Divagações: Matilda
14.7.15
Minha história com Matilda é de longa data. Desde quando a produção foi lançada, em 1996, já vi e revi diversas vezes. O carinho é tanto que não apenas li esse livro, mas acabei me aproximando de diversas outras obras de Roald Dahl. Esse filme foi meu caminho de entrada para um universo fantástico e rico, um que eu gostaria de apresentar para meus filhos, por exemplo.
Apesar de ser filha de um vendedor de carros trambiqueiro (Danny DeVito) e de uma mãe que prefere jogar bingo a cuidar dos filhos (Rhea Perlman), a pequena Matilda (Mara Wilson) não se identifica com a família. Ela prefere ler a assistir televisão e está tão ansiosa para ir para a escola que já está bem adiantada no conteúdo. Quando ela finalmente consegue entrar em uma sala de aula, impressiona a professora Miss Honey (Embeth Davidtz) com sua inteligência e docilidade. As duas se aproximam e acabam tendo uma rival em comum na figura da diretora, Trunchbull (Pam Ferris).
Dirigido pelo próprio Danny DeVito, o filme é relativamente fiel à história contada no livro e aproveita para fazer pequenas referências a outras obras do autor. Com boa parte dos efeitos especiais sendo feitos através de trucagens (e não gerados por computador), a estética da produção ganha uma identidade própria – que lembra alguns filmes de Chris Columbus – e consegue extrair reações bem naturais do elenco infantil.
Mara Wilson é, obviamente, a alma do filme. Como protagonista, ela consegue segurar a credibilidade de toda a trama absurda, sendo uma heroína infantil com prioridades de crianças. Ela encarna o papel com energia e graça, ganhando muito especialmente com os vilões exagerados de DeVito, Rhea e Pam. Vale lembrar que a menina sofreu um grande baque pessoal durante a produção com o falecimento de sua mãe, vítima de câncer de mama.
O mais legal é que, embora seja um filme para crianças, Matilda aposta em uma visão deturpada. Há humor em todos os personagens por que a protagonista é a única que deve ser levada a sério. A professora interpretada por Embeth, por mais que seja repleta de boas intenções, é delicada e indefesa perto da protagonista, que sempre enfrenta o mundo de frente. É uma característica das histórias de Dahl, que provavelmente também não levava os adultos a sério e apostava fortemente no caráter independente das crianças.
Por ser passado em casa e na escola, ambientes naturais para uma criança, esse filme tem um potencial único para atingir significados mais profundos. As relações de poder e os vínculos ganham mais importância e podem ser facilmente associados. Isso não acontece em Charlie and the Chocolate Factory, Fantastic Mr. Fox ou James and the Giant Peach, todos também baseados em livros de Roald Dahl.
Para crianças inquietas, Matilda é uma opção criativa, dinâmica e interessante. Capaz de cativar também os adultos, o filme foi um dos primeiros a fugir da monotonia politicamente correta dos contos de fada, atraindo quem simplesmente gosta de uma comédia exagerada. Mas, como uma nostálgica, sou uma pessoa suspeita para falar disso. Só posso dizer que, sempre que revejo esse filme, fico com vontade de testar se realmente não tenho poderes telecinéticos – seria tão legal!
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