carnage é a mudança de alianças. Ora os casais estão unidos, ora temos uma disputa de homens versus mulheres. Quando a bebida entra na conta, os textos se tornam mais explosivos e situações que forçam a barra mantém a tensão bem esticada. Assim, o filme explora uma montagem dinâmica para afastar o tédio. Embora o filme seja classificado como comédia, o objetivo dele não é fazer você rir, mas mostrar como as pessoas podem ser absurdas, complicadas, hipócritas e contraditórias. O pior é pensar em como você se sairia durante uma situação como essa.
Quem estiver interessado em algo diferente, pode ir ao teatro sem sair de casa e assistir praticamente dentro do palco. Os atores são fantásticos, o texto é muito bem encadeado e toda a experiência é muito válida. Para aqueles que se assustaram com o título (realmente, ele é bem forte), garanto que ele é explicado no decorrer do filme e que não há matanças ou sequer sangue.
Complementando, eu aprendi uma lição muito importante com Carnage: nunca, sob hipótese alguma, misture bolo de maçã e pera, uma boa discussão e Coca-Cola quente. Ainda mais com livros de arte por perto.
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