Divagações: The Lady in the Van
11.9.19
Quantos moradores de rua você conhece? Assim... Conhece de verdade? Eu confesso que já tive boas conversas com alguns, mas nunca a ponto de conviver por um período prolongado, chamar de amigo ou convidar para comer um bolinho na minha casa.
Pois o dramaturgo Alan Bennett – autor do material original e, também, roteirista de The Lady in the Van – não só conheceu como acabou assumindo responsabilidades para o bem-estar de uma senhora sem casa que, um belo dia, simplesmente estacionou sua van no outro lado da rua. Essa história é acompanhada por uma boa dose de relutância, muita paciência, a necessidade de refletir sobre si mesmo, o outro e o mundo, além de uma pitada de humor inglês.
Assim, The Lady in the Van acompanha a improvável amizade entre Alan (Alex Jennings) e sua “vizinha” Miss Shepherd (Maggie Smith), se é que a relação entre os dois pode ser chamada assim. Ao longo de longos anos, eles se aproximam e Alan – não sem não um bocado de culpa – frequentemente compara aquela senhorinha fedida e incômoda com sua própria mãe (Gwen Taylor), com quem ele pouco convive. Não é uma “troca” da qual ele se orgulha, mas foi algo que a vida colocou em seu caminho.
Ao mesmo tempo, ele também vai coletando pequenas informações sobre a misteriosa senhora, como seu passado como pianista, freira e motorista de ambulância durante a 2ª Guerra Mundial. Cada detalhe acaba fazendo ajudando a desvendar motivações para os comportamentos muitas vezes bizarros de Miss Shepherd, incluindo sua ojeriza por música e o fervor de suas preces. Ainda assim, o fato dela morar em uma van e ter um medo absurdo de policiais permanece sendo um assunto delicado.
Aliás, “delicadeza” é uma palavra importante em The Lady in the Van. A princípio, a protagonista é uma pessoa excêntrica, tratada como uma espécie de mascote pelos moradores do bairro londrino de Camden – uma área residencial que se desenvolveu no começo dos anos 1970, justamente quando a história se passa, e que se tornou um refúgio para artistas. Com o tempo, no entanto, ela é efetivamente adotada pelas pessoas da rua onde se estabeleceu, algo que ela parece desmerecer com sua personalidade fria e distante, mas que, no final das contas, apenas fortalece o senso de comunidade (vale acrescentar: as filmagens aconteceram no local real onde a história se passa).
Inclusive, apesar da história tratar basicamente da dinâmica entre Alan, ele mesmo e Miss Shepherd, a produção possui um elenco repleto de grandes atores britânicos, ainda que vários não tenham mais do que alguns minutos de tela. Entre as participações especiais estão Jim Broadbent, Frances de la Tour, Dominic Cooper, Claire Foy, Nicholas Burns e James Corden.
Mas é claro que Maggie Smith merece todos os holofotes. Ela constrói sua personagem camada a camada, aproveitando-se muito bem da oportunidade de trazer para o cinema uma figura para a qual muitas pessoas não direcionariam um segundo olhar na rua. A atriz se transforma nessa mulher que poderia ser repulsiva, mas que é estranhamente fascinante, sendo capaz de afastar as pessoas que procuram ajudá-la ao mesmo tempo em que sempre dá um jeitinho de conseguir aquilo que quer – o que pode envolver até mesmo uma van nova.
Ainda assim, o “coração” de The Lady in the Van pertence ao personagem de Alex Jennings – inclusive, o diretor Nicholas Hytner não é um novato quando se trata de lidar com o texto de Alan Bennet, já tendo comandado The History Boys e The Madness of King George. De qualquer forma, essa escolha narrativa não deixa de ser uma contradição, já que Alan é o mais racional da dupla de protagonistas. Sua personalidade extremamente reflexiva e frequentemente insegura acaba ditando o tom da produção, o que pode afastar quem busca por algo mais leve ou fácil. Em contrapartida, não dá para negar que o resultado é bastante pessoal e único.
Pois o dramaturgo Alan Bennett – autor do material original e, também, roteirista de The Lady in the Van – não só conheceu como acabou assumindo responsabilidades para o bem-estar de uma senhora sem casa que, um belo dia, simplesmente estacionou sua van no outro lado da rua. Essa história é acompanhada por uma boa dose de relutância, muita paciência, a necessidade de refletir sobre si mesmo, o outro e o mundo, além de uma pitada de humor inglês.
Assim, The Lady in the Van acompanha a improvável amizade entre Alan (Alex Jennings) e sua “vizinha” Miss Shepherd (Maggie Smith), se é que a relação entre os dois pode ser chamada assim. Ao longo de longos anos, eles se aproximam e Alan – não sem não um bocado de culpa – frequentemente compara aquela senhorinha fedida e incômoda com sua própria mãe (Gwen Taylor), com quem ele pouco convive. Não é uma “troca” da qual ele se orgulha, mas foi algo que a vida colocou em seu caminho.
Ao mesmo tempo, ele também vai coletando pequenas informações sobre a misteriosa senhora, como seu passado como pianista, freira e motorista de ambulância durante a 2ª Guerra Mundial. Cada detalhe acaba fazendo ajudando a desvendar motivações para os comportamentos muitas vezes bizarros de Miss Shepherd, incluindo sua ojeriza por música e o fervor de suas preces. Ainda assim, o fato dela morar em uma van e ter um medo absurdo de policiais permanece sendo um assunto delicado.
Aliás, “delicadeza” é uma palavra importante em The Lady in the Van. A princípio, a protagonista é uma pessoa excêntrica, tratada como uma espécie de mascote pelos moradores do bairro londrino de Camden – uma área residencial que se desenvolveu no começo dos anos 1970, justamente quando a história se passa, e que se tornou um refúgio para artistas. Com o tempo, no entanto, ela é efetivamente adotada pelas pessoas da rua onde se estabeleceu, algo que ela parece desmerecer com sua personalidade fria e distante, mas que, no final das contas, apenas fortalece o senso de comunidade (vale acrescentar: as filmagens aconteceram no local real onde a história se passa).
Inclusive, apesar da história tratar basicamente da dinâmica entre Alan, ele mesmo e Miss Shepherd, a produção possui um elenco repleto de grandes atores britânicos, ainda que vários não tenham mais do que alguns minutos de tela. Entre as participações especiais estão Jim Broadbent, Frances de la Tour, Dominic Cooper, Claire Foy, Nicholas Burns e James Corden.
Mas é claro que Maggie Smith merece todos os holofotes. Ela constrói sua personagem camada a camada, aproveitando-se muito bem da oportunidade de trazer para o cinema uma figura para a qual muitas pessoas não direcionariam um segundo olhar na rua. A atriz se transforma nessa mulher que poderia ser repulsiva, mas que é estranhamente fascinante, sendo capaz de afastar as pessoas que procuram ajudá-la ao mesmo tempo em que sempre dá um jeitinho de conseguir aquilo que quer – o que pode envolver até mesmo uma van nova.
Ainda assim, o “coração” de The Lady in the Van pertence ao personagem de Alex Jennings – inclusive, o diretor Nicholas Hytner não é um novato quando se trata de lidar com o texto de Alan Bennet, já tendo comandado The History Boys e The Madness of King George. De qualquer forma, essa escolha narrativa não deixa de ser uma contradição, já que Alan é o mais racional da dupla de protagonistas. Sua personalidade extremamente reflexiva e frequentemente insegura acaba ditando o tom da produção, o que pode afastar quem busca por algo mais leve ou fácil. Em contrapartida, não dá para negar que o resultado é bastante pessoal e único.
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