Divagações: Salt of the Earth (1954)
22.9.21
Em seus mais de 100 anos de história, o cinema rendeu um número imenso de bobagens. Mas os filmes que sobrevivem ao tempo e são lembrados pela posteridade trazem algo de mágico e tocante. É o caso de Salt of the Earth, uma obra de 1954 que pode não ser frequentemente citada como um dos “grandes clássicos da sétima arte”, mas que possui características tão únicas quanto maravilhosas.
Para começar, a produção em si tem uma história interessante. Baseada em acontecimentos reais, ela foi filmada próximo ao local onde tudo aconteceu e muitos dos atores estão interpretando versões de si mesmos – inclusive o protagonista, Ramon Quintero (Juan Chacón). Outro aspecto interessante é a constante presença do espanhol, um aspecto da cultura local que não era valorizado à época (e ainda não é, convenhamos).
Além disso, Salt of the Earth é um longa-metragem abertamente pró-comunista, a ponto de ter sido o único filme a entrar na “lista negra” do governo dos Estados Unidos. Entre seus realizadores, quatro estavam proibidos de trabalhar em Hollywood: o diretor Herbert J. Biberman, o roteirista Michael Wilson, o produtor Paul Jarrico e o compositor Sol Kaplan. Para completar, a maior estrela da produção – a atriz mexicana Rosaura Revueltas – foi deportada no meio das filmagens e nunca mais pôde filmar nos Estados Unidos.
A história em si envolve uma greve de mineradores de zinco que aconteceu no estado do Novo México, no começo da década de 1950. As principais reivindicações dos grevistas envolviam a igualdade de tratamento entre os funcionários locais e os de origem inglesa, especialmente em relação a condições de trabalho. Os patrões, no entanto, se negavam sequer a negociar com eles.
Para completar, quando uma determinação judicial impediu os trabalhadores de realizar piquetes, suas esposas tomaram à frente dos protestos, impedindo a retomada das atividades no local. Ao tomarem essa decisão, elas precisaram passar a enfrentar não apenas a polícia, mas também seus próprios maridos, já que viviam em uma sociedade muito machista. Os homens, por sua vez, se viram obrigados a assumir diversas tarefas do lar e passaram a ver com outros olhos as reivindicações que suas esposas queriam incluir nas negociações com o proprietário da mina.
Sob muitos aspectos, Salt of the Earth é sobre o poder da teimosia e o surgimento da esperança. Embora os trabalhadores acreditassem que tinham um baixo poder de barganha com os patrões – e tinham mesmo – sua história de resistência inspirou a outros grupos. Ao mesmo tempo em que eram auxiliados pelo sindicato e por comunidades próximas (ou não), eles também espalhavam uma mensagem que passava a ser considerada perigosa.
Político desde a sua concepção, o longa-metragem tem muitas lições a ensinar. Sua história trata sobre a importância da representação dos trabalhadores e da luta feminina, entre outros temas. Sob muitos aspectos, a produção tem um ar amador, seja em sua narrativa (parcialmente adaptada pela ausência da atriz deportada no meio das filmagens), seja nas atuações, seja em aspectos técnicos (afinal, foi uma produção realmente independente dos grandes estúdios). Ainda assim, o filme foi capaz de resistir ao tempo e seguir relevante. Mais de 60 anos depois, a luta por igualdade segue sendo uma das principais bandeiras de quem ainda resiste.
A propósito, Salt of the Earth está em domínio público e pode ser visto gratuitamente. Clique aqui!
Para começar, a produção em si tem uma história interessante. Baseada em acontecimentos reais, ela foi filmada próximo ao local onde tudo aconteceu e muitos dos atores estão interpretando versões de si mesmos – inclusive o protagonista, Ramon Quintero (Juan Chacón). Outro aspecto interessante é a constante presença do espanhol, um aspecto da cultura local que não era valorizado à época (e ainda não é, convenhamos).
Além disso, Salt of the Earth é um longa-metragem abertamente pró-comunista, a ponto de ter sido o único filme a entrar na “lista negra” do governo dos Estados Unidos. Entre seus realizadores, quatro estavam proibidos de trabalhar em Hollywood: o diretor Herbert J. Biberman, o roteirista Michael Wilson, o produtor Paul Jarrico e o compositor Sol Kaplan. Para completar, a maior estrela da produção – a atriz mexicana Rosaura Revueltas – foi deportada no meio das filmagens e nunca mais pôde filmar nos Estados Unidos.
A história em si envolve uma greve de mineradores de zinco que aconteceu no estado do Novo México, no começo da década de 1950. As principais reivindicações dos grevistas envolviam a igualdade de tratamento entre os funcionários locais e os de origem inglesa, especialmente em relação a condições de trabalho. Os patrões, no entanto, se negavam sequer a negociar com eles.
Para completar, quando uma determinação judicial impediu os trabalhadores de realizar piquetes, suas esposas tomaram à frente dos protestos, impedindo a retomada das atividades no local. Ao tomarem essa decisão, elas precisaram passar a enfrentar não apenas a polícia, mas também seus próprios maridos, já que viviam em uma sociedade muito machista. Os homens, por sua vez, se viram obrigados a assumir diversas tarefas do lar e passaram a ver com outros olhos as reivindicações que suas esposas queriam incluir nas negociações com o proprietário da mina.
Sob muitos aspectos, Salt of the Earth é sobre o poder da teimosia e o surgimento da esperança. Embora os trabalhadores acreditassem que tinham um baixo poder de barganha com os patrões – e tinham mesmo – sua história de resistência inspirou a outros grupos. Ao mesmo tempo em que eram auxiliados pelo sindicato e por comunidades próximas (ou não), eles também espalhavam uma mensagem que passava a ser considerada perigosa.
Político desde a sua concepção, o longa-metragem tem muitas lições a ensinar. Sua história trata sobre a importância da representação dos trabalhadores e da luta feminina, entre outros temas. Sob muitos aspectos, a produção tem um ar amador, seja em sua narrativa (parcialmente adaptada pela ausência da atriz deportada no meio das filmagens), seja nas atuações, seja em aspectos técnicos (afinal, foi uma produção realmente independente dos grandes estúdios). Ainda assim, o filme foi capaz de resistir ao tempo e seguir relevante. Mais de 60 anos depois, a luta por igualdade segue sendo uma das principais bandeiras de quem ainda resiste.
A propósito, Salt of the Earth está em domínio público e pode ser visto gratuitamente. Clique aqui!
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