Divagações: The Imitation Game
14.1.15
Quem gosta de informática, matemática ou criptografia já deve ter se deparado com a história de Alan Turing, um renomado pesquisador britânico que muitos consideram o pai da computação moderna e cujo trabalho pode ter sido fundamental para diversas vitórias inglesas durante a 2ª Guerra Mundial. Contudo, por mais importante que a contribuição de Turing tenha sido para o esforço de guerra, dificilmente era uma história digna de filme, não tendo o glamour e a ação necessária para um thriller de espionagem ou a densidade emocional para se tornar um grande drama.
Deste modo, não era estranho questionar o potencial cinematográfico de The Imitation Game, já que diversas concessões teriam que ser feitas para tornar o filme não apenas palatável para o grande público, mas também uma obra capaz de bater de frente com outros grandes nomes durante a temporada de premiações.
Alternando entre diversas épocas, o filme acompanha a trajetória pessoal de Alan Turing (Benedict Cumberbatch) e seu trabalho como uma das principais figuras de um projeto secreto do governo britânico que buscava decodificar as cifras usadas nas comunicações de guerra nazistas. A personalidade única de Turing o leva a entrar em conflito com o alto escalão militar, personificado pelo comandante Denniston (Charles Dance), que vê os projetos megalomaníacos como um desperdício de tempo e dinheiro; visão compartilhada até mesmo por alguns de seus colegas de equipe, como Hugh Alexander (Matthew Goode), que inicialmente também discorda dos métodos empregados. A situação só começa a mudar com a chegada de Joan Clarke (Keira Knightley), uma talentosa matemática que logo cai nas graças de Turing, tornando-se uma valiosa aliada e amiga.
Primeiramente, não há como deixar de falar da excelente atuação de Benedict Cumberbatch. Apesar do tipo de papel estar se tornando um pouco cansativo para o ator (aquele do gênio incompreendido, socialmente inapto e sexualmente ambíguo), não há como negar que houve um trabalho minucioso para composição de personagem, conseguindo dar toda uma carga dramática e camadas de humanidade para alguém que, à primeira vista, é frio e distante. O elenco de apoio, apesar de não brilhar tanto, também é bastante competente – Keira Knightley, por exemplo, serve como um bom contraponto ao protagonista, funcionando como uma ligação aos aspectos mais mundanos da vida.
Mas, como disse anteriormente, o filme peca justamente em sua ânsia de tornar a história mais interessante ou dramática. Apesar de não ser especialmente crítico nestes aspectos, as diversas incongruências históricas e ‘adaptações’ feitas sobre os fatos reais acabaram incomodando um pouco, sobretudo o esforço empregado para fazer com que Turing fosse percebido como um grande gênio e visionário que trabalhou sozinho contra todos as chances, quando a verdade é que, como em todo o processo científico, suas descobertas foram o resultado de um esforço de muitos indivíduos em diversos momentos e locais.
Ao menos o resultado final de The Imitation Game é bastante satisfatório, entregando uma narrativa instigante e gerando empatia por aqueles personagens. As idas e vindas no tempo – que explicam um pouco sobre a infância e o destino de Turing no pós-guerra –, apesar de um pouco mal encaixadas no contexto geral, também ajudam a valorizar o aspecto mais dramático do filme. De vez em quando, elas são um pouco expositivas demais ao enfatizar o preconceito e a discriminação sofrida pelo matemático durante sua vida, de modo que certas decisões acabam soando um pouco baratas e calculadas demais, ainda que bem intencionadas.
Enfim, não há como dizer que esse não seja um bom filme, ainda mais pelo grande cuidado da produção em fazer algo tecnicamente invejável, com uma ótima ambientação da Inglaterra nos anos 1940, e uma direção competente do norueguês Morten Tyldum, que tem neste filme seu debut no grande circuito hollywoodiano. Ainda que não seja uma obra-prima, The Imitation Game merece ser assistido nos cinemas.
Texto: Vinicius Ricardo Tomal
Edição: Renata Bossle
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