Divagações: Dear White People
7.12.17
Esqueça a série (ao menos em parte). Vamos falar aqui do filme que deu origem a ela e foi lançado originalmente em 2004. Dear White People tem roteiro e direção de Justin Simien e chamou muita atenção nos festivais daquele ano, recebendo prêmios em Sundance, Palm Springs, Seattle, São Francisco e outros. Na ocasião, os olhares estavam voltados não somente para o cineasta, mas também para a atriz principal, Tessa Thompson.
A história se passa em uma universidade de elite nos Estados Unidos, daquelas com um campus gigantesco e onde os estudantes moram em casas maravilhosas, devidamente equipadas com um refeitório invejável (alguém sequer pensou em RU?) e quartos definitivamente maiores que o meu. Nessa faculdade, os estudantes negros são tradicionalmente moradores da casa Armstrong-Parker e representam uma pequena porcentagem da população universitária. A relação com os demais alunos é aparentemente pacífica, mas há um conflito que – como somos informados logo nos primeiros minutos – está prestes a estourar.
Samantha White (Thompson) é uma acadêmica de cinema que sente que suas temáticas e abordagens são incompreendidas em sala de aula. Ela é militante do movimento negro e mantém um programa de rádio, onde expõe situações preconceituosas, sempre começando seus recados com a expressão “dear white people”, ou seja, “caras pessoas brancas”. Seu ex-namorado é Troy Fairbanks (Brandon P Bell), filho do atual reitor (Dennis Haysbert). Ele, por sua vez, está constantemente enfrentando a pressão do sucesso criada por seu pai, o que o leva a tentar modelar sua futura carreira política já na universidade e até mesmo a namorar a filha do presidente da instituição, Sofia Fletcher (Brittany Curran), embora seu real interesse seja entrar no grupo ‘humorista’ do irmão da moça, o arrogante e popular Kurt (Kyle Gallner).
Também acompanhamos dois estudantes em conflito sobre a casa Armstrong-Parker. Colandrea 'Coco' Conners (Teyonah Parris) foi alocada para lá, mas quer sair, pois não se identifica com a cultura do local. Já Lionel Higgins (Tyler James Williams) mora em outra casa, mas está relutantemente tendo que assumir que sua vida seria mais fácil na companhia de outros estudantes negros, uma vez que seu dia a dia já é difícil o suficiente por ele ser gay.
Dear White People, assim, traz quatro formas diferentes de encarar o ‘mesmo problema’. Cada um dos estudantes vive episódios de racismo e tem suas próprias reações, seus próprios medos, suas próprias raivas. A princípio, tudo parece muito superficial e exagerado – com direito a personagens que andam com um grupo de amiguinhos mudos atrás, que apenas concordam com tudo a apresentam comportamento de matilha. No entanto, com o decorrer da trama, os quatro protagonistas têm a oportunidade de apresentar um lado diferente de si mesmos e trazer profundidade não apenas para os personagens em si, mas para toda a trama. Eles não são ‘rebeldes sem causa’ – muito pelo contrário.
Isso não quer dizer que não haja problemas no filme, afinal, ele ainda transmite sua mensagem a partir de um contexto privilegiado e distante do mundo real (é uma universidade para quem tem dinheiro, afinal de contas). Esse recorte – que, aliás, é bem explorado dentro de um contexto humorístico – coloca todos os personagens em pé de igualdade, fazendo com que problemas econômicos, por exemplo, sejam desconsiderados com mais facilidade. Mesmo assim, é uma pena que a produção não tenha abordado verdadeiramente questões de luta de classe e desigualdade de gênero, principalmente porque há boas oportunidades que ficaram restritas às entrelinhas.
Como uma introdução ao assunto, Dear White People é um filme que abre espaço para discussão e que levanta muitos pontos interessantes. Seus personagens principais, ainda que tenham elementos caricatos, trazem diferentes pontos de vista e tornam o espectro mais abrangente. Ou seja, o filme representa um passo firme e decidido, mas ainda precisa da companhia de diversos outros para que seja possível realmente sair do lugar.
A história se passa em uma universidade de elite nos Estados Unidos, daquelas com um campus gigantesco e onde os estudantes moram em casas maravilhosas, devidamente equipadas com um refeitório invejável (alguém sequer pensou em RU?) e quartos definitivamente maiores que o meu. Nessa faculdade, os estudantes negros são tradicionalmente moradores da casa Armstrong-Parker e representam uma pequena porcentagem da população universitária. A relação com os demais alunos é aparentemente pacífica, mas há um conflito que – como somos informados logo nos primeiros minutos – está prestes a estourar.
Samantha White (Thompson) é uma acadêmica de cinema que sente que suas temáticas e abordagens são incompreendidas em sala de aula. Ela é militante do movimento negro e mantém um programa de rádio, onde expõe situações preconceituosas, sempre começando seus recados com a expressão “dear white people”, ou seja, “caras pessoas brancas”. Seu ex-namorado é Troy Fairbanks (Brandon P Bell), filho do atual reitor (Dennis Haysbert). Ele, por sua vez, está constantemente enfrentando a pressão do sucesso criada por seu pai, o que o leva a tentar modelar sua futura carreira política já na universidade e até mesmo a namorar a filha do presidente da instituição, Sofia Fletcher (Brittany Curran), embora seu real interesse seja entrar no grupo ‘humorista’ do irmão da moça, o arrogante e popular Kurt (Kyle Gallner).
Também acompanhamos dois estudantes em conflito sobre a casa Armstrong-Parker. Colandrea 'Coco' Conners (Teyonah Parris) foi alocada para lá, mas quer sair, pois não se identifica com a cultura do local. Já Lionel Higgins (Tyler James Williams) mora em outra casa, mas está relutantemente tendo que assumir que sua vida seria mais fácil na companhia de outros estudantes negros, uma vez que seu dia a dia já é difícil o suficiente por ele ser gay.
Dear White People, assim, traz quatro formas diferentes de encarar o ‘mesmo problema’. Cada um dos estudantes vive episódios de racismo e tem suas próprias reações, seus próprios medos, suas próprias raivas. A princípio, tudo parece muito superficial e exagerado – com direito a personagens que andam com um grupo de amiguinhos mudos atrás, que apenas concordam com tudo a apresentam comportamento de matilha. No entanto, com o decorrer da trama, os quatro protagonistas têm a oportunidade de apresentar um lado diferente de si mesmos e trazer profundidade não apenas para os personagens em si, mas para toda a trama. Eles não são ‘rebeldes sem causa’ – muito pelo contrário.
Isso não quer dizer que não haja problemas no filme, afinal, ele ainda transmite sua mensagem a partir de um contexto privilegiado e distante do mundo real (é uma universidade para quem tem dinheiro, afinal de contas). Esse recorte – que, aliás, é bem explorado dentro de um contexto humorístico – coloca todos os personagens em pé de igualdade, fazendo com que problemas econômicos, por exemplo, sejam desconsiderados com mais facilidade. Mesmo assim, é uma pena que a produção não tenha abordado verdadeiramente questões de luta de classe e desigualdade de gênero, principalmente porque há boas oportunidades que ficaram restritas às entrelinhas.
Como uma introdução ao assunto, Dear White People é um filme que abre espaço para discussão e que levanta muitos pontos interessantes. Seus personagens principais, ainda que tenham elementos caricatos, trazem diferentes pontos de vista e tornam o espectro mais abrangente. Ou seja, o filme representa um passo firme e decidido, mas ainda precisa da companhia de diversos outros para que seja possível realmente sair do lugar.
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