Divagações: First Man
11.10.18
Damien Chazelle é um daqueles nomes que despontou nos últimos anos de maneira inacreditável. Depois de dirigir Whiplash e La La Land – além de assinar o roteiro do também ótimo 10 Cloverfield Lane –, ele já deixou sua marca na indústria e se colocou na lista de gente que vale a pena acompanhar.
Nesse contexto, nenhum projeto parecia grande demais ou ambicioso demais para ele. Mas, bem, “ambicioso” é justamente o adjetivo que eu usaria para definir First Man, uma mistura de drama psicológico com cinebiografia sobre a jornada do primeiro homem a ir até a Lua.
O longa-metragem acompanha Neil Armstrong (Ryan Gosling) do início da carreira como piloto até seu envolvimento com o programa espacial da Nasa nos anos 1960, passando por sua relação com a esposa Janet (Claire Foy), seus filhos e seus colegas do programa espacial.
Assim, a viagem à Lua é o que menos importa, tomando até pouco tempo do enredo. O filme se importa muito mais em fazer um estudo de personagem e trabalhar Neil como um indivíduo que enfrenta uma tarefa impossivelmente complicada, tendo que lidar com os riscos da missão, a opinião pública e os aspectos políticos do programa espacial.
Com um tom solene e intimista não muito esperado de uma temática tradicionalmente tratada com fanfarra por Hollywood, First Man é, sem dúvidas, um feito de direção, conseguindo colocar o espectador em uma posição de extrema proximidade em relação aos personagens. Ao invés dos planos abertos que valorizam a escala massiva dos foguetes e dos grandes panoramas do cenário lunar, ficamos ao lado de Neil, ouvindo cada ranger dos parafusos e vendo o mundo por uma minúscula janela em uma cabine apertada. Presenciamos cada tragédia e o risco absurdo que os pioneiros da exploração espacial passavam. E isso é, sem dúvida, algo que eu ainda não havia visto sendo tratado nos cinemas, pois o filme busca passar como um astronauta se sentia nesse período, explorando a mistura de constante temor e empolgação.
A parte técnica também é excepcional, com uma ambientação absolutamente envolvente, uma fotografia e uma paleta de cores que combinam perfeitamente com a época e efeitos visuais que eu sinceramente ainda não sei como foram executados, mas que me pareceram tão bons quanto a realidade. Visto no IMAX, o longa-metragem é um deleite: mesmo não priorizando o senso de escala e não sendo tão impressionante na tela grande quando Gravity, por exemplo, ele ainda é um filme que se beneficia muito de uma boa projeção e de um bom som.
Claro que Ryan Gosling continua sendo Ryan Gosling, o que significa que, geralmente, vemos uma atuação bastante contida e impassível. Não dá pra dizer que não funciona e que ele não tenha os seus momentos mais intensos, porém, essa apatia é algo que joga a energia do filme lá embaixo de vez em quando. Claire Foy deveria ser o contraponto emocional à frieza e ao controle de Gosling, mas não tem tanto espaço para brilhar, sendo obscurecida narrativamente e não deixando lá uma marca muito memorável para a trama. Apesar disso, quando o roteiro demanda momentos mais poderosos dos dois, não há como dizer que ambos não entreguem.
O problema é que, apesar de se esforçar para dar foco aos personagens, a produção esbarra em um limite de pouco mais de duas horas para estabelecer um arco dramático satisfatório. Os filmes anteriores de Chazelle eram muito focados nessas jornadas pessoais, que sempre funcionaram bem para desenvolver um clímax dramático, porém, First Man parece tropeçar um pouco em encaixar os acontecimentos retratados no filme com a estrutura tradicional de roteiro. O resultado é meio irregular em termos de ritmo e diminui o retorno emocional.
Assim, o filme se estende um pouco demais e deixa a parte que, teoricamente, seria mais importante – a missão à Lua – destituída de impacto. Inclusive, a produção optou por não mostrar um dos momentos mais emblemáticos da missão em prol de uma visão mais pessoal da situação. Com isso, quero dizer que First Man é absolutamente impressionante como cinema, mas não oferece um impacto emocional tão grande quanto o esperado.
O filme é lindo, detalhado e, certamente, oferece uma experiência cinematográfica e tanto. Ainda assim, eu esperava mais e sinto que a produção ficou aquém de suas ambições. Como um dos longas-metragens que abrem a temporada de premiações, First Man tinha tudo para sair na frente e se instituir como um dos favoritos do ano, mas faltou um pouco de espírito. No final das contas, o filme soa muito mais como um pequeno passo do que como um salto gigante para o cinema.
Outras divagações:
Whiplash
La La Land
Texto: Vinicius Ricardo Tomal
Edição: Renata Bossle
Nesse contexto, nenhum projeto parecia grande demais ou ambicioso demais para ele. Mas, bem, “ambicioso” é justamente o adjetivo que eu usaria para definir First Man, uma mistura de drama psicológico com cinebiografia sobre a jornada do primeiro homem a ir até a Lua.
O longa-metragem acompanha Neil Armstrong (Ryan Gosling) do início da carreira como piloto até seu envolvimento com o programa espacial da Nasa nos anos 1960, passando por sua relação com a esposa Janet (Claire Foy), seus filhos e seus colegas do programa espacial.
Assim, a viagem à Lua é o que menos importa, tomando até pouco tempo do enredo. O filme se importa muito mais em fazer um estudo de personagem e trabalhar Neil como um indivíduo que enfrenta uma tarefa impossivelmente complicada, tendo que lidar com os riscos da missão, a opinião pública e os aspectos políticos do programa espacial.
Com um tom solene e intimista não muito esperado de uma temática tradicionalmente tratada com fanfarra por Hollywood, First Man é, sem dúvidas, um feito de direção, conseguindo colocar o espectador em uma posição de extrema proximidade em relação aos personagens. Ao invés dos planos abertos que valorizam a escala massiva dos foguetes e dos grandes panoramas do cenário lunar, ficamos ao lado de Neil, ouvindo cada ranger dos parafusos e vendo o mundo por uma minúscula janela em uma cabine apertada. Presenciamos cada tragédia e o risco absurdo que os pioneiros da exploração espacial passavam. E isso é, sem dúvida, algo que eu ainda não havia visto sendo tratado nos cinemas, pois o filme busca passar como um astronauta se sentia nesse período, explorando a mistura de constante temor e empolgação.
A parte técnica também é excepcional, com uma ambientação absolutamente envolvente, uma fotografia e uma paleta de cores que combinam perfeitamente com a época e efeitos visuais que eu sinceramente ainda não sei como foram executados, mas que me pareceram tão bons quanto a realidade. Visto no IMAX, o longa-metragem é um deleite: mesmo não priorizando o senso de escala e não sendo tão impressionante na tela grande quando Gravity, por exemplo, ele ainda é um filme que se beneficia muito de uma boa projeção e de um bom som.
Claro que Ryan Gosling continua sendo Ryan Gosling, o que significa que, geralmente, vemos uma atuação bastante contida e impassível. Não dá pra dizer que não funciona e que ele não tenha os seus momentos mais intensos, porém, essa apatia é algo que joga a energia do filme lá embaixo de vez em quando. Claire Foy deveria ser o contraponto emocional à frieza e ao controle de Gosling, mas não tem tanto espaço para brilhar, sendo obscurecida narrativamente e não deixando lá uma marca muito memorável para a trama. Apesar disso, quando o roteiro demanda momentos mais poderosos dos dois, não há como dizer que ambos não entreguem.
O problema é que, apesar de se esforçar para dar foco aos personagens, a produção esbarra em um limite de pouco mais de duas horas para estabelecer um arco dramático satisfatório. Os filmes anteriores de Chazelle eram muito focados nessas jornadas pessoais, que sempre funcionaram bem para desenvolver um clímax dramático, porém, First Man parece tropeçar um pouco em encaixar os acontecimentos retratados no filme com a estrutura tradicional de roteiro. O resultado é meio irregular em termos de ritmo e diminui o retorno emocional.
Assim, o filme se estende um pouco demais e deixa a parte que, teoricamente, seria mais importante – a missão à Lua – destituída de impacto. Inclusive, a produção optou por não mostrar um dos momentos mais emblemáticos da missão em prol de uma visão mais pessoal da situação. Com isso, quero dizer que First Man é absolutamente impressionante como cinema, mas não oferece um impacto emocional tão grande quanto o esperado.
O filme é lindo, detalhado e, certamente, oferece uma experiência cinematográfica e tanto. Ainda assim, eu esperava mais e sinto que a produção ficou aquém de suas ambições. Como um dos longas-metragens que abrem a temporada de premiações, First Man tinha tudo para sair na frente e se instituir como um dos favoritos do ano, mas faltou um pouco de espírito. No final das contas, o filme soa muito mais como um pequeno passo do que como um salto gigante para o cinema.
Outras divagações:
Whiplash
La La Land
Texto: Vinicius Ricardo Tomal
Edição: Renata Bossle
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