Divagações: Driving Miss Daisy

Quando Alfred Uhry se baseou em sua própria avó para escrever Driving Miss Daisy , ele utilizou de uma simples relação entre dois person...

Quando Alfred Uhry se baseou em sua própria avó para escrever Driving Miss Daisy, ele utilizou de uma simples relação entre dois personagens para explicar o mundo que os cercava. Com uma história simples, personagens aparentemente chatos e sem muito compromisso com grandes emoções, o filme não parece ter muito apelo e, provavelmente, nada além da fama que o cerca faz com que as pessoas ainda se sentem na frente da televisão para assisti-lo. Talvez seja justamente por isso que a experiência é tão agradável.

Inicialmente uma peça de teatro que depois foi adaptada pelo próprio autor, Driving Miss Daisy conta a história de uma senhora judia chamada Daisy Werthan (Jessica Tandy) e seu motorista, Hoke Colburn (Morgan Freeman). Passado em Atlanta nas décadas de 1950 e 1960, o filme trata sobre preconceitos, mudanças na sociedade e a capacidade das pessoas de lidarem com as diferenças.

Orgulhosa de sua independência conquistada com muito esforço, Daisy é contrária a ideia de contratar um motorista, mas sua idade e o fato de ter provocado um pequeno acidente ao confundir as marchas, fazem com que nenhuma companhia de seguro a aceite. Assim, ela se vê tendo que aceitar a presença de um estranho dentro de sua casa – não sem relutância. Por sua vez, Hoke Colburn é um senhor honesto que quer se sentir útil e tem certa segurança de estabilidade no emprego, uma vez que foi contratado pelo filho de Daisy, o empresário Boolie Werthan (Dan Aykroyd). Obviamente, uma convivência de vinte anos transforma esse relacionamento em uma amizade.

Com uma charmosa (embora datada) trilha sonora de Hans Zimmer, o filme segue seu caminho em um bom ritmo. O diretor Bruce Beresford parece ter apenas deixado tudo fluir, guiado por um bom texto e ótimos atores – o trabalho parece tão fácil que nem ao menos deram a ele uma indicação ao Oscar. A duração de apenas uma hora e meia faz com que o filme termine antes que o espectador sequer olhe o relógio, ainda mais quando a pessoa em questão está acostumada com os longos dramas dos últimos tempos.

A propósito, uma das melhores coisas sobre Driving Miss Daisy é que o filme não apela para sentimentalismos. Afinal, temos como protagonistas uma senhora ranzinza e um empregado enxerido, nenhum dos dois estando muito disposto a grandes envolvimentos emocionais com o outro. Os pequenos momentos de carinho, assim, se tornam especiais e aparecem com delicadeza ao longo da história.

Talvez o único aspecto negativo seja a estranha transição de tempo. Os carros mudam, os cabelos vão se tornando mais brancos e as rugas ficam mais evidente, mas nada é muito bem demarcado. Aquela mulher que já parecia ter certa idade no começo do filme fica ainda mais velha, mas os hábitos se mantêm. Desse modo, semanas, meses e anos se passam como se tudo tivesse acontecido ontem. Não que isso chegue a trazer grandes prejuízos para a obra.

Ao final, Driving Miss Daisy equilibra muito bem tempos conturbados com o absurdo das pessoas, mostrando que nada supera uma boa amizade. Eis outro diferencial do filme (mesmo tendo sido lançado em 1989, ele continua único!), ao invés de se preocupar com romances e grandes acontecimentos, ele trata da amizade e das pequenas coisas do dia a dia – como a lata de salmão que simplesmente sumiu do armário ou a horta plantada atrás da garagem.

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