Divagações: Brooklyn
4.12.19
Com uma natureza inerentemente piegas, romances estão cada vez mais raros no cinema – especialmente se você realmente busca pelo lado mais meloso da questão. Além disso, é particularmente difícil encontrar romances dramáticos que não caiam para um melodrama. Se for de época, então, piorou!
Não que Brooklyn seja um grande exemplar do gênero (ou sequer queira ser!), mas seu caráter mais intimista e o foco na vida pessoal de uma mulher jovem acabaram trazendo consigo um frescor nostálgico (se é que isso faz sentido!). De qualquer modo, fica claro o quanto ele se destoa na comparação com os outros concorrentes a Melhor Filme no Oscar de 2016: aquele era o ano de Mad Max: Fury Road, Room, The Revenant, The Martian, The Big Short, Bridge of Spies e, claro, Spotlight. Por mais que as histórias de época estivessem em alta, era um momento mais acelerado e desesperado.
E Brooklyn está no meio disso tudo. O roteiro é a adaptação de um livro de relativo sucesso, feita por Nick Hornby (que, convenhamos, raramente decepciona), e que segue o período de adaptação de uma jovem imigrante.
A história se passa nos anos 1950, quando a vida na Irlanda não estava fácil. Nesse contexto, a jovem Eilis (Saoirse Ronan) é convencida por sua irmã mais velha (Fiona Glascott) e por um padre amigo da família (Jim Broadbent) a ir para os Estados Unidos. Lá, ela passa a morar na pensão de uma senhora controladora, porém carinhosa (Julie Walters), e a trabalhar em uma loja de departamentos. O começo é difícil, mas não demora muito para ela começar a pensar no futuro, voltando a estudar; no processo, Eilis até mesmo arranja um namorado, Tony (Emory Cohen).
Porém, uma tragédia familiar a faz voltar para a Irlanda, onde uma nova realidade, muito mais esperançosa, a espera. Para completar, velhas amizades, o convívio com a mãe (Jane Brennan) e a possibilidade de um novo romance com um rapaz de sua cidade, Jim Farrell (Domhnall Gleeson), a fazem questionar sua vida de imigrante.
Com isso, não é preciso ser um gênio para perceber que Brooklyn não é um daqueles filmes que vão te deixar sentado na pontinha da cadeira. Ao mesmo tempo, essa poderia ser a história da sua avó ou se assemelhar a algo que você busca para si mesmo, por exemplo. E a produção conta que você sinta algo assim, afinal, o filme é lento, introspectivo e depende que você desenvolva algum grau de empatia pela protagonista.
Para completar, o filme se coloca como uma história de época por meio de um visual e uma montagem que remetem com muita força aos anos 1950 e 1960. É um jeito curioso de compensar uma temática que não seria abordada dessa forma na época. Digo isso porque a produção dá espaço para que Eilis tenha sonhos, ambições e angústias que vão muito além de sua relação com as pessoas do sexo oposto. Assim, os romances que ela vive não são exatamente arrebatadores, mas combinam com sua personalidade.
Entretanto, deixo aqui uma ressalva. Aparentemente, o livro de Colm Tóibín explora o relacionamento entre Eilis e Jim de uma forma bastante diferente. Embora eu não tenha lido a obra original, acredito que realmente faltou uma aproximação mais palpável entre os dois, de modo a dar um peso maior às decisões que estão adiante da personagem, seja para um lado ou para o outro. Convenhamos que não há um “certo” ou um “errado” para Eilis, o que torna o dilema dela ainda mais interessante.
Assim, com um jeitinho de antiquado, Brooklyn acaba trabalhando com temas importantes da atualidade, sendo capaz de fazer as pessoas questionarem conceitos ao, simplesmente, colocá-los sob um outro ângulo. Mas é preciso estar disposto a enxergar algo que vá além das saias volumosas, dos cabelos impecáveis, dos sotaques charmosos e do triângulo amoroso que, no final das contas, é o que menos importa (até mesmo porque não há uma rivalidade real entre os dois rapazes). O filme é um romance, sim, mas ele lida com os dilemas de um único coração.
Não que Brooklyn seja um grande exemplar do gênero (ou sequer queira ser!), mas seu caráter mais intimista e o foco na vida pessoal de uma mulher jovem acabaram trazendo consigo um frescor nostálgico (se é que isso faz sentido!). De qualquer modo, fica claro o quanto ele se destoa na comparação com os outros concorrentes a Melhor Filme no Oscar de 2016: aquele era o ano de Mad Max: Fury Road, Room, The Revenant, The Martian, The Big Short, Bridge of Spies e, claro, Spotlight. Por mais que as histórias de época estivessem em alta, era um momento mais acelerado e desesperado.
E Brooklyn está no meio disso tudo. O roteiro é a adaptação de um livro de relativo sucesso, feita por Nick Hornby (que, convenhamos, raramente decepciona), e que segue o período de adaptação de uma jovem imigrante.
A história se passa nos anos 1950, quando a vida na Irlanda não estava fácil. Nesse contexto, a jovem Eilis (Saoirse Ronan) é convencida por sua irmã mais velha (Fiona Glascott) e por um padre amigo da família (Jim Broadbent) a ir para os Estados Unidos. Lá, ela passa a morar na pensão de uma senhora controladora, porém carinhosa (Julie Walters), e a trabalhar em uma loja de departamentos. O começo é difícil, mas não demora muito para ela começar a pensar no futuro, voltando a estudar; no processo, Eilis até mesmo arranja um namorado, Tony (Emory Cohen).
Porém, uma tragédia familiar a faz voltar para a Irlanda, onde uma nova realidade, muito mais esperançosa, a espera. Para completar, velhas amizades, o convívio com a mãe (Jane Brennan) e a possibilidade de um novo romance com um rapaz de sua cidade, Jim Farrell (Domhnall Gleeson), a fazem questionar sua vida de imigrante.
Com isso, não é preciso ser um gênio para perceber que Brooklyn não é um daqueles filmes que vão te deixar sentado na pontinha da cadeira. Ao mesmo tempo, essa poderia ser a história da sua avó ou se assemelhar a algo que você busca para si mesmo, por exemplo. E a produção conta que você sinta algo assim, afinal, o filme é lento, introspectivo e depende que você desenvolva algum grau de empatia pela protagonista.
Para completar, o filme se coloca como uma história de época por meio de um visual e uma montagem que remetem com muita força aos anos 1950 e 1960. É um jeito curioso de compensar uma temática que não seria abordada dessa forma na época. Digo isso porque a produção dá espaço para que Eilis tenha sonhos, ambições e angústias que vão muito além de sua relação com as pessoas do sexo oposto. Assim, os romances que ela vive não são exatamente arrebatadores, mas combinam com sua personalidade.
Entretanto, deixo aqui uma ressalva. Aparentemente, o livro de Colm Tóibín explora o relacionamento entre Eilis e Jim de uma forma bastante diferente. Embora eu não tenha lido a obra original, acredito que realmente faltou uma aproximação mais palpável entre os dois, de modo a dar um peso maior às decisões que estão adiante da personagem, seja para um lado ou para o outro. Convenhamos que não há um “certo” ou um “errado” para Eilis, o que torna o dilema dela ainda mais interessante.
Assim, com um jeitinho de antiquado, Brooklyn acaba trabalhando com temas importantes da atualidade, sendo capaz de fazer as pessoas questionarem conceitos ao, simplesmente, colocá-los sob um outro ângulo. Mas é preciso estar disposto a enxergar algo que vá além das saias volumosas, dos cabelos impecáveis, dos sotaques charmosos e do triângulo amoroso que, no final das contas, é o que menos importa (até mesmo porque não há uma rivalidade real entre os dois rapazes). O filme é um romance, sim, mas ele lida com os dilemas de um único coração.
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