Divagações: Room
23.2.16
Um sinal claro de que o cinema independente dos Estados Unidos está ganhando espaço é a presença de Room não somente na cerimônia do Oscar, mas em quatro categorias consideradas 'grandes' – Melhor Filme, Melhor Direção, Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Atriz. Por mais que a festa não costume ser sinônimo de grandes bilheterias, ela é geralmente marcada pelos queridinhos dos estúdios, com diretores de renome, estrelas de salários milionários e textos escritos, reescritos e polidos novamente. Raramente há espaço para algo tão cru quanto Room, algo que poderia dar errado mesmo trazendo uma história aparentemente muito simples e barata para se filmar. Dá para contar nos dedos a quantidade de cenários, o elenco é bastante reduzido e muita coisa gira em torno de um menino em uma posição de fragilidade. Essa não é a Hollywood de todos os dias, mas é uma boa forma de fazer cinema.
Jack (Jacob Tremblay) está fazendo cinco anos. Ele vive com sua mãe (Brie Larson) em um quarto iluminado por uma claraboia. Toda noite, um homem que ele conhece como Old Nick (Sean Bridgers) visita o quarto enquanto Jack dorme dentro do armário. Quando o homem vai embora, ele pode voltar para o lado de sua mãe. Aos domingos, o menino e sua mãe ganham presentes de Old Nick, como comida, roupas e vitaminas. O quarto é a realidade de Jack e a televisão mostra outros mundos, a maior parte de mentira, onde há criaturas imaginárias como dragões, esquilos e cachorros. Mas um dia as coisas mudam. A mãe decide que Jack irá salvá-los e o menino parte em uma aventura arriscada, absolutamente assustadora e totalmente não requisitada.
De certa forma, temos dois personagens incapazes de decidir o rumo de suas próprias vidas. Ambos têm suas liberdades cerceadas e estão em uma posição de dependência extrema. Mesmo que Jack se julgue feliz e resista à ideia de que existe um outro lado das paredes, ele obedece tanto quanto possível, pois sua mãe é seu único afeto. Já Joy – que abriu mão de sua identidade a favor de "mãe" – sabe que o mundo não se resume ao quarto onde vive, mas agarra-se à única esperança que lhe resta quando percebe que não quer que seu filho viva mais um aniversário sem conhecer o mundo. Contudo, aprender a viver do outro lado será um desafio para ambos.
O roteiro inteligente e bem amarrado de Emma Donoghue, também autora do livro que deu origem ao filme, garante que esses personagens sejam praticamente palpáveis. O menino feliz e curioso que se torna uma criança retraída e arredia, assim como a mulher forte e inteligente que perde o controle justamente quando tudo parecia estar melhorando, são pessoas reais. É possível sentir empatia e sofrer em comunhão.
Ao mesmo tempo, a ironia da situação está sempre presente em Room. Fora do galpão que servia de quarto, mãe e filho acabam trancados dentro de uma casa. A comunidade curiosa, a imprensa inconveniente, a rejeição e os julgamentos fazem com que a complexidade do real entre em conflito com a vida aparentemente mais amorosa e simples – como a narração fica a cargo de Jack, o sofrimento da mãe é apenas implícito, sendo que essa própria (e perfeita compreensível) percepção do menino acabe trazendo ainda mais dificuldades.
Para completar, a direção de Lenny Abrahamson parece se enquadrar nesse mundinho formado unicamente por mãe e filho. Especialista em pessoas estranhas e deslocadas, ele simpatiza com esses personagens fragilizados. Sem poder usar o humor como escape, ele se aproveita da ingenuidade e da leveza do menino. A infância é representada com a tentativa de imitar desenhos animados, com cuecas estampadas, com os pijamas mais legais que alguém possa imaginar.
Além disso, o diretor é mais uma vez auxiliado pela trilha sonora de Stephen Rennicks, que esteve presente em praticamente toda sua filmografia e parece saber exatamente como criar a atmosfera necessária. As músicas de Room não são daquelas criadas para 'salvar' uma sequência, já que diretor e compositor não julgam isso conveniente, mas para auxiliar na estruturação dramática, inclusive destoando quando necessário.
Sensível, inteligente e absolutamente forte, o filme apela a seu público não pelo drama, mas por meio do peso que cada evento tem no psicológico de seus protagonistas. Room não é formado por escolhas fáceis, mas elas são acertadas e imprescindíveis para que se possa gerar um impacto mesmo em uma audiência isolada afetivamente.
Jack (Jacob Tremblay) está fazendo cinco anos. Ele vive com sua mãe (Brie Larson) em um quarto iluminado por uma claraboia. Toda noite, um homem que ele conhece como Old Nick (Sean Bridgers) visita o quarto enquanto Jack dorme dentro do armário. Quando o homem vai embora, ele pode voltar para o lado de sua mãe. Aos domingos, o menino e sua mãe ganham presentes de Old Nick, como comida, roupas e vitaminas. O quarto é a realidade de Jack e a televisão mostra outros mundos, a maior parte de mentira, onde há criaturas imaginárias como dragões, esquilos e cachorros. Mas um dia as coisas mudam. A mãe decide que Jack irá salvá-los e o menino parte em uma aventura arriscada, absolutamente assustadora e totalmente não requisitada.
De certa forma, temos dois personagens incapazes de decidir o rumo de suas próprias vidas. Ambos têm suas liberdades cerceadas e estão em uma posição de dependência extrema. Mesmo que Jack se julgue feliz e resista à ideia de que existe um outro lado das paredes, ele obedece tanto quanto possível, pois sua mãe é seu único afeto. Já Joy – que abriu mão de sua identidade a favor de "mãe" – sabe que o mundo não se resume ao quarto onde vive, mas agarra-se à única esperança que lhe resta quando percebe que não quer que seu filho viva mais um aniversário sem conhecer o mundo. Contudo, aprender a viver do outro lado será um desafio para ambos.
O roteiro inteligente e bem amarrado de Emma Donoghue, também autora do livro que deu origem ao filme, garante que esses personagens sejam praticamente palpáveis. O menino feliz e curioso que se torna uma criança retraída e arredia, assim como a mulher forte e inteligente que perde o controle justamente quando tudo parecia estar melhorando, são pessoas reais. É possível sentir empatia e sofrer em comunhão.
Ao mesmo tempo, a ironia da situação está sempre presente em Room. Fora do galpão que servia de quarto, mãe e filho acabam trancados dentro de uma casa. A comunidade curiosa, a imprensa inconveniente, a rejeição e os julgamentos fazem com que a complexidade do real entre em conflito com a vida aparentemente mais amorosa e simples – como a narração fica a cargo de Jack, o sofrimento da mãe é apenas implícito, sendo que essa própria (e perfeita compreensível) percepção do menino acabe trazendo ainda mais dificuldades.
Para completar, a direção de Lenny Abrahamson parece se enquadrar nesse mundinho formado unicamente por mãe e filho. Especialista em pessoas estranhas e deslocadas, ele simpatiza com esses personagens fragilizados. Sem poder usar o humor como escape, ele se aproveita da ingenuidade e da leveza do menino. A infância é representada com a tentativa de imitar desenhos animados, com cuecas estampadas, com os pijamas mais legais que alguém possa imaginar.
Além disso, o diretor é mais uma vez auxiliado pela trilha sonora de Stephen Rennicks, que esteve presente em praticamente toda sua filmografia e parece saber exatamente como criar a atmosfera necessária. As músicas de Room não são daquelas criadas para 'salvar' uma sequência, já que diretor e compositor não julgam isso conveniente, mas para auxiliar na estruturação dramática, inclusive destoando quando necessário.
Sensível, inteligente e absolutamente forte, o filme apela a seu público não pelo drama, mas por meio do peso que cada evento tem no psicológico de seus protagonistas. Room não é formado por escolhas fáceis, mas elas são acertadas e imprescindíveis para que se possa gerar um impacto mesmo em uma audiência isolada afetivamente.
2 recados
A atuação do Jacob Tremblay foi fenomenal. A cena em que ele "renasce" na picape foi emocionante. Gostei bastante do filme e acredito que pelo menos a estatueta de melhor atriz o filme já garantiu.
ResponderExcluirOi, Raquel
ExcluirConcordo com você! Inclusive, acho que se o Jacob até poderia ter conseguido uma indicação (a Academia parece sempre gostar de crianças promissoras, mas faltou espaço para ele esse ano).
Além disso, a Brie Larson é a grande favorita em sua categoria. Se ela realmente ganhar, isso seria maravilhoso para manter o filme com uma boa campanha de markeing em seu lançamento em DVD e Blu-Ray.
Até!