Divagações: Os Penetras

Ir ao cinema para assistir uma comédia nacional pode ser considerado um ato de coragem. Por mais que haja muita coisa boa no gênero, os e...

Ir ao cinema para assistir uma comédia nacional pode ser considerado um ato de coragem. Por mais que haja muita coisa boa no gênero, os exemplos da televisão deixam uma sensação ruim repleta de bordões, piadas repetitivas e poucos momentos verdadeiramente engraçados. A princípio, todos os materiais de divulgação de Os Penetras pareciam caminhar nesse sentido e nem mesmo a presença de Marcelo Adnet (um humorista do qual já gostei mais), Mariana Ximenes e Andrea Beltrão estavam ajudando em coisa alguma.

A história, para completar, não traz grandes inovações. Beto (Eduardo Sterblitch) é um homem apaixonado que levou um fora e está prestes a cometer suicídio. Por um acaso, ele acaba sendo salvo por um malandro golpista do Rio de Janeiro, Marco Polo (Marcelo Adnet). Ao lado de seu parceiro Nelson (Stepan Nercessian), Marco Polo finge ajudar o ingênuo Beto a recuperar sua amada, entrando de penetra em diversas festas frequentadas pela bela Laura (Mariana Ximenes) e seu amante ricaço Anchieta (Luiz Gustavo).

Não querendo ser moralista, mas já sendo, os personagens principais de Os Penetras fazem coisas horríveis como se tudo estivesse bem, não se sentem mal com isso e você deveria torcer por eles e rir de suas trapalhadas. Não dá nem para dizer que, no fundo, eles têm o coração no lugar, pois isso não fica bem claro. Tirando essa questão do caminho (o que não é muito fácil se você mantiver o cérebro ligado), até dá para embarcar.

Afinal, a graça toda está nas aventuras enfrentadas pelos rapazes para entrarem nas festas e manterem a pose. No processo, eles acabam encontrando uma russa animadinha (Elena Sopova), policiais violentos (Babu Santana e Xando Graça), uma ricaça com instintos bem aguçados (Susana Vieira) e carros legais. Para combinar com a época do ano, tudo termina com um maravilhoso réveillon e uma queima de fogos caprichada (e bem feita, o que é raro de se ver na telona). No geral, tudo é bem entrelaçado e equilibrado, de modo que nenhum personagem chega a cansar, o que representa outro ponto positivo do filme.

Mais preocupado com a história a ser contada que com uma sucessão de piadas, o diretor e roteirista Andrucha Waddington acabou não entregando o filme mais engraçado que você já viu na vida, embora haja alguns bons momentos. A melhor surpresa foi a presença de Eduardo Sterblitch, que consegue manter crível um personagem cheio de irregularidades. Mais conhecido por interpretar Freddie Mercury Prateado, Sterblitch aproveitou bem essa oportunidade de fazer algo diferente e mostrar seu trabalho.

Os Penetras, claro, não é um filme imperdível e até recomendo que esperem sua chegada à televisão, principalmente se você não é fã de ninguém envolvido na produção. O humor não traz nada de novo e as famosas paródias de Marcelo Adnet só podem ser vistas brevemente durante os créditos. Aliás, os erros de gravação e momentos mais descontraídos exibidos após o filme seguraram boa parte dos espectadores no cinema, mostrando que as pessoas estavam abertas para um pouco a mais.

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