Divagações: Acrimony
8.8.18
Imagine que você está no cinema, em uma sala praticamente vazia, e começa a pensar: “Como foi que esse filme deu tão errado? Como ninguém percebeu que, dessa forma, as coisas não iriam funcionar?”. Pois isso aconteceu comigo em uma sessão de Acrimony – e a produção ainda não estava nem em seu (desastroso) terço final.
A história, só para começar, é um novelão. Melinda (Taraji P. Henson) está sendo forçada judicialmente a frequentar uma terapeuta para controlar a sua raiva, contudo, ela se diz no direito de sentir fúria, afinal, o que fizeram com ela foi horrível. Então, ela começa a contar a sua história.
Quando estava na faculdade, Melinda (Ajiona Alexus) – uma patricinha inocente, mas com um temperamento explosivo – começou a namorar um rapaz pobre e cheio de ideias, Robert (Antonio Madison). Suas irmãs eram contrárias ao relacionamento, ainda mais depois que a moça foi traída logo após ter dado um carro de presente para o namorado. Mas ela teve sua vingança e ele teve seu pedido de desculpas aceito. Os dois se casaram e ele prometia mundos e fundos para sua amada, algo que nunca se concretizava.
Assim, enquanto Robert (Lyriq Bent) lutava por sonhos que pareciam cada vez mais impossíveis, Melinda gastou toda sua herança, perdeu a casa de seus pais e passou muitos e muitos anos trabalhando em dois empregos para poder sustentar os devaneios do marido, que nunca teve sequer um emprego formal. Assim, quando a esperança acabou, o casamento também se foi.
O detalhe é que, assim que ela ficou sozinha, pobre e desiludida, as coisas começaram a dar certo para ele – que passou a realizar todos os sonhos do casal com outra mulher, Diana (Crystle Stewart). Já mencionei que ela também foi a moça envolvida na traição lá dos tempos da faculdade? Pois é.
Ou seja, a protagonista realmente tem direito de ficar com raiva dessa situação toda. Certo? Não exatamente. Apesar da história ser contada por ela, Acrimony dá também o ponto de vista do marido, fornecendo justificativas a muitos pontos que poderiam ter ficados dúbios, o que valorizaria o suspense ou, pelo menos, geraria alguma empatia direcionada à personagem. Ela foi levada à loucura, mas até que ponto cada um dos dois tem ‘culpa’ na situação? No final das contas, parece que ter tido toda a sua juventude ‘sugada’ realmente não é uma justificativa para a raiva que ela sente.
Aliás, por esse ser um filme escrito e dirigido por Tyler Perry, eu realmente esperava que houvesse alguma forma de humor na situação toda. Algo mais cínico, talvez? Um ‘quê’ de She-Devil? Mas a verdade é que o filme chega ao absurdo sem explorar o fato de que tudo realmente saiu de controle. Quando as ações de Melinda vão além do que se espera de uma pessoa injuriada e colérica, a sensação é de que Acrimony saiu dos trilhos junto com sua personagem principal.
A produção, vale acrescentar, tem efeitos especiais bem vagabundos e uma montagem absolutamente entediante – poderiam, pelo menos, ter colocado idas e vindas na narrativa, algo que chacoalhasse a percepção do público sobre os personagens. Por vezes, é como se o longa-metragem quisesse ter uma moral para passar, mas é muito difícil se deixar convencer por ela.
Em meio a tudo isso, fico com pena de Taraji P. Henson. Ela entregou muita coisa em uma atuação visceral, realmente enfurecida e digna de crédito, mas que se perde em um filme que não a merece. Há vários momentos que, em outro contexto, poderiam render indicações a prêmios. Aqui, entretanto, eles apenas livram a atriz de um constrangimento maior.
A história, só para começar, é um novelão. Melinda (Taraji P. Henson) está sendo forçada judicialmente a frequentar uma terapeuta para controlar a sua raiva, contudo, ela se diz no direito de sentir fúria, afinal, o que fizeram com ela foi horrível. Então, ela começa a contar a sua história.
Quando estava na faculdade, Melinda (Ajiona Alexus) – uma patricinha inocente, mas com um temperamento explosivo – começou a namorar um rapaz pobre e cheio de ideias, Robert (Antonio Madison). Suas irmãs eram contrárias ao relacionamento, ainda mais depois que a moça foi traída logo após ter dado um carro de presente para o namorado. Mas ela teve sua vingança e ele teve seu pedido de desculpas aceito. Os dois se casaram e ele prometia mundos e fundos para sua amada, algo que nunca se concretizava.
Assim, enquanto Robert (Lyriq Bent) lutava por sonhos que pareciam cada vez mais impossíveis, Melinda gastou toda sua herança, perdeu a casa de seus pais e passou muitos e muitos anos trabalhando em dois empregos para poder sustentar os devaneios do marido, que nunca teve sequer um emprego formal. Assim, quando a esperança acabou, o casamento também se foi.
O detalhe é que, assim que ela ficou sozinha, pobre e desiludida, as coisas começaram a dar certo para ele – que passou a realizar todos os sonhos do casal com outra mulher, Diana (Crystle Stewart). Já mencionei que ela também foi a moça envolvida na traição lá dos tempos da faculdade? Pois é.
Ou seja, a protagonista realmente tem direito de ficar com raiva dessa situação toda. Certo? Não exatamente. Apesar da história ser contada por ela, Acrimony dá também o ponto de vista do marido, fornecendo justificativas a muitos pontos que poderiam ter ficados dúbios, o que valorizaria o suspense ou, pelo menos, geraria alguma empatia direcionada à personagem. Ela foi levada à loucura, mas até que ponto cada um dos dois tem ‘culpa’ na situação? No final das contas, parece que ter tido toda a sua juventude ‘sugada’ realmente não é uma justificativa para a raiva que ela sente.
Aliás, por esse ser um filme escrito e dirigido por Tyler Perry, eu realmente esperava que houvesse alguma forma de humor na situação toda. Algo mais cínico, talvez? Um ‘quê’ de She-Devil? Mas a verdade é que o filme chega ao absurdo sem explorar o fato de que tudo realmente saiu de controle. Quando as ações de Melinda vão além do que se espera de uma pessoa injuriada e colérica, a sensação é de que Acrimony saiu dos trilhos junto com sua personagem principal.
A produção, vale acrescentar, tem efeitos especiais bem vagabundos e uma montagem absolutamente entediante – poderiam, pelo menos, ter colocado idas e vindas na narrativa, algo que chacoalhasse a percepção do público sobre os personagens. Por vezes, é como se o longa-metragem quisesse ter uma moral para passar, mas é muito difícil se deixar convencer por ela.
Em meio a tudo isso, fico com pena de Taraji P. Henson. Ela entregou muita coisa em uma atuação visceral, realmente enfurecida e digna de crédito, mas que se perde em um filme que não a merece. Há vários momentos que, em outro contexto, poderiam render indicações a prêmios. Aqui, entretanto, eles apenas livram a atriz de um constrangimento maior.
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