Divagações: Kong: Skull Island

Mesmo que a contragosto, tenho que admitir que a era de ouro dos filmes de monstro já passou. Foi-se o tempo em que era comum ver atores c...

Mesmo que a contragosto, tenho que admitir que a era de ouro dos filmes de monstro já passou. Foi-se o tempo em que era comum ver atores com figurinos de borracha se digladiando sobre maquetes para o deleite da garotada – realizando aquela fantasia lúdica de destruição que quase todos tivemos. Ainda que Pacific Rim esteja aí para demonstrar que existe um público para esse tipo de obra (ainda mais quando você adiciona robôs gigantes à equação), Hollywood parecia determinada em fazer tudo errado quando se trata desse tipo de produção, esquecendo completamente o que as tornam cativantes para início de conversa e entregando melodramas densos demais para um conceito inerentemente estúpido.

Kong: Skull Island poderia muito bem seguir pelo mesmo caminho dos esquecíveis filmes de Godzilla produzidos de uns anos para cá ou do mal recebido King Kong de Peter Jackson, tremendamente ambicioso e igualmente criticado. Em invés disso, o filme resolve arriscar, jogando no lixo vários elementos que tornaram King Kong famoso em troca de um formato mais adequado ao público contemporâneo.

Passado nos anos 1970, logo no final da guerra do Vietnã, Kong: Skull Island se inicia com a ambiciosa expedição de dois cientistas, Bill Randa (John Goodman) e Houston Brooks (Corey Hawkins) para a recém-descoberta Ilha da Caveira, um local mítico e não mapeado pelo homem. A dupla acaba juntando uma equipe inesperada para a missão de reconhecimento, passando pelo ex-militar inglês James Conrad (Tom Hiddleston), a fotógrafa Mason Weaver (Brie Larson) e o coronel americano Preston Packard (Samuel L. Jackson) que, junto do seu esquadrão, aceita levar o grupo até a ilha.  Para a surpresa de todos (com exceção do próprio público), a ilha é habitada por todo o tipo de criatura colossal – e o primeiro encontro com Kong (Toby Kebbell) deixa os personagens ilhados e desesperados para voltar para casa.

Kong: Skull Island parece aprender com os erros dos seus antecessores recentes e destila o que há de mais interessante no formato, entregando um espetáculo visual e estilístico com uma pegada pulp que, mesmo carente de conteúdo, compensa com a forma. É possível ver que o diretor Jordan Vogt-Roberts teve um grande esmero em transformar seu filme em algo que merecia ser visto, dando um tom leve e descompromissado que casa muito bem com a ação frenética e a violência quase cartunesca que temos em tela.

O trabalho de cores do filme é realmente interessante e a direção, embora abuse de certas metáforas visuais meio óbvias de vez em quando, é competente o suficiente para deixar o filme coeso. Uma boa trilha sonora com um rock setentista e uma pegada de Apocalypse Now completam o pacote. Esse clima de videoclipe resulta em sequências verdadeiramente empolgantes, embora muito pouco significativas em termos de desenvolvimento de personagem – um conceito praticamente nulo nesse filme, mas que, convenhamos, nunca foi a sua prioridade.

Inclusive, esse problema é um pouco minimizado pelo elenco, que, apesar de subaproveitado, não deixa o filme cair demais na galhofa. Todo mundo interpreta um ‘tipo’ e nada além disso, mas é o suficiente. Tom Hiddleston é o típico machão estoico, Samuel L. Jackson é o militar atormentado pelo fim da guerra e de seu propósito e assim vai. Uma das poucas surpresas vem mais para o meio do filme com Hank Marlow (John C. Reilly), um piloto da Segunda Guerra que vive como um náufrago na ilha por 28 anos, entregando o que talvez seja o melhor personagem do longa-metragem e o que mais sai do padrão. Já o titular macacão que dá nome ao filme é menos romantizado que sua versão original, sendo mais fúria do que ingenuidade. Ainda que sirva como pretexto para toda a ação, Kong tem um design legal e é bem animado e expressivo, funcionando bem nas inevitáveis cenas de combate entre monstros gigantes.

Kong: Skull Island é intenso, divertido e descompromissado. É o tipo do filme com falhas óbvias, mas que não subtraem do ponto central a qual ele se propõe (apesar de não servir de nada para mudar a opinião de quem acha filmes de monstro uma perda de tempo).  Se você quer ver um filme pipoca que se esforça ao máximo para ser estiloso ao invés de contar uma história profunda, essa é uma alternativa segura, aliviando aquela coceira que os fãs tinham por um filme do gênero, ainda mais depois de ver a empolgante cena pós-créditos que promete boas coisas para uma possível franquia no futuro.

Texto: Vinicius Ricardo Tomal
Edição: Renata Bossle

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