Divagações: Godzilla: King of the Monsters

Sempre tive uma pequena fascinação por filmes com monstros gigantes e efeitos especiais questionáveis. Isso é algo que vem me acompanhando...

Sempre tive uma pequena fascinação por filmes com monstros gigantes e efeitos especiais questionáveis. Isso é algo que vem me acompanhando a vida toda e, ainda que não seja velho o bastante para ter sido um fã da franquia Godzilla pela maior parte de seus 33 lançamentos, ainda me lembro vividamente de assistir alguns clássicos na televisão – como Gojira vs. Mosura –, e até mesmo de alugar o DVD de um recém lançado Gojira ni-sen mireniamu.*

Ainda assim, inicialmente optei por não ver Godzilla em 2014, já que minha experiência anterior com a versão americana do monstrengo não foi das melhores e as críticas da produção na época foram bem mornas (para dizer o mínimo). Mas o grande sucesso de Kong: Skull Island e a empolgação quase juvenil que tive quando vi aquela que seria a fundação para um “monstroverso” ao final do filme, fizeram com que eu desse uma nova chance à série. E eis que aqui estamos, cinco anos depois.

Em Godzilla: King of the Monsters descobrimos que a revelação de Godzilla e outros monstros titânicos para o mundo fizeram as coisas mudarem radicalmente. A Monarch, organização fundada com o propósito de estudar e conter as criaturas, ganhou força e também críticos no governo à medida que seus projetos se tornaram cada vez mais grandiosos.

Nesse cenário está a Dr.ª Emma Russel (Vera Farmiga), devidamente acompanhada por sua filha Madison (Millie Bobby Brown). Ela faz parte de uma equipe que estuda um titã em hibernação e os usos de um aparato capaz de estabelecer uma comunicação limitada com as criaturas. Um dia, a base de pesquisa é atacada pelo eco-terrorista Jonah Alan (Charles Dance), que sequestra a pesquisadora com o propósito de usar o aparelho para despertar os monstros e restabelecer o balanço natural do planeta. Com os titãs acordando por todo o mundo e o caos aumentando, a Monarch, comandada pelo Dr. Ishiro Serizawa (Ken Watanabe), resolve tomar providências. Para ajudar na empreitada, entra em cena Mark Russel (Kyle Chandler), ex-marido de Emma e um dos criadores do aparelho em questão.

Apesar da sinopse rocambolesca, todo mundo sabe que Godzilla: King of the Monsters não é exatamente sobre o sequestro e o resgate, mas sobre os monstros se batendo e destruindo tudo o que estiver no caminho deles. E garanto que não é à toa que o filme recebeu seu título!

A produção até dá bastante tempo para os dramas humanos, porém, ao contrário do que ocorre no longa-metragem anterior, não tem gente demais e monstro de menos. Sai um pouco do excesso de solenidade e entram algumas colheradas de galhofa e de leveza, o que deve apelar para um público específico. Ainda há o velho subtexto do monstro como metáfora – algo que acompanha toda a franquia –, mas, a essa altura, a mensagem ambientalista e de coexistência está tão batida que é difícil simplesmente achar que isso seja um ponto relevante.

O filme marca o retorno do monstro titular e, também, a primeira “aparição ocidental” de vários monstros clássicos da produtora japonesa Toho, como Mothra, Rodan e o principal antagonista, King Ghidorah. Este dragão de três cabeças, aliás, é o principal responsável pelas sequências visualmente impressionantes do filme, com seus poderes elétricos e sua paleta de cores amarelada, contrastando com o azul frio do Godzilla.

Por sinal, Godzilla: King of the Monsters aposta bastante na questão visual e não esconde seus monstros por um segundo. Ao não empregar truques para baratear o resultado, o longa-metragem funciona muito bem no IMAX, onde tive a sorte de ver esse filme sendo exibido – algo que adiciona bastante no senso de escala e poder.

Assim, enquanto Godzilla ainda era um filme com sensibilidades mais americanas na sua narrativa (o que deixava o ritmo um pouco arrastado), sua continuação está mais próxima das obras clássicas da franquia. Assim, mesmo sendo mais bobo, o filme também é mais empolgante de forma geral. O roteiro pesa um pouco a mão em algumas piadinhas, que nem sempre funcionam, e as tentativas de dar peso emocional para os personagens humanos tem variados graus de sucesso. Mas, nesse ponto, é preciso questionar exatamente qual é a motivação de quem vai ver o filme. Afinal, essas falhas podem ser irrelevantes se tudo o que o espectador quer é justamente a ação catártica de monstros se batendo.

Assim, minha maior questão está nos rumos que a franquia deve tomar a partir de agora. Godzilla vs. Kong já foi confirmado e, a princípio, deve estrear daqui a um ano. Mas, em relação a escala global que temos aqui – com um inimigo absurdamente icônico do lagartão –, King Kong parece um passo para trás e não sei se o encontro será capaz de empolgar. Para completar, também não acho que existem muitos caminhos a serem seguidos no futuro, já que as possibilidades narrativas a partir de agora parecem bem mais limitadas e devem tender à repetição.

Ainda assim, nunca se sabe! Hollywood pode muito bem pegar emprestado o conceito de Shin Gojira e fazer filmes dentro desse universo, mas que tenham um enfoque bem diferente. Admito que não estou tão confiante nesta possibilidade e acredito que, talvez, seja o caso de deixar Godzilla descansar enquanto o saldo ainda é positivo.

No final das contas, Godzilla: King of the Monsters está em um meio-termo esquisito entre seu predecessor e Kong: Skull Island (que, para mim, é um filme superior; mais audacioso visualmente e com personagens mais interessantes). Ele é bom o bastante para garantir a ida ao cinema, mas só se você está procurando por um longa-metragem que não tenha uma gota de vergonha em ser um filme do Godzilla. Esse é o tipo de produção que entrega exatamente aquilo a que se propõe, sem tirar nem pôr, e não faz nenhum favor para aclimatar quem acha sua proposta central idiota.

Outras divagações:
Kong: Skull Island

Texto: Vinicius Ricardo Tomal
Edição: Renata Bossle

* Por padrão, o Cinema de Novo adota a mesma grafia do site IMDb, ainda que ela nem sempre represente a adaptação mais adequada dos títulos japoneses.

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