Divagações: The Theory of Everything

Mesmo para quem não é lá muito chegado às ciências, é difícil negar que Stephen Hawking é uma das maiores e mais conhecidas personalidad...

Mesmo para quem não é lá muito chegado às ciências, é difícil negar que Stephen Hawking é uma das maiores e mais conhecidas personalidades da cosmologia moderna.  Quer seja por suas ideias inovadoras no campo da física teórica, quer seja por ser um sujeitinho franzino em uma cadeira de rodas e voz de robô, é inegável que Hawking já faz parte do imaginário popular.

Como o grande ícone que é, somado ao seu histórico de superação e das suas condições únicas, era apenas uma questão de tempo para que Hollywood se metesse a contar a trajetória do cientista. Porém, eu não imaginava que isso ocorreria ainda em seu período de vida, ainda mais lançado quase que simultaneamente a The Imitation Game, outra cinebiografia que, pasmem, conta a história de um renomado pesquisador britânico.

Diferente do que o título poderia indicar, contudo, The Theory of Everything se presta muito pouco a discutir as ideias ou conceitos apresentados por Hawking em seu trabalho (que por si só já renderiam outro longa). O foco está nele como pessoa, passando para a relação entre Stephen Hawking (Eddie Redmayne) e sua ex-exposa, Jane (Felicity Jones), desde seu encontro na época de faculdade, durante os anos 1960, ao aparecimento da terrível doença que levou a paralisia de todo o seu corpo nos anos subsequentes, tal como as consequências que esta teve em sua vida e em sua pesquisa.

O toque de drama pessoal, apesar de dar espaço para uma brilhante atuação de Eddie Redmayne – talvez a mais impressionante e bem realizada desse último ano –, acaba tornando o filme um pouco enfadonho e sem grandes surpresas, não conseguindo entregar um roteiro a par de seu elenco. Tudo é muito linear e previsível. Emocionante? Pode se dizer que sim, porém, ainda tudo muito pequeno e pálido perto da grandiosidade do próprio trabalho do cientista, que questiona o tempo, a natureza do universo, a existência de Deus e os limites da racionalidade humana, assuntos que são mencionados apenas de passagem e sem grande alarde.

A situação se torna ainda pior se colocarmos este filme lado a lado com The Imitation Game (comparação essa que é inevitável nas atuais circunstâncias). Enquanto o filme estrelado por Benedict Cumberbatch se utiliza de certa licença poética para transformar Alan Turing em um herói de guerra em meio a uma trama de conspirações e espionagem, The Theory of Everything faz o caminho contrário, reduzindo um grande cientista a sua vida cotidiana e a algumas poucas ideias jogadas ao vento.

Contudo, talvez eu esteja sendo um pouco duro demais, pois a intenção do diretor James Marsh foi claramente humanizar e trazer para perto não apenas as lutas de Hawking contra a sua doença (ainda que para isso algumas concessões tenham sido feitas para torná-lo um personagem mais simpático ao público). O filme ainda traz a maneira como Jane lidava com a situação e o peso do relacionamento, o que não surpreende, tendo em vista que o filme é baseado em um livro de sua autoria. Nesse aspecto, o longa é bastante competente, ainda mais porque Felicity Jones consegue entregar o suporte emocional necessário para impedir que o filme se torne uma música de uma nota só, adicionando uma pitada de romance em toda essa mistura.

No final, pode-se dizer que o filme, apesar de suas grandes qualidades e da sua competência técnica, fica aquém do seu potencial, sendo uma obra verdadeiramente irregular e com alguns altos e baixos, mas nada que a desqualifique como algo que merece ser visto. Com isso, The Theory of Everything talvez não seja a primeira opção de filme para ver no final de semana, sobretudo com tantas outras boas estreias, mas vale o ingresso, nem que seja para poder tirar suas próprias conclusões.

Texto: Vinicius Ricardo Tomal
Edição: Renata Bossle

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