Divagações: Kubo and the Two Strings

Apesar de ter sido indicado a dois prêmios no Oscar e de sempre ser lembrado como uma das melhores surpresas de 2016, Kubo and the Two Str...

Apesar de ter sido indicado a dois prêmios no Oscar e de sempre ser lembrado como uma das melhores surpresas de 2016, Kubo and the Two Strings não foi exatamente bem nas bilheterias e passou praticamente batido pelos cinemas brasileiros. Quem “descobre” o filme, no entanto, pode mergulhar nas deliciosas surpresas que ele guarda.

Visualmente e tecnicamente, isso é inegável – seguindo o padrão do Laika Entertainment. Uma homenagem à cultura e ao cinema japonês, a produção é de uma riqueza de detalhes que realmente impressiona, de modo que não são apenas as crianças que ficam encantadas. Para completar, o filme bateu o recorde de stop-motion mais longo lançado até então e também conta com o maior boneco já feito para uma animação com a técnica (o esqueleto possui mais de cinco metros!).

Em relação à história, eu suponho que Kubo and the Two Strings pode dividir opiniões. Muitas “surpresas” ficam claras à quilômetros de distância e há entrelinhas que são mais pesadas que o necessário (ainda mais considerando que se trata de uma aventura fantástica e não de um drama). Ainda assim, o filme se sai bem por trazer algo diferente para a tela, ainda mais tratando-se de uma animação. Convenhamos que a originalidade anda em falta.

Mas vamos à história em si! Kubo (Art Parkinson) é um menino que vive em uma caverna e precisa cuidar de sua mãe, mas passa boa parte do dia em um vilarejo próximo, onde conta histórias acompanhado pelos sons de um shamisen e por seus poderes mágicos. Contudo, ele é proibido de ficar por lá após o pôr do sol, pois sua mãe tem uma origem mística e a família dela os persegue pela noite desde que o menino nasceu. Mesmo consciente disso, ele se arrisca em uma tentativa de se comunicar com seu falecido pai.

Como consequência, Kubo precisa fugir definitivamente e assumir a busca de seu pai por três itens mágicos: uma espada, uma armadura e um capacete. Nessa aventura, ele conta com a inesperada companhia de um amuleto em forma de macaco que ganha vida (Charlize Theron) e de um homem-besouro amaldiçoado e sem memória (Matthew McConaughey). No encalço do grupo, por sua vez, estão as assustadoras tias do menino (Rooney Mara) e seu misterioso avô (Ralph Fiennes).

Nessa jornada, eles enfrentam monstros e passam por uma série de perrengues. A despeito dos personagens, tudo o que acontece é um deleite para os olhos, com uma animação muito fluida e diversas criaturas mágicas impressionantes. Os belos cenários e o design de personagens caprichado, claro, também ajudam.

Mas esse não é o seu típico filme hollywoodiano, o que também justifica a recepção morna que a produção teve. Kubo and the Two Strings não parte para uma conclusão tradicional de “final feliz” e isso pode confundir muita gente. O filme – que, aliás, marcou a estreia do diretor Travis Knight no comando – opta por permanecer fiel a seu estilo e a suas referências, dando um inevitável ar melancólico ao protagonista. Ainda assim, há uma forte mensagem em prol de recomeços, segundas chances e, especialmente, perdão e tolerância.

Para completar, vale dizer que o momento em que o inesperado título passa a fazer todo o sentido é também uma das sequências mais bonitas que assisti em um bom tempo. Ele é de uma força narrativa – simbólica e catártica – muito grande, garantindo que existem cabeças verdadeiramente pensantes nesse mundo do cinema, capazes de criar histórias que são fantásticas em mais de um sentido.

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