Divagações: The Adventures of Priscilla, Queen of the Desert

Começo com uma curiosidade: a Priscilla do título do filme não é a personagem de Hugo Weaving , mas o nome do ônibus em que as três prota...

Começo com uma curiosidade: a Priscilla do título do filme não é a personagem de Hugo Weaving, mas o nome do ônibus em que as três protagonistas viajam. Dito isso, vale observar que esse é um filme passado no deserto australiano e não em Los Angeles, uma localidade que seria tradicionalmente mais receptiva a performances como essas.

Para quem não conhece (se é que existe alguém!), The Adventures of Priscilla, Queen of the Desert acompanha três drag queens que partem em um ônibus aos pedaços para fazer apresentações em um hotel australiano. Adam Whitely/Felicia Jollygoodfellow (Guy Pearce) é a novata do grupo, está super empolgada e irrita um pouco as demais; Ralph Waite/Bernadette Bassenger (Terence Stamp) é a mais experiente do grupo, quer ser mulher e sofre com a recente morte de seu companheiro; por fim, Anthony Belrose/Mitzi Del Bra (Hugo Weaving) foi a responsável por juntar o grupo e por conseguir as apresentações, mas tem um segredo envolvendo sua ex-mulher.

O caminho, obviamente, reserva muitas aventuras. O deserto, os animais, as populações de pequenas cidades, os aborígenes australianos – todos fazem aparições surpreendentes e divertidas, reagindo de sua própria maneira à presença de três pessoas tão ‘extravagantes’. Lançado há 20 anos, o filme tem roteiro e direção de Stephan Elliott e traz um cenário drag ainda tímido, mas já em crescimento – a sociedade estava começando a mudar. Assim, os desafios que elas encontram não são muito diferentes dos que estariam presentes na atualidade.

Premiado no Oscar, no Bafta e, principalmente, na cerimônia do Australian Film Institute, The Adventures of Priscilla, Queen of the Desert é um filme sobre três pessoas que sofrem, mas seguem em frente. As três têm seus problemas e crescem aos olhos do público a cada nova sequência. São personalidades diferentes que, em uma convivência forçada, precisam lidar com novos desafios, mas aproveitam a oportunidade para crescer. Os figurinos parecem improvisados, mas são criativos; os cenários são hostis, mas lindos; as pessoas são bizarras – todas elas.

Com uma estrutura bastante tradicional em relação a outros road movies, a produção se destaca por se passar na Austrália e pelas personagens. Elas são artistas que conseguem viver com suas performances, mas sabem que tudo poderia ser bem melhor. Para o público, o elenco surpreende, uma vez que são três atores que nos acostumamos a ver em papeis masculinos fortes, falando com voz grave e impondo suas vontades por meio de força física ou aos berros. Colocá-los em uma posição de fragilidade – emocional e física – também os aproxima das pessoas comuns.

Mesmo não sendo glamoroso por inteiro, uma vez que tenta ser realista, The Adventures of Priscilla, Queen of the Desert garante que cada personagem tenha seus momentos de realização de sonhos. Seja em cima do ônibus, com um vestido maravilhoso ao vento, seja com um conquista amorosa, seja com um encontro a muito aguardado, seja subindo uma montanha. Para essas pessoas, querer é poder.

E, para terminar, mais uma curiosidade: o filme tem uma cena rápida após os créditos. Além da performance musical que acompanha os letreiros, vale a pena esperar e dar uma olhada.

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