Divagações: John & Yoko: Above Us Only Sky

Não lembro quando foi a primeira vez que eu ouvi Imagine, mas eu com certeza já conhecia a música na primeira vez em que parei para tentar...

Não lembro quando foi a primeira vez que eu ouvi Imagine, mas eu com certeza já conhecia a música na primeira vez em que parei para tentar entender a letra. Mesmo sem falar inglês, aquela mensagem me cativou por completo, verso por verso. Aquela música trazia a resposta para os problemas do mundo, trazia a mentalidade ideal.

Muitos anos se passaram e eu, infelizmente, não sou mais tão inocente. Ainda assim, admito que a canção ainda me fascina. E fico feliz em saber que não sou a única – ou não existiria um documentário como John & Yoko: Above Us Only Sky.

O filme, na verdade, aborda o período de produção de todo o álbum em que está esta música, com o famoso casal vivendo em uma bucólica mansão no interior da Inglaterra. Enquanto as crianças brincavam na imensa área verde, vemos John Lennon e Yoko Ono lendo jornais especializados em música e arte. E, de repente, um estúdio é montado no anexo, músicos começam a chegar e letras começam a ser simplesmente declamadas – já com acordes definidos, mas ainda abertas à colaboração dos presentes.

Intercalado com entrevistas recentes com alguns dos presentes, John & Yoko: Above Us Only Sky aproveita o contexto para, devagarinho, explorar o relacionamento de seus dois “protagonistas”. A princípio, ela é retratada como uma mulher quieta, frequentemente sentada no chão ou olhando para baixo, que fala praticamente em sussurros e é constantemente interrompida. Aos poucos, é possível perceber que ela está sempre presente, que suas sugestões são efetivamente ouvidas e são verdadeiramente respeitadas por Lennon.

Com isso estabelecido, a produção chega a se afastar um pouco da produção do álbum para tratar mais abertamente do relacionamento dos dois, tentando explicar como surgiu o interesse dele por ela. Afinal, todos sabemos que John Lennon é uma pessoa fascinante, mas quem exatamente é Yoko Ono? Digo... Além de ser a mulher que destruiu os Beatles.

Aliás, a “tese” defendida aqui – e que eu julgo plausível, embora não tenha me aprofundado muito no tema para poder ter certeza – é de que muito da imagem pública de Ono é derivada de preconceito racial (sim, por ela ser uma estrangeira que “roubou” o menino de ouro da Inglaterra) e que os problemas da banda precediam sua chegada. Obviamente, os dois viveram momentos muito loucos nos anos 1970, mas não podemos dizer que ele já não era uma figura propensa a esses rompantes (no sentido de que ele não dependia de uma artista maluquinha para colocar em prática sua própria excentricidade).

Um dos meus momentos favoritos, aliás, envolve Ono explicando uma de suas primeiras ideias artísticas. Aos seis anos, ela imaginou o que aconteceria se todas as sementes do mundo fossem cortadas ao meio e reunidas de forma embaralhada, dando origem a uma diversidade absurda de plantas “mistas”.

Outro ponto defendido no filme é que a artista teve um papel fundamental na própria letra de Imagine. Para isso, são feitos paralelos com poesias escritas por ela na mesma época e são apresentadas entrevistas dadas, na época, por John Lennon e, mais recentemente, pela própria Yoko Ono.

De qualquer modo, mesmo se você não quiser embarcar nessa mensagem, John & Yoko: Above Us Only Sky traz um interessante mergulho na vida de um músico que foi absolutamente fascinante. A produção mostra seu processo criativo e a forma como interagia com os músicos, além de ter uma série de cenas com Lennon cantando e tocando maravilhosamente. Para quem, como eu, já estava propensa a se apaixonar, este é um prato cheio.

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