Divagações: Jumanji: Welcome to the Jungle

Jumanji foi sem dúvidas um dos blockbusters mais icônicos dos anos 1990. Era uma época em que efeitos especiais de ponta eram motivo o ba...

Jumanji foi sem dúvidas um dos blockbusters mais icônicos dos anos 1990. Era uma época em que efeitos especiais de ponta eram motivo o bastante para garantir um ingresso e que Robin Williams reinava consolidado como um dos maiores nomes do cinema para toda a família. Nesse contexto, a história de um jogo de tabuleiro místico que invoca perigos para o nosso mundo podia não ser a mais elaborada de todos os tempos, mas acabou se consolidando em nossa cultura pop e garantiu um sucessor espiritual com Zathura: A Space Adventure em 2005 e, eventualmente, 22 anos depois, recebeu uma continuação “de verdade”.

Jumanji: Welcome to the Jungle é bem mais um ‘filme de turminha adolescente’ que seu antecessor. Nele, quatro estudantes do Ensino Médio – o nerd Spencer (Alex Wolff), o atlético Fridge (Ser'Darius Blain), a popular Bethany (Madison Iseman) e a tímida Martha (Morgan Turner) – acabam indo parar na detenção de sua escola por um motivo ou outro. Lá, eles se deparam com Jumanji, o jogo místico que mudou de forma para atrair novos jogadores, tornando-se um videogame. Ao jogá-lo, o grupo é transportado para dentro daquele universo e cada um toma a forma do avatar que escolheu.

Assim, Spencer vira o arqueólogo Dr. Smoulder Bravestone (Dwayne Johnson); Fridge se transforma no seu ajudante, o diminuto Moose Finbar (Kevin Hart); Martha se torna a atlética Ruby Roundhouse (Karen Gillan); e, para seu desespero, Bethany assume a forma do professor Shelly Oberon (Jack Black). Juntos, eles têm que superar uma série de desafios para retornar ao mundo real, incluindo a constante perseguição do maligno Van Pelt (Bobby Cannavale).

Por ser um caso típico de continuação desnecessária que ninguém pediu, Jumanji: Welcome to the Jungle tenta ao máximo se afastar do filme original, com uma proposta, um clima e um elenco completamente distinto. Arrisco dizer que, com exceção de uma ou outra referência a Alan Parrish (o personagem de Williams), não há muito que una os dois filmes senão o seu nome. Com essa aposta, ao invés de ir em direção à nostalgia, essa versão acaba sendo um produto por si só.

Apesar disso, não dá para negar que esse é um filme que segue sua cartilha à risca, preenchendo todos os requisitos para ser uma comédia de ação padrão. O roteiro é terrivelmente previsível, com todas aquelas situações típicas que você espera de um grupo de indivíduos muitas vezes diametralmente opostos aprendendo a trabalhar juntos. Mas isso não significa que os arcos dramáticos não funcionem, apesar de também não fugirem muito do arroz com feijão e terminarem exatamente como você espera.

A ação em si não é lá muito chamativa e nem muito original, mas atinge seu propósito. Há algumas perseguições, lutas e animais correndo por aí, mas a estética de videogame é bem mal aproveitada e, apesar de algumas tiradas engraçadas, é irrelevante para a trama na maior parte do tempo. Nem mesmo o “vilão” representa uma grande ameaça, sendo o seu visual mais perturbador do que as suas atitudes. Inclusive, isso tudo reduz o senso de risco constante da trama e talvez seja o que mais atrapalhe a parte aventuresca do filme.

O destaque, porém, está nos atores fazendo tipos bem diferentes do que você está acostumado a ver, o que funciona bem para o humor. Jack Black, que muita gente considera insuportável, está em um papel em que o exagero funciona perfeitamente, enquanto Dwayne Johnson, ainda que canastro, não chega a incomodar (ainda mais quando, teoricamente, tem o papel de maior destaque). A dinâmica entre o elenco adulto funciona bem e faz o filme fluir, embora essa característica evidencie que o grupo jovem não é tão interessante.

Mas, estranhamente, Jumanji: Welcome to the Jungle é maior que a soma de todas as suas partes. A obra, que tinha tudo para ser terrível, funciona de algum modo e, mesmo não sendo ótima, é uma boa surpresa e um bom filme de férias para ver com a família – daquele tipo que é um pouco raro hoje em dia, sendo engraçado e empolgante quando precisa ser. Tenho certeza que o longa-metragem não vai ficar na memória de ninguém como Jumanji ficou, nem fazer tanto sucesso nessa temporada de Natal – ainda mais competindo com franquias bilionárias –, mas é competente o bastante para pelo menos garantir uma boa matinê no futuro.

Texto: Vinicius Ricardo Tomal
Edição: Renata Bossle

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